Cada vez mais os homens estão procurando a Medicina Estética para se submeterem a tratamentos com o objetivo de melhorar sua aparência, porque o desejo de beleza é simplesmente uma questão pessoal, sem conotação sexual. Para isso é fundamental buscar atendimento de um profissional qualificado e ético, que cumpre os protocolos estabelecidos pela Medicina. Nesta edição, a Revista NEWS entrevistou o médico Dr. Daiton da Silva Melo, dermatologista leopoldense que conta com grande reconhecimento na área da Estética Médica.
Existe diferença entre tratamentos estéticos para homens e mulheres?
Totalmente. Uma série de fatores contribui para a diferenciação entre homens e mulheres. Vejamos alguns deles:
– hormônios;
– textura da pele – no homem é menos elástica;
– musculatura – vincos mais profundos no homem e mais suaves na mulher;
– educação familiar – culturas diferentes desde a infância;
– desejos estéticos – maior nas mulheres e mais objetiva no homem.
Qual é o conceito de beleza masculina?
Basicamente são três:
– primitivo – quanto mais feio, peludo, sujo e fedido melhor – é o homem das cavernas;
– clássico – perfumado, menos peludo, mais limpo – um exemplo é o ator Hunfrey Bogard, do filme Casablanca;
– moderno – cabeça peluda, rosto sem pelos, limpo e cheiroso, menos rugas ou imperfeições estéticas; temos aí o Brad Pitt. A partir desse conceito moderno já começa a preocupação com a estética. Essa preocupação está muito ligada ao padrão de vida, à educação, à vida social, ao trabalho, à vida sexual, entre outros.
Ainda é muito tímida essa procura, mesmo porque existe uma série de procedimentos cosméticos não cirúrgicos dirigidos à estética masculina que os homens não sabem ter à disposição.
A mulher se preocupa com a estética desde cedo. A vaidade feminina vem desde pequena, estimulada principalmente pela mãe.
Já no homem essa necessidade estética tem um certo momento para aparecer, até porque pode ser interpretado pela sociedade como um desvio de caráter sexual, não bem visto pelos amigos – é aquela diferença que advém da educação familiar. Ele esconde o desejo de melhorar a aparência por vergonha e por receio dessa interpretação.
Atualmente já temos homens que se enquadram dentro daquilo que chamamos de metrossexual, que é aquele meticuloso com a aparência, sem ter qualquer conotação com a preferência sexual. Pelo contrário, a maioria deles não se enquadra no perfil de homossexuais, bissexuais. Em geral são heterossexuais.
Mas é o medo da má interpretação da sociedade que o torna mais retraído quanto à sua preocupação estética.
Qual é o momento, então, em que os homens começam a se preocupar com a beleza?
Tirando os metrossexuais que normalmente são mais precoces com essa preocupação, chega o momento em que o espelho “fala”. Ao se perceber com aspecto cansado, envelhecido, triste e irritado o homem começa a pensar em procurar a ajuda de um profissional.
Tem uma idade mais específica para começar a ter essa sensação?
Nada a ver com a idade, mas existem alguns fatores que dão um empurrãozinho para que essas observações ganhem evidência.
Primeiramente a expectativa de vida de 77 anos, segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde. Muitos homens abaixo dessa faixa etária se sentem jovens frente à expectativa de vida. Não que uma pessoa de mais de 70 anos não possa se ver fazendo algum procedimento para melhorar a estética, mas a frequência de preocupação com a estética é maior nos de menos de 70 anos. A motivação se dá, então, justamente por essa perspectiva de tempo de vida ativa.
Logo depois vem a incidência elevada de divórcios – principalmente dos 45 aos 55 anos; há necessidade de permanecer jovem e atraente. O homem começa a frequentar academia, a fazer ginástica para manutenção da forma física, frequentar baladas, ou seja, começa um novo convívio social para conseguir novamente uma companhia. Essa preocupação atinge também a face, pois começa o envelhecimento gravitacional, com queda das pálpebras, encovamento das maçãs da face por perda de massa muscular, diminuição dos lábios, rugas, etc. É o que chamamos de motivação sexual.
Por fim temos a motivação financeira, onde homens jovens e bonitos começam a galgar postos elevados no trabalho e, em geral, são mais bem pagos. Acontece então uma concorrência natural e o homem precisa fazer alguma coisa para se manter pelo menos no mesmo posto em que está.
Quais os objetivos do homem que vai à consulta com fins de melhorar a estética?
O objetivo principal é superar todas essas adversidades que vimos até agora – idade, sexual e econômica.
Os homens são mais objetivos e precisos nos seus pedidos. Eles sabem exatamente o que querem no momento da consulta. São mais exigentes com os resultados.
Diferente da mulher, que vem à consulta de uma maneira genérica. Fala da sobrancelha, da boca, das rugas, dos sulcos, ao passo que o homem sabe exatamente o que o está incomodando. A mulher, muitas vezes, faz perguntas sobre a boca, mas nem ouve a resposta completa e já está perguntando sobre o nariz ou as sobrancelhas. Os homens não querem anunciar no trabalho e no seu convívio social que fez tal ou qual procedimento estético. Têm medo da gozação e das críticas. O médico deve estar atento a isso, pois, às vezes, o aparecimento de um mínimo hematoma é motivo de insatisfação que pode ocasionar a perda do paciente.
Que procedimentos estéticos estão à disposição dos homens para seu embelezamento?
Todos os procedimentos que são aplicados na mulher podem ser aplicados no homem. O que varia é a diferença na aplicação para o homem e para a mulher.
Exemplo: existe grande diferença entre a aplicação de um botox no homem e na mulher, citando sobrancelhas (na mulher arqueadas), ao redor dos olhos. Até mesmo a quantidade do produto varia muito ainda que entre os homens.
Outro grande exemplo de diferença é no caso da aplicação de botox no bruxismo de homem e mulher. O bruxismo também pode ser tratado pelo dermatologista.
Entre os procedimentos mais procurados estão:
- Tratamentos para a pele – cremes especiais para eles devido à pele que é diferente das mulheres;
- Toxina botulínica – devido à musculatura e ao formato masculino do rosto;
- Peeling químico – renova a pele, controla a oleosidade, as manchas e as rugas finas;
- Mesoterapia – flacidez e estimulação capilar;
- Depilação a laser;
- Luz pulsada – manchas da idade e principalmente solares;
- Preenchimentos – diferenciados dos femininos.
Então, temos aí uma gama enorme de procedimentos dirigidos ao homem.
O que se vê é que a indústria da beleza, seja através da mídia, consultórios, propagandas e outros, está toda voltada para o universo feminino. Tudo é dirigido às mulheres. Isso causa desconforto e constrangimento nos homens. Assim eles não veem nada em que possam se identificar e criar coragem para alavancar um tratamento estético.
É preciso que eles saibam que existem tratamentos dirigidos aos homens, pois a indústria da beleza masculina no Brasil segue a tendência natural mundial, isto é, com os homens se embelezando.
Quais os profissionais habilitados a fazerem procedimentos estéticos?
A estética médica deve ser realizada por médicos. A lei 12.842, de 2013, especifica muito bem quem pode realizar esses procedimentos e aponta o médico como o profissional habilitado. Para que outros venham a se habilitar é preciso que se mude a lei. Nenhum procedimento invasivo pode ser realizado por outro profissional. Na odontologia está autorizada a aplicação do botox, mas somente para correções da estética bucal. Em todos os casos existe a necessidade da consulta e um consequente diagnóstico, avaliando-se inclusive os riscos. Até mesmo para a aplicação de ácidos na pele é preciso saber com o quê estamos lidando. Imagine aplicar ácido em uma mancha que pode ou poderá vir a ser um melanoma. Então há necessidade de um diagnóstico prévio.
Esses escândalos sobre procedimentos estéticos tem a ver com a habilitação profissional?
Sem dúvida alguma. Além do charlatanismo de alguns profissionais como no caso do “Dr. Bumbum” no Rio de Janeiro, temos outros que estão praticando estética com conhecimentos adquiridos em cursinhos de final de semana, o que não os habilita para a realização dos procedimentos. Ou seja, é exercício ilegal da profissão médica.
Recebemos vários casos em nossas clínicas de pacientes que realizaram procedimentos com um profissional não médico e apresentaram complicações até mesmo com deformidades.
Talvez a procura por um profissional não médico seja motivada pelo preço, acreditando que um especialista seria mais caro. Isso não é assim. Caro vai ser consertar as complicações, se ainda for possível, e o arrependimento da escolha errada do profissional.