Taxa de acidentes de trabalho é 34% maior na área de saúde
Seminário "Saúde na Saúde" discutiu condições de trabalho e riscos de doenças ocupacionais em hospitais
Um estudo feito pela União Europeia apontou que a taxa de acidentes de trabalho na área de saúde é 34% maior do que em outros setores. O dado foi apresentado durante o seminário “Saúde na Saúde”, realizado nessa quarta-feira (28), na Procuradoria-Geral do Trabalho (PGT), em Brasília. O objetivo é orientar profissionais que atuam no segmento sobre os riscos de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais em hospitais. O evento foi realizado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Durante a abertura, o coordenador nacional de Combate às Irregularidades Trabalhistas na Administração Pública (Conap) do MPT, Cláudio Gadelha, ressaltou a importância do evento para mostrar o outro lado do “caos” na saúde pública: o dos profissionais que atuam na área. “Muitos se esquecem de enfatizar a situação precária e de exposição a altos riscos desses trabalhadores, em especial nas unidades públicas de saúde. O projeto Saúde na Saúde faz um contraponto a essa realidade”.
A mesa de abertura também teve participação do procurador-geral do MPT, Ronaldo Fleury, que destacou a importância do evento para reduzir o número de subnotificações de acidentes de trabalho.
Segundo o procurador-geral, o índice de ocorrências não comunicadas no Brasil chega a 90%, o que requer mais ações de conscientização e treinamento de trabalhadores em unidades hospitalares. “O objetivo do MPT é fazer a diferença para que nós tenhamos um meio ambiente de trabalho sadio no sistema hospitalar e que os trabalhadores voltem para casa exatamente da mesma forma que deixaram suas casas, ou seja, saudáveis”, enfatizou.
De acordo com a vice-coordenadora da Conap, Carolina Mercante, o setor é o que mais apresenta notificação de doenças ocupacionais. Para a procuradora o cenário atual desses profissionais é preocupante devido às jornadas extenuantes e o mau dimensionamento quadro de pessoal nos hospitais, o que resulta em sobrecarga de trabalho e mais riscos tanto para o profissional quanto para o paciente.
Outro problema apontado pela procuradora é a diminuição do controle das normas de segurança, o assédio moral e as jornadas excessivas decorrentes da ampla terceirização presentes nos hospitais. “Nosso projeto tem cunho pedagógico, então neste primeiro momento queremos explicar para a sociedade e para os profissionais da saúde quais as principais causas de acidentes e doenças ocupacionais e como evitá-las”, explicou.
Durante o evento, foi exibido o teaser de uma série de dez vídeos sobre o tema com o objetivo de alertar os profissionais do setor sobre os riscos presentes nas diversas atividades da rotina hospitalar.
Também estiveram presentes na mesa de abertura o presidente da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT), Ângelo Fabiano Farias da Costa, a diretora da OIT no Brasil, Anne Posthuma, o superintendente regional do Trabalho no Distrito Federal, Maurício Moreira Júnior, o representante da secretaria de Saúde do Distrito Federal, Ricardo Theotônio Nunes de Andrade e o comandante logístico do Hospital das Forças Armadas, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.
Programação – O seminário contou com três painéis com participação de especialistas de diversas áreas. Durante a primeira mesa, a especialista da OIT em Genebra Nancy Leppink explicou sobre experiências e normas internacionais voltadas a saúde e segurança do trabalho.
De acordo com a representante da OIT, um estudo conduzido pela União Europeia apontou que a taxa de acidentes de trabalho na área de saúde é 34% maior do que em outros setores. Outro dado preocupante apresentado pela especialista é o alto índice de violência no ambiente de trabalho. Segundo Nancy, mais de 50% dos profissionais de saúde já sofreu algum tipo de agressão no trabalho.
O debate também contou com o professor de economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Vitor Araújo Filgueiras, que discutiu a conjuntura econômica, as novas leis trabalhistas e os impactos às normas de saúde e segurança do trabalho.
A segunda mesa teve a participação do procurador do MPT no Rio Grande do Norte Afonso de Paula Pinheiro Rocha, que falou sobre as inspeções realizadas em hospitais públicos de Natal no âmbito do projeto Saúde na Saúde. Completaram a mesa representantes do Ministério da Saúde Flávia Ferreira de Sousa e do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador no Distrito Federal (Cerest/DF) Cláudia Castro Bernardes Magalhães.
Fechando a programação, o auditor-fiscal do Trabalho Ricardo de Oliveira, que discutiu os principais aspectos e desafios da fiscalização do trabalho em hospitais, e a enfermeira do Hospital das Forças Armadas (HFA) Arilandia Dantas de Morais, que apresentou boas práticas de saúde e segurança no setor.