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Processo para tingimento de tecidos de poliéster reduz uso de corante pela metade

Novo tratamento poderia cortar custos e reduzir o impacto ambiental causado pela indústria têxtil

O poliéster é o tecido sintético mais utilizado no mundo. De baixo custo e grande versatilidade, ele apresenta muitas vantagens, sendo um tecido resistente a rugas, fácil de lavar e de alta durabilidade. Mas, apesar das vantagens, o poliéster tem um importante problema. Devido à sua baixa capacidade para interagir com moléculas de água, o processo de tingimento requer altas temperaturas e grandes concentrações de corante. Mas, de acordo com os resultados obtidos por José Geraldo De Carvalho durante a sua tese desenvolvida no Departamento de Engenharia de Materiais e Bioprocessos da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp, é possível aumentar a eficiência do tingimento do poliéster submetendo previamente o tecido a um processo chamado ‘tratamento corona’. “Fazendo as medições de cores com e sem ‘tratamento corona’, nós observamos que, com o tratamento, conseguimos atingir uma mesma cor usando metade da concentração de corante”, afirma De Carvalho. O achado, portanto, pode ter importantes aplicações na indústria.

Plasma

O tratamento corona utiliza ar em forma de plasma, um estado físico similar ao gás no qual uma parte das partículas se encontra ionizada, ou seja, eletricamente carregada. Quando o plasma é dirigido contra uma superfície, as partículas carregadas reagem com as moléculas da superfície, alterando a sua estrutura. Isto é especialmente útil no caso de materiais poliméricos, muitos dos quais não interagem bem com a água. O plasma modifica a estrutura das moléculas da superfície e cria pontos nos quais as moléculas de água podem se ancorar.

Em tecidos poliméricos, como o poliéster, a capacidade para absorver água é fundamental para os chamados “processos de beneficiamento”, ou seja, tratamentos como o tingimento ou a estampagem, que melhoram as caraterísticas do tecido, aumentando o valor agregado. No caso do tingimento, quanto maior é a capacidade do tecido de interagir com líquidos, a chamada “molhabilidade”, mais eficiente é o processo.

“O aumento da molhabilidade [pelo tratamento corona] poderia trazer uma redução considerável de quantidade de corante no processo de tingimento. Isso poderia reduzir custo, mas também o impacto ambiental,” explica De Carvalho, lembrando que os corantes químicos são substâncias altamente tóxicas e que seu descarte constitui o principal resíduo gerado pela indústria têxtil.

Pesquisa com aplicação

Há bastante tempo que o ‘tratamento corona” vem sendo utilizado em diversas superfícies, mas o seu uso em substratos têxteis é mais recente. “No Brasil o estudo de aplicação de plasma em têxtil começou há 12 anos com o grupo de estudo do professor João Sinézio, no qual foi realizada a minha tese”, explica De Carvalho. “Mas existem muitos estudos no mundo afora, e até esses resultados de aumento de molhabilidade já tinham sido observados. O novo do nosso estudo é a sua aplicação em um processo real”.

De fato, o grupo do professor Sinézio se tem destacado por realizar pesquisas com grande aplicação na indústria. Dentre os trabalhos recentes destaca-se a validação de um processo de reciclagem para embalagens multicamadas e o desenvolvimento de uma técnica para tratar efluentes industriais. Para Sinézio, é muito importante devolver à sociedade o trabalho realizado na universidade. Para isso ele acredita que é necessário apostar na comunicação, “até porque muitas vezes as empresas não sabem o que a universidade está desenvolvendo”.

Próximo de aposentar-se, um dos últimos trabalhos que está supervisando visa aplicar o “tratamento corona” a fibras de seda, como forma de reaproveitar casulos que atualmente são considerados de baixa qualidade. Ele acredita que essa pesquisa poderá ser utilizada por pequenas empresas. “Todos os trabalhos desenvolvidos na academia são importantes. Sempre têm uma aplicação”, conclui.

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