Você entra em um restaurante para comer um hambúrguer. O que passa pela sua cabeça? Duas carnes, bacon extra e queijo? Pão com gergelim ou molho especial? Degradação ambiental ou preservação ecológica? Você provavelmente não pensa na última opção. Mas talvez devesse pensar. Segundo pesquisas, se as vacas formassem um país, este seria o terceiro maior emissor de gases causadores do efeito estufa no mundo. A produção de carne provoca um dos impactos ambientais mais destrutivos no planeta.
Hectares de floresta na América do Sul são devastados para criação de gado, com o objetivo de produzir nossos hambúrgueres e bifes preferidos. Em média, uma carne de hambúrguer de 110 gramas drena 1.695 litros de água, dependendo de onde for feita, utilizando preciosos recursos naturais. Ainda assim, nossa demanda por carne está crescendo. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) projeta um aumento de 76% no consumo global de carne até 2050. Mais carne será consumida do que em qualquer período da nossa história. E nós iremos pagar o preço ambiental e humano – a menos que façamos uma mudança agora.
Custos ocultos aumentam
“Precisamos ser realistas. Cortar carne inteiramente da dieta não é uma opção para muitas pessoas”, disse James Lomax, oficial de sistemas sustentáveis de alimentação e do programa de gestão de agricultura da ONU Ambiente. “A carne bovina é uma fonte realmente importante de vitaminas e proteínas – e fonte de renda – para os mais pobres do mundo. Pequenas operações de produção orgânica possuem um impacto ambiental muito diferente em comparação ao tipo de produção industrial de gado”, disse.
De pastagem e sistemas pastorais na África e na América Latina, ao uso de animais para arar a terra na Ásia e fazendas industriais na Europa e na América do Norte, cada sistema possui vantagens e desvantagens, acrescentou. “Mas no centro da questão ambiental está a maneira com a qual a carne é produzida e, crucialmente, consumida. Nós devemos explorar formas de atingir um equilíbrio ecológico. Reduzir intensivamente o consumo de carne de criação de gado é bom para as pessoas e para o planeta. Isto significa comer um hambúrguer ou filé sustentável de vez em quando, em vez de uma versão produzida em massa três vezes por semana”.
Os custos humanos
A grande demanda comercial pelo consumo de carne tem outras consequências. A agricultura usa mais água fresca do que qualquer outra atividade humana. Enquanto a criação de animais ocupe o equivalente a 80% das terras agrícolas, o gado contribui para 18% do consumo de calorias no mundo. A alimentação de animais baseada em soja – uma das commodities mais exportadas pela América do Sul – está gerando amplo desmatamento e deslocamento de agricultores e povos indígenas no mundo todo. É notoriamente difícil saber qual o papel da dieta humana – incluindo consumo de carne – para os casos de mortes por doenças, por conta de muitos outros fatores em jogo. Ainda assim, sabemos que consumo em excesso de carne processada tem consequências negativas à saúde.
Antibióticos usados para o gado e para manter animais livres de doenças frequentemente terminam em nossos alimentos, contribuindo para a resistência antibiótica em humanos. Preocupações recentes também destacam que redes de fast food usam carnes repletas de antibióticos.
Quais são as alternativas?
Precisamos comer menos carne, ou carne criada de maneira sustentável, nas partes do mundo onde consumo de carne per capta é alto. Até mesmo a substituição da carne vermelha por frango pode ser mais benéfica ao meio ambiente. Fabricantes de carnes alternativas veganas destacam que seus produtos normalmente possuem menos gorduras e colesterol do que bifes equivalentes processados. Há uma pequena, porém crescente, tendência para “carnes” sem carne.
Os vencedores do prêmio da ONU Meio Ambiente, Impossible Foods e Beyond Meat, realizaram pesquisas para retirar os blocos básicos de construção da carne para proteína, gordura, água e minerais, recriando carne inteiramente a partir de plantas – a uma fração do custo ao meio ambiente.
A pesquisa da Beyond Meat e o estudo da Universidade de Michigan descobriram que a quantidade de água em uma piscina padrão de natação pode produzir 312 hambúrgueres ou 60.837 hambúrgueres Beyond. A pesquisa também mostra que norte-americanos comem cerca de três hambúrgueres por semana. Se um destes fosse trocado por um hambúrguer feito a base de plantas por um ano, seria como tirar os gases causadores do efeito estufa de 12 milhões de carros por um ano. Ambas as companhias dizem que seus hambúrgueres necessitam de 75% a 99% menos água; 93% a 95% menos terra; e geram 87% a 90% menos emissões do que hambúrgueres comuns de carne, consumindo quase metade da energia para produção. Estes cálculos se baseiam em materiais primários como ingredientes, incluindo óleo de coco, extrato cítrico, amido de batata e água, e transporte, iluminação e distribuição em frigoríficos. É hora de pesar o custo real do hambúrguer.