A incontinência urinária é considerada um problema de saúde pública. Estima-se que, no mundo todo, cerca de 50 milhões de pessoas sofram com o problema, sobretudo mulheres. No Brasil, embora a incontinência seja pouco relatada, calcula-se que entre 11 e 23% das mulheres sejam incontinentes, proporção que pode atingir os 40% após a menopausa.
Já se sabe que diferentes fatores contribuem para o surgimento dos sintomas que caracterizam a doença, como a redução da função ovariana após a menopausa, a obesidade e a multiparidade. O enfraquecimento do assoalho pélvico também é uma causa conhecida, problema que, felizmente, pode ser atenuado por meio da realização de exercícios físicos específicos, mas geralmente muito simples e acessíveis.
Tradicionalmente, as mulheres com queixa de incontinência urinária atendidas pela Seção de Fisioterapia do Caism recebiam um folheto com orientações sobre como e quando realizar esses exercícios. Entretanto, o uso dos folhetos era pouco efetivo, pelo simples motivo de que, na correria do dia a dia, boa parte das mulheres se esquecia de realizar os exercícios propostos, ou até mesmo perdia o folheto com as orientações.
Foi para enfrentar esse problema que Cássia Juliato, Andrea Marques, Camila Araújo e Adriana Barea, pesquisadoras da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e do Caism, tiveram a ideia de desenvolver um método mais confiável de orientação das pacientes. Inicialmente, pensou-se em produzir uma série de vídeos curtos e enviá-los para as pacientes via Whatsapp. Mas isso não deu certo.
Insatisfeitas com o amadorismo das gravações, as pesquisadoras encontraram no Instituto Eldorado a infraestrutura e know-how tecnológico necessário para elevar esse projeto a um novo patamar. Surgiu, assim, a ideia de se desenvolver o aplicativo “Diário Saúde”. E isso fazia todo o sentido! Beneficiando-se do fato de que, atualmente, a maioria das pessoas sempre mantém o celular por perto, o “Diário Saúde” emite lembretes regulares sobre a necessidade de realização dos exercícios. Superava-se, desse modo, a barreira do esquecimento!
A descrição do exercício se dá por meio de gráficos que exibem o tempo, em segundos, durante o qual a mulher deve manter a contração e o relaxamento dos músculos do assoalho pélvico, concomitante com a contração que deve ser realizada. Após completar o exercício, a usuária pode salvá-lo para registrar em seu histórico. Além disso, o exercício pode ser realizado em qualquer ambiente e posição, podendo ser adotado como hábito de vida, prolongando os bons resultados do treinamento.
Mas, passado o encantamento inicial, será que o aplicativo é realmente mais efetivo que os tradicionais folhetos de exercícios? É justamente essa a pergunta que as pesquisadoras do Caism pretendem responder com uma pesquisa, já em curso, que comparará o uso dos diferentes métodos entre grupos de mulheres selecionadas aleatoriamente.
Enquanto isso, as pesquisadoras já celebram o desenvolvimento do aplicativo, caso de notório sucesso no gigantesco desafio de integrar áreas do conhecimento tão distintas: medicina, fisioterapia, computação e artes. Sim, artes, já que o “Diário Saúde” incorpora a trilha musical desenvolvida por Adriana Barea, bacharel e mestranda em música pela Unicamp, além das animações desenvolvidas pelo Instituto Eldorado.
A formalização do convênio entre a Universidade e o Instituto Eldorado foi apoiada pela INOVA, a Agência de Inovação da Unicamp. Embora o aplicativo ainda não esteja disponível para o público em geral, sua versão mais recente foi apresentada no último “Inova Campinas”, promovido no Centro de Convenções do Shopping Dom Pedro na última quarta-feira, 25 de outubro. O sucesso do aplicativo no evento indica que o futuro do “Diário Saúde” é promissor.
Isso é bom para a Unicamp e, melhor ainda, para as milhares de mulheres que, muito em breve, poderão se beneficiar desse novo aliado na luta contra a incontinência urinária.