Setembro é o mês mundial da prevenção contra o suicídio. Desde 2015, com o início da campanha Setembro Amarelo, criada pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), acontecem, nas mais diversas regiões do Brasil, atividades de alerta sobre o tema com o intuito de se criar o diálogo e a conscientização sobre o assunto. Segundo dados da ABP, o Brasil é o oitavo país no mundo em número de suicídios, sendo que, entre os anos de 2000 e 2012, houve um aumento de 10,4% na quantidade de casos. Já de acordo com a Organização Mundial da Saúde, o suicídio é a terceira causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no país, e a sétima, entre 10 e 14 anos. “Infelizmente, no Brasil, o número de casos de suicídio aumentou de forma alarmante nos últimos anos, principalmente entre jovens de 10 a 14 anos. Diante de tal quadro, é importante começarmos a abordar o tema como um problema de saúde a ser levado a sério. Falar sobre suicídio pode ser um fator de prevenção para o mesmo”, afirma Bernadette Serra Rêgo, psiquiatra do Centro Clínico Gaúcho especializada em Psiquiatria da Infância e da Adolescência.
E quando um ídolo se suicida?
Há vários relatos pelo mundo, em diferentes momentos da história, de ondas de suicídio ou aumento da ocorrência destes após o suicídio de um ídolo. “É interessante que os pais estejam atentos a quem são os ídolos de seus filhos e o quanto os jovens tendem a imitá-los. Entretanto, é importante ter em mente que não existe uma causa única para o suicídio, ele é resultado da combinação de uma série de fatores e eventos que levam o indivíduo a um estado mental e emocional fragilizado”, afirma Serra.
Nessas circunstâncias, não existe uma abordagem especifica a ser seguida, tudo irá depender dos fatores e do contexto da situação, bem como da liberdade de diálogo dentro da família. Outro ponto importante é a maturidade emocional e cognitiva que o indivíduo possui para compreender as consequências e a gravidade de um ato suicida. Deve-se falar de forma natural, sem deixar de mencionar o impacto que a atitude de uma pessoa reflete na vida dos demais. “De modo geral, os pais devem apresentar a seus filhos alternativas de ajuda e de tratamento quanto a comportamentos depressivos e suicidas. O jovem em sofrimento psíquico encontra-se confuso, e, na maioria das vezes, não consegue expressar seus sentimentos. Suporte psicológico e grupos de prevenção ao suicídio podem ajudar nesse sentido”, explica a psiquiatra.
Quebrando o tabu
O diálogo sobre suicídio é fundamental para a prevenção. Os ambientes de casa e da escola devem ser locais de abertura para reflexão do tema, como forma de se quebrar o tabu existente sobre o assunto. “O sentimento de solidão é uma das principais causas que levam os jovens a terem pensamentos suicidas, dessa forma, o convívio com os pais e as trocas no ambiente escolar podem ter o poder de incluir aqueles jovens que se sentem deslocadas e incompreendidos, dando um sentimento de pertencimentos a quem, muitas vezes, se via sozinho no mundo”, afirma.
Pais e educadores devem estar atentos a mudanças de comportamento, tanto na escola quanto no ambiente familiar. Isolamento, desinteresse em atividades que costumavam ser prazerosas e queda nas médias escolares podem ser fatores indicando que o jovem está precisando de uma atenção especial. Normalmente, plano e tentativa de suicídio estão relacionadas a um estado depressivo importante. Assim, é bom estar atento a sintomas como depressão, comportamento de automutilação, além do acesso a grupos e a vídeos com conteúdo que estimule o comportamento suicida.
O ideal, diante de uma situação indicativa de comportamento suicida, é a conversa aberta sobre o assunto. Porém, sabe-se que existem famílias cuja estrutura está abalada. “Os próprios pais podem sofrer de distúrbios psiquiátricos ou não se sentirem à vontade para lidar com os problemas emocionais dos filhos. Muitas vezes, há preocupação e angústia perante um comportamento incomum do jovem, mas os pais não entendem por que seu filho que tem tudo não está satisfeito com a vida e pensa em dar fim a ela. Se este for o caso, a abordagem sobre suicídio será mais efetiva sob suporte e acompanhamento de profissionais de saúde mental”, completa a médica.