Saúde

Cardiologista dá dicas de como cuidar do coração nos dias da Copa

As oitavas de final do Mundial da França, em 1998, fizeram muitos corações sofrerem, sobretudo os dos ingleses. O jogo entre Inglaterra e Argentina terminou em 2 a 2 e foi para os pênaltis, com a vitória dos hermanos por 4 a 3. Uma pesquisa publicada pelo periódico científico Bristish Medical Journal mostrou que houve um aumento de 25% no número de internações por infarto agudo do miocárdio no dia da derrota e nos dois seguintes na terra de Shakespeare. A conclusão do estudo sugere que uma baita chateação emocional, como assistir ao seu time do peito perder uma partida importante, pode ser o gatilho para um ataque cardíaco. “Essa foi uma das primeiras evidências científicas a fazer essa relação entre a ocorrência de infarto e o estresse de um evento como o mundial de futebol”, diz o cardiologista Marcelo Franken, que é gerente médico do Programa de Cardiologia do Einstein.

Dias de jogos do Brasil, lembra Franken, acabam se tornando uma oportunidade para as pessoas se reunirem em confraternizações à base de churrasco e bebida alcoólica. “Essa combinação frequente pode levar ao aumento do risco cardiovascular”, alerta. Sem falar no já citado nervosismo que toma conta de alguns torcedores mais passionais, o consumo além da conta de sal também entra na jogada. O ingrediente é encontrado em pitadas generosas nos alimentos processados, a exemplo de embutidos como linguiça, mortadela, presunto, alguns queijos e, dependendo das escolhas do churrasqueiro, na carne que vai ser assada.

A ingestão em excesso de fontes do condimento pode contribuir para quadros de pressão alta ou dificultar seu controle em quem já é hipertenso. Além disso, embutidos e certos cortes de carne, como a picanha, são ricos em gordura, nutriente que, consumido acima do recomendado, eleva as taxas de colesterol, favorecendo o entupimento das artérias.

Comemorar a vitória do Brasil com vários drinques ou cervejas a mais é outra forma de marcar gol contra a saúde cardíaca. “O primeiro efeito do álcool é estimulante”, explica Marcelo Franken. “Ele libera a circulação de adrenalina e outras catecolaminas.” Esses compostos aceleram a atividade do coração, aumentando o risco de arritmia. “Depois, o álcool age como depressor, dando sono”, completa Franken. De acordo com o cardiologista, existe até um termo médico em inglês, holiday heart syndrome, que é a ocorrência de arritmias após a ingestão de bebidas alcóolicas em altas doses.

Já que o assunto é bebida alcoólica, misturá-la com energético é outro fator que predispõe a arritmias, principalmente nas pessoas que têm doença cardiovascular. Isso porque a cafeína encontrada nesse tipo de produto é outro estimulante. Ou seja, a probabilidade de acontecer um descompasso no ritmo do coração é ainda maior. “É uma coisa a mais a se evitar”, aconselha Franken.

“Outra coisa importante para o Brasil é que o Mundial acontece no inverno, e os infartos ocorrem com maior frequência nessa estação”, diz o especialista. Foi o que revelou uma pesquisa do Einstein liderada pelo cardiologista Eduardo Pesaro. Entre junho e agosto, meses marcados por temperaturas mais amenas, as internações nos hospitais públicos da cidade de São Paulo por infarto chegam a ser 16% maiores do que no verão. Um dos motivos é que o frio faz os vasos se contraírem e eleva a liberação de adrenalina. Com isso, a pressão arterial sobe. Além disso, nossas casas em geral não têm calefação.

Ao ver o bate-bola na TV, muita gente volta a praticar o esporte, nem que seja de forma recreativa. “É o campeonato da empresa, a pelada entre amigos antes de assistir ao jogo do Brasil”, descreve Franken. O problema é voltar a jogar futebol de uma hora para outra, sem condicionamento, o que também é perigoso para o coração. São os famosos atletas de fim de semana, que ainda por cima ficam suscetíveis a lesões ortopédicas devido à falta de preparo físico. Voltar aos campos sem pressa, regularmente e sob orientação especializada é o melhor lance.

Para curtir o Mundial sem sustos, o ideal é não exagerar. Isso vale para as pessoas que têm risco cardíaco ou não. Na hora de preparar o churrasco, prefira cortes magros, como alcatra e maminha. Há quem recomende cortar as porções com gordura antes do preparo. Em vez de carregar no sal, opte por alho e alecrim. Evite também conservas, que são cheias de sódio. Modere no álcool. E não abuse à mesa. “Refeições fartas são outro gatilho para infarto”, finaliza Marcelo Franken.

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