Porto AlegreRio Grande do Sul

45 anos do Parque de Itapuã

Parque preserva a fauna e flora nativa

Imagine um lugar repleto de paisagens nativas do Sul, onde o canto dos pássaros e o som das águas protagonizam a trilha sonora de um dos refúgios naturais mais prestigiados da Região Metropolitana. O Parque Estadual de Itapuã (PEI) abriga uma extensa área de proteção às belezas e recursos ambientais, especialmente marcada pela fauna e flora características do Estado, além de sítios de valor histórico e arqueológico enquadrados num cenário feito de morros, praias, dunas e lagoas.

É no município de Viamão – a 57 km de Porto Alegre – que se localiza essa importante Unidade de Conservação (espaço natural de preservação instituído pelo poder público) do Rio Grande do Sul, a qual acomoda uma das últimas amostras do ecossistema original da região e está aberta para quem deseja interagir de forma sustentável com a natureza.

A Diretora do Departamento de Biodiversidade da Secretaria do Ambiente Desenvolvimento Sustentável (Sema), Liana Barbizan, explica que a manutenção de uma Unidade de Conservação bem próxima da capital traz benefícios ao meio ambiente. “Vivemos em um ambiente urbanizado. Ter um espaço ecossistêmico diferenciado é essencial na preservação da nossa biodiversidade”, reforça.

Neste mês de julho, comemora-se os 45 anos do Parque Estadual de Itapuã, que conta com trilhas e praias à disposição dos visitantes.

Praia das Pombas é única aberta para visitação, comportando apenas 350 pessoas para manter preservação – Foto: Divulgação/Helton Brites

Contexto Histórico

Durante muito tempo, o Itapuã recebeu visitantes interessados no seu espaço de mata nativa, levando o poder público a transformá-lo em parque turístico. Isso aconteceu através do Decreto Estadual n° 22.535, de 14 de julho de 1973. Entretanto, os passeios ao prque aconteciam sem nenhum tipo de supervisão.

Depois de compreender a necessidade de oferecer uma estrutura propícia para conhecer e preservar as riquezas da biodiversidade local, as terras foram reconhecidas como Unidade de Conservação, em 11 de março de 1991, visto que lá habitam as espécies em extinção características da fauna e da flora do Sul. A área também abrange o encontro das águas do Lago Guaíba com a Laguna dos Patos e acomoda o prestigiado Farol de Itapuã, que marca esse cruzamento.

Em sua trajetória, a região foi palco de acontecimentos históricos relevantes, como eventos da Revolução Farroupilha no Morro da Fortaleza, na Ilha do Junco e na Ferraria dos Farrapos, além da instalação dos imigrantes açorianos que fundaram Porto Alegre. Ainda no início dos anos 90, a unidade foi temporariamente fechada para adequar a infraestrutura do parque e recuperar seu ecossistema, sendo reaberto mais tarde em abril de 2002, ano no qual também foi implementado o Conselho Gestor do Parque Estadual de Itapuã, que, atualmente, é integrado por representantes de 15 instituições e da sociedade civil. Foi a primeira UC do Estado a implantar esse tipo de participação social.

O lugar também é historicamente marcado por um conflito originado da sobreposição do parque no território indígena Mbyá-guarani. A região foi delimitada como propriedade para fins de conservação. Com isso, a Sema vem buscando uma abordagem conciliatória com a aldeia Tekoá Pindó Mirim (etnia Mbyá-Guarani). O Departamento de Biodiversidade da secretaria já articulou ações para promover o diálogo.

No ano passado, por exemplo, foram realizados diversos encontros na aldeia em conjunto com o Conselho Estadual dos Povos Indígenas (CEPI). Nessas ocasiões, foram ouvidas as demandas dos Guaranis, entre elas o acesso ao Parque Itapuã para a venda de suas produções artesanais para os visitantes, dando visibilidade à diversidade cultural da comunidade Tekoá Pindó Mirim. O Conselho Gestor tem como diretriz assegurar a representação indígena no parque.

Estrutura e atrações

O Parque Estadual de Itapuã é um dos mais notáveis redutos de conservação do Estado. Unidades como essa são instituídas por órgãos governamentais com o objetivo de sustentar espaços com recursos ambientais significativos. É regido pela Lei Federal n° 9.985, de 18 de julho de 2000, que instaura o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc).

O PEI possui mais de cinco mil hectares de área. É um templo ambiental incorporado de uma cobertura vegetal diversificada, algumas espécies em ameaça de extinção, como ocorre com a Tibouchina asperior: uma planta arbustiva que pode chegar até cinco metros de altura (em algumas espécies) e com flores de coloração mutável, variando entre branco e lilás.

Muitos visitantes também procuram o parque pela fauna eminente. Animais silvestres que habitam essas paisagens são um dos personagens principais. O parque conta com a instalação de armadilhas fotográficas em vários pontos. Por meio dessas lentes, foram capturados registros de aves características da Região Metropolitana, tais como sabiás, saracuras, urubus e rolinhas. Além de mamíferos como graxaim, gato-maracajá, leão-baio, capivara, furão e ouriço. Considerado símbolo do Parque Itapuã, o bugio-ruivo é uma espécie ameaçada de extinção, mas pode ser frequentemente avistado transitando entre as árvores do Itapuã.

Símbolo da região, bugio-ruivo é espécie em extinção frequentemente avistada entre árvores – Foto: Divulgação/Maurício Pereira

As praias são outro destino possível para quem visita. O PEI conta com a Praia das Pombas, a Praia de Fora e a Praia da Pedreira. Atualmente, a Praia das Pombas é a única aberta para visitação e comporta, no máximo, 350 pessoas. O limite garante a preservação da natureza. As outras duas estão fechadas para manutenção e readequação da estrutura para receber visitantes.

Durante o veraneio, a unidade já chegou a receber 2,5 mil visitantes, especialmente pelas três praias, que são grandes atrações nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Fora das estações mais quentes, os frequentadores optam pelas trilhas ecológicas que o Itapuã oferece. A Trilha da Onça, a Trilha da visão e a Trilha da Fortaleza permitem um passeio em meio a vegetação típica e proporciona vista para lugares como a Mata Ciliar, a Pedra da Visão e a histórica Vila dos Pescadores, respectivamente.

A manutenção de um parque dessa dimensão é um desafio. A atual gestora, a bióloga Dayse Rocha, relata que as atividades de manejo são fundamentais para manter a UC em boas condições e, essencialmente, conservar o ecossistema do lugar. As fiscalizações são realizadas por uma equipe composta de funcionários e técnicos do parque, os quais trabalham na recuperação dos recursos ambientais. Uma das ações em destaque é o controle do pinus e da braquiária, espécies de plantas invasoras que podem causar a perda da biodiversidade do local.

O Parque Estadual de Itapuã também promove atrações como a Feira Ambiental, que procura dar visibilidade à diversidade cultural da população local e conscientizar os participantes sobre a preservação do meio ambiente, e o Festival das Pipas, que na sua segunda (e mais recente) edição reuniu 300 pessoas. A gestão também está estudando a possibilidade de oferecer atividades de cicloturismo.

A infraestrutura conta com banheiros, vestiários, estacionamento, churrasqueiras e vigilância. O visitante deve providenciar sua própria alimentação, visto que o parque não possui lancherias. A visitação na Praia das Pombas ocorre de quinta-feira a domingo, a venda de ingressos acontece na entrada do parque, na rua Rua Maria Leopoldina, entre 9h e 12h e das 13h30 às 17h. O horário de permanência é das 9h às 20h durante o horário de verão. O valor do ingresso é de R$ 16,50 por visitante, conforme a Lei 15.017 de 13 de julho de 2017.

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