Prefeitura de São Leopoldo lança política de saúde para a população negra
Reconhecer as diferenças para buscar a igualdade. Com esse olhar, a Prefeitura lançou na manhã do dia 9 de abril a Política Municipal de Atenção Integral da Saúde da População Negra (PMAISPN). O Museu do Rio, às margens do Sinos, foi o local escolhido para o ato. O objetivo da medida é que profissionais da rede municipal tenham uma atenção extra para as especificidades da população negra. Hipertensão e anemia falciforme são exemplos de doenças com maior incidência no grupo. Mais do que isso, o racismo passa a ser encarado como fator de desigualdade e produção de enfermidades.
“Esse local, na beira do rio, é simbólico. Vários povos chegaram a São Leopoldo e aqui ficaram. Porém em épocas e formas bem diferentes um do outro. Precisamos reafirmar quem somos e lembrar um princípio básico do SUS: a equidade. Para isso é preciso reconhecer as diferenças”, explicou o secretário da Saúde Ricardo Charão.
Além das doenças mais características, os debates abordarão o racismo institucional. Ou seja, quando o serviço público cria barreiras para o acesso. “Para implantar a política é preciso que a sociedade entenda ela como algo necessário. É fundamental tratar de maneira diferenciada cada um diante das suas particularidades”, acrescentou Charão.
A coordenadora-geral da ONG Anastácia, Lourdes Machado, afirmou que há anos este encontro era aguardado. “Desejamos muito esse momento. Precisamos muto dessas políticas. Que São Leopoldo seja pioneira. Nós, negros, quando chegamos para tratamentos médicos nem sempre somos bem tratados”, alertou.
Para colocar a política em prática, servidores da rede municipal de saúde serão capacitados. O projeto, com apoio do Ministério da Saúde, prevê a formação de 150 promotores de saúde, que abrange estudantes e gestores. A eles se somam outros 160 educadores populares que a partir da metade do ano atuarão nas oito regiões do Orçamento Participativo (OP). De acordo com o Censo do IBGE de 2010, 13,69% da população leopoldense é negra. Porém, o assessor de políticas de Saúde Tiago Silveira estima que esse número pode chegar a quase o dobro. “No nosso entendimento, a pesquisa da época não foi abrangente, deixando muitos bairros periféricos de fora da consulta. A isso se soma o fato de que nos últimos anos recebemos dezenas de imigrantes haitianos e senegaleses”, ressaltou.
A programação segue com a capacitação dos servidores nos dias 10 e 11 de abril no Salão Nobre da Antiga Prefeitura. As palestras iniciam às 8h30 e se estendem durante o dia.
Participaram do ato no Museu do Rio a representante do Conselho das Secretarias Municipais (COSEMS), Ana Paula Macedo, o presidente do Conselho Municipal de Saúde, Luis Fernando Oliveira, a chefe do Departamento de Igualdade Racial, Nadir de Jesus, a secretária Janaína Fernandes (OP), o secretário Pedro Vasconcellos (Cultura), a coordenadora do Grupo Identidades, Selenir Kronembauer, e representantes das Faculdades EST, Unisinos, do Governo do Estado e prefeituras da região.
Anemia falciforme
A anemia falciforme é uma doença genética e hereditária que atinge a hemoglobina, fazendo que os glóbulos vermelhos percam sua elasticidade. Nos momentos de crises, as hemácias falciformes aumentam e causam inflamações nos pés e nas mãos e febre. “É a doença genética mais comum do mundo, mas sempre foi negligenciada no Brasil. Somente em 2005 começou a fazer parte do teste do pezinho.