Variedades

A Origem do Dragão coloca Lee como antagonista

*Artigo escrito por Daniel Bydlowski para o jornal Diário de Pernambuco

Filmes de lutas marciais, especialmente aqueles com impressionante coreografia e atuação, sempre são bem-vindos à telona. Porém, quando se juntam a figura legendária de Bruce Lee, tem o potencial de não somente agradar a todos, como também entrar para a história do gênero.

Embora muitos acreditem que Bruce Lee tenha nascido em Hong Kong, o famoso lutador nasceu em São Francisco em 1940. Quando tinha meses de idade, seus pais retornaram com ele para Hong Kong. Mesmo com a mãe e o pai afluentes, a situação de Lee na Ásia se deteriorava quando seu bairro se tornava cada vez mais povoado e mais perigoso. Quando Lee se envolveu em brigas de rua, seus pais decidiram que era importante o garoto aprender artes marciais, e assim começou sua principal paixão. E também foi com esta bagagem que Lee retornou aos Estados Unidos com 18 anos de idade.

Embora tenha passado a maior parte de sua infância e adolescência em Hong Kong, Bruce Lee é uma lenda americana das artes marciais, virando personalidade da televisão, com O Besouro Verde, e no cinema com outros filmes. Assim, é interessante vermos como A Origem do Dragão, produzido não somente pelos Estados Unidos e Canadá mas também pela China, lida com a história de Lee.

O tema central do enredo do filme A Origem do Dragão é a luta real e misteriosa entre Bruce Lee e Wong Jack Man, um monge que ensinava T’ai chi ch’uan em Shaolin e que depois se mudaria para São Francisco, encontrando o lutador. Tentando se proteger contra críticos quanto a mudanças falsas em relação a este acontecimento, o longa metragem começa com um letreiro indicando que é apenas inspirado nesta luta. Porém, as cenas acabam sendo tão irreais a ponto de tornar a obra cômica.  A produção tem uma grande falta de sensibilidade e, embora tenha em seu título a referência a Bruce Lee (a palavra “dragão”, que faz parte de títulos de seus filmes), o herói da produção é o chinês Wong Jack Man.

Bruce Lee, interpretado por Philip Ng, começa bem, interessado tanto na sua carreira como na vida pessoal de seus alunos. Porém, assim que Wong aparece, Lee muda sua personalidade do nada. Enquanto Wong é nobre e altruísta, Lee somente quer aparecer como estrela de cinema. O astro se torna claramente um personagem secundário e cheio de si. Sua arrogância é tanta que acaba se tornando o antagonista da história, enquanto Wong é aquele que mostra o caminho certo.

A luta entre os dois continua este cenário e indica que Wong não somente é um lutador superior a Lee, mas também possui habilidades incríveis como o poder cômico de flutuar quando salta de grandes alturas, feito copiado logo após por Lee. Todos então se perguntam: Se Wong é tão melhor do que Lee, como foi que o último se tornou uma lenda? A resposta está no final da luta, quando os dois começam a se entender e Wong ensina a Lee suas técnicas. É por meio de Wong, então, que Lee se torna uma lenda.

Como se não bastasse, a história não deixa somente Lee em segundo plano, mas também a própria luta. Depois do confronto, os dois se unem para ajudar um aluno de Lee, pois este teve sua namorada raptada pela máfia chinesa em São Francisco. Personagens fictícios, então, tiveram mais importância do que eventos reais em uma luta que, na realidade, foi ganha facilmente por Bruce Lee.

Daniel Bydlowski é cineasta brasileiro e artista de realidade virtual com Masters of Fine Arts pela University of Southern California e doutorando na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. É membro do Directors Guild of America. Trabalhou ao lado de grandes nomes da indústria cinematográfica como Mark Jonathan Harris e Marsha Kinder em projetos com temas sociais importantes. Seu filme NanoEden, primeiro longa em realidade virtual em 3D, estreia em breve.

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