Minecraft: Francisco Tupy fala sobre aplicação de videogames na educação
O que faz um game conquistar mais de 11 milhões de usuários em todo o mundo? E estar entre os jogos distribuídos de forma digital mais vendidos no planeta? E, além de contar com milhões de comunidades online espalhadas pelo mundo, responde por 30% dos vídeos publicados no Youtube? É claro que para chegar nesses índices, ao jogar Minecraft a diversão é garantida. Mas você concorda que deve existir muito mais nesse jogo para garantir números tão espetaculares, não é mesmo?
Para conhecer os oitos motivos pelos quais você deve usar Minecraft na educação, a Big Brain Education foi conversar com o professor Francisco Tupy, Mestre e Doutorando, pela USP, sobre aplicação de Videogames na Educação e Comunicação. Ele é o primeiro brasileiro “Mentor Global do Minecraft” reconhecido pela Microsoft e também MIE Fellow do Brasil.
1. Não existem regras, então, a exploração é livre.
Um dos grandes diferenciais de Minecraft é que o jogo não estipula regras para serem seguidas. Logo nas primeiras experiências, o jogador não recebe nenhuma instrução, tarefa, objetivo ou missão. Também não sabe se há algum perigo que precisa ser evitado ou se precisa vencer alguém para sobreviver.
Para Tupy, essa já é uma grande vantagem: “como a exploração é livre, cada jogador vai construir seguindo a própria criatividade dentro da sua forma de pensar (linear ou sistêmica) e também das suas habilidades vocacionais mais fortes (visão espacial, abstração, dons artísticos, etc), indo até onde quiser”.
Diferente desse modelo, outros jogos limitam ações aos personagens ou avatares, delimitando o contexto onde podem atuar para pontuar no jogo ou vencer os adversários. “Já no Minecraft, a exploração faz parte do processo do jogador, que começa socando árvores, estocando madeira, pedra e formando blocos de construção, que vão se tornando mais complexos”, explica Tupy.
2. O jogo não tem fim, então, o limite é a criatividade.
A pessoa vai até onde conseguir explorar o sistema do software, ou seja, a criatividade é o grande limitador do jogo. “Nesse contexto, entra o processo natural de aprendizagem com a pedagogia da inovação, da ética hacker”, detalha o professor. Em outras palavras, o que Tupy quer dizer é que nenhum hacker estuda uma trilha de aprendizagem ou aprende a teoria hacker na escola. “Na verdade, o hacker tem um problema e vai atrás da solução por tentativa e erro, além de participar de fóruns, comunidades e outras formas de interação”.
No Minecraft, conforme o jogador progride, tudo vai ficando mais complexo. Por exemplo: ele precisa criar uma picareta mais forte para estabelecer milhas de caminhos; tochas para iluminar fendas escuras e precisa recombinar blocos (pedra, ferro, vidro) em peças mais complexas para construir instalações mais seguras.
Resumindo: tudo depende da questão a ser resolvida e do que o jogador explora para encontrar a solução. “O desafio dos professores é colocar conteúdo no Minecraft, criando questões pedagógicas que podem ser resolvidas com as ferramentas do jogo, tornando-se apenas um estágio não final para o aprendizado e a reflexão do aluno”, considera Tupy.
3. Não existe competição, então, a colaboração impera.
Dentro do raciocínio da ética hacker, ao se deparar com um problema, o jogador vai atrás de soluções das mais diferentes formas – em comunidades, fóruns, pesquisas, sites, vídeos no youtube… E o mais interessante é que a internet quebra as barreiras geográficas, criando identificação e sinergia entre pessoas das mais diferentes regiões do mundo.
No Minecraft, não é diferente. “Ao explorar o jogo, os desafios ficam mais complexos e a necessidade de interação torna-se cada vez mais presente. Isso acontece principalmente porque pessoas com habilidades diversas precisam unir as visões de mundo para enxergar soluções sistêmicas e mais completas, explica Tupy.
A versão Minecraft: Education Edition, foi desenhada para que estudantes possam trabalhar em times para resolver problemas ou para que toda a classe trabalhe para superar desafios dentro do jogo, criando soluções imaginativas.
4. As habilidades do século XXI estão no jogo.
Se o jogo exige colaboração e estimula o trabalho em equipe para solucionar questões, é fato que jogar Minecraft ajuda os estudantes a trocarem informações, debaterem ideias e argumentarem sobre seus pontos de vista. Isso por si só já é um grande incentivo para desenvolver as habilidades do século XXI, – essenciais para prepará-los para o futuro mercado de trabalho.
Mas o maior ganho de Minecraft é integrar pessoas de diferentes perfis, com diferentes habilidades vocacionais no mesmo desafio. “Assim, um estudante que pensa de forma mais linear pode ajudar alguém que é mais imaginativo a enxergar alguma lógica, assim como alunos mais criativos e com habilidades artísticas trazem identidade visual mais bonita para o contexto racional”, argumenta Tupy.
Para a professora Gabriela de Oliveira, responsável pelas aulas que usaram Minecraft para montar uma vila sustentável na Escola Bosque, em São Paulo, a interação foi além de perfis diferentes. “Criamos um projeto único em que as aulas não eram divididas por idade. Os alunos de 5, 6 anos, interagiam com os mais velhos, alguns com o dobro da idade. Um ensinava o outro, a interação entre eles foi muito legal”, afirma.
5. A arte de aprender e ensinar o tempo todo.
Além da interação, Gabriela também ficou muito satisfeita com o trabalho realizado em grupo entre os alunos e, principalmente, entre os alunos e professores. “Como muitos alunos já conhecem e jogam Minecraft com frequência, volta e meia eles me ensinavam algo novo, alguma funcionalidade, truque, forma diferente de solução”, comenta.
Na verdade, essa é a materialização do conceito de aprendizado moderno da Escola do Futuro , em que alunos e professores dividem o protagonismo em sala de aula e praticam uma relação cooperativa e colaborativa. Para o professor Tupy, esse é um dos diferenciais de Minecraft: “o jogo permite que as pessoas aprendam fazendo, ou seja, por meio de experiências práticas”.
Os desafios de Minecraft trazem ao professor a oportunidade de sair do mundo das teorias para fazer com que os alunos experimentem resultados práticos com o conhecimento adquirido. “Dessa forma, o aprendizado inclusivo é de fato colocado em prática, ao atender todos os tipos de alunos – auditivo, visual e sinestésico”, afirma Tupy.
6. Ligando o mundo virtual ao real.
Se Minecraft pode trazer a experiência prática para conhecimentos teóricos, um dos grandes desafios de usá-lo no contexto educacional é do professor, que deve explorar conteúdos interessantes de forma realista com os alunos. “É importante que os alunos percebam significado na atividade e que entendam a importância de encontrar a solução pois quanto mais envolvimento tiverem com a questão, mais engajados ficarão na solução do problema”, coloca Tupy.
Para explicar a utilidade do game, o professor cita vários exemplos. “Em literatura, você pode trabalhar a construção de cidades ou ambientes de textos literários, o que obriga o aluno a ler o livro com atenção aos detalhes para não fazer nada errado. Você pode construir espaços mitológicos e históricos (esculturas, jardins, museus) para aprender sobre história. E ainda podemos trabalhar conceitos físicos explorando circuitos ou linguagem de programação e robótica usando a funcionalidade Code Builder ou Criador de Códigos”, exemplifica.
7. Vivenciando o sabor da superação.
Em Minecraft: Education Edition algumas melhorias foram implantadas na versão original do jogo para ampliar a experiência educacional. Por exemplo: os professores têm controle do que acontece no mapa, podem limitar a área de atuação da turma, demarcando os limites do território e indicado onde os jogadores podem construir ou não.
Além disso, lousas foram incluídas para o professor escrever o tema da aula, além de comunicados e comunicações para as atividades. Já os alunos podem ter o acompanhamento das suas atividades, o que mostra a eles o senso de realização. “O envolvimento dos alunos nas aulas que usam Minecraft é muito maio, é o momento que eles mais gostam”, conta Gabriela.
Tupy completa: “o legal é que os alunos podem observar, errar, tentar de novo, explorar de forma diferente, ver o que acontece, tentar de outro jeito, copiar o amigo, ir além… E assim percebem a escala evolutiva ao vencerem os desafios e progredirem rumo ao resultado esperado”.
8. São infinitas as possibilidades e o melhor é solucionar desafios.
Como o jogo não tem regras e, portanto, não tem fim, o game permite solucionar desafios simples e muito avançados. É possível fazer uma caçada ao tesouro com enigmas que podem ser resolvidos baseados em números, em desafios matemáticos, por exemplo. E, ao criar um contexto, a atividade pode se tornar extremamente motivadora para crianças e adolescentes.
No entanto, o que Minecraft pode fazer vai muito além. As funcionalidades do game permitem que os professores desenvolvam projetos e atividades direcionadas para objetivos específicos de aprendizado, aptidões curriculares ou habilidades interpessoais. “Nesse contexto, o game pode ser usado de maneira muito eficiente para desafios avançados no Ensino Superior”, afirma Tupy.
Se você quer saber como pode usar Minecraft: Education Edition, baixe agora o Guia Prático para Minecraft na Educação.