Câmara de NH homenageia os 40 anos da Fundação Scheffel
Um dos principais artigos do patrimônio histórico, cultural e arquitetônico do Rio Grande do Sul, a Fundação Ernesto Frederico Scheffel, concebida entre os salões de uma imponente construção germânica do final do século XIX no coração de Hamburgo Velho, completou 40 anos de sua criação no último dia 5. Para comemorar a data, a Câmara de Novo Hamburgo reuniu-se em sessão solene na quinta-feira, 8 de novembro, em uma noite de homenagens e reconhecimento ao papel da instituição no fomento à expressão artística da cidade e na preservação da memória e do trabalho de um dos principais nomes das artes plásticas do país.
O presidente do Legislativo, Felipe Kuhn Braun (PDT), enalteceu a presença de Lia Scheffel Kirch, irmã do pintor, e de Miguel Schmitz, prefeito de Novo Hamburgo que participou da idealização da Fundação. O vereador também recontou a luta do campo-bonense Ernesto Frederico Scheffel, agraciado Cidadão de Novo Hamburgo em 2004, pela preservação do patrimônio histórico-cultural da cidade. “Scheffel foi um entusiasta da história da nossa terra, da nossa região e da nossa gente. Ele conseguiu, apesar da resistência de muitas pessoas, impedir que casas fossem destruídas e fazer com que áreas históricas fossem preservadas, legando esse patrimônio às gerações seguintes. Que a Fundação siga promovendo arte e cultura para Novo Hamburgo e os municípios gaúchos”, desejou Felipe.
O primeiro-secretário Enio Brizola (PT) ilustrou a grandiosidade da pinacoteca relembrando seu deslumbre ao visitá-la pela primeira vez, após a chegada de sua família a Novo Hamburgo. “Esse prédio esplendoroso guarda um grande e magnífico tesouro, um dos maiores que o Brasil possui na área da cultura. Aquelas obras de arte nos prendem de maneira impressionante. Esse nosso tesouro está sendo hoje muito bem guardado. Temos o desafio de manter vivo esse símbolo da nossa cidade e da nossa região, um dos pontos turísticos mais impressionantes que conheci neste país”, destacou.
Raul Cassel (MDB) salientou o serviço prestado pela instituição de oportunizar aos hamburguenses uma aproximação à arte. “Aprecio muito essa maneira de casa aberta, que acolhe a região. Tive oportunidade de caminhar com o Scheffel, uma das coisas mais agradáveis que havia. Com voz mansa, ele contava histórias que me foram muito importantes. Quando vi o incêndio do Museu Nacional, minha primeira reação foi pensar na nossa galeria, se ela está protegida desse tipo de risco. Essa é uma obra infindável, de uma pessoa simples da nossa região que se impôs pelo seu trabalho”, ressaltou.
O vereador Gerson Peteffi (MDB) aproveitou a cerimônia para agradecer aos professores que se tornam os primeiros incentivadores do contato com a arte. “Quando entramos na Fundação Scheffel, vemos pinturas que nos cativam. Aquela casa é uma obra de arte viva, pulsante. Sou imensamente felizardo por poder ter presenteado minha filha com um quadro de Ernesto Frederico Scheffel, em uma das únicas poucas vezes em que ele pintou um sorriso”, revelou o parlamentar.
A deputada estadual Regina Becker Fortunati disse estar honrada em representar a Assembleia Legislativa na homenagem à Fundação Scheffel. Ex-moradora de Lomba Grande, ela destacou o trabalho de Ernesto Frederico em diferentes frentes, impactando diretamente para a preservação do patrimônio e a evolução da cultura hamburguense. “Além do reconhecido legado da obra, talvez tenha sido a preservação do patrimônio histórico da cidade o grande trabalho de Scheffel. Infelizmente, em Lomba Grande, não conseguimos impedir que a única referência que temos hoje seja uma história contada”, lamentou.
Regina também fez questão de enaltecer o trabalho artístico do campo-bonense. “A obra do Scheffel tem reconhecimento nacional e mundial. A forma como ele trabalhava a luz é algo impressionante. Fazia com que a obra expressasse todos os anseios, sonhos e esperanças que ele tinha. Foi um trabalho de extrema importância e que honra a todos nós. Felizmente, a Fundação cumpre hoje seu papel. De nada adianta ter todo um acervo se esse ambiente não é dinâmico e não oportuniza um acesso direto dos cidadãos. A obra de Scheffel é um trabalho que continua no coração de cada um de nós”, complementou.
Parceria da Câmara
O curador da Fundação Scheffel, Angelo Reinheimer, destacou o apoio do Legislativo ao longo das últimas quatro décadas no fortalecimento e na continuidade da instituição. “Agradecemos à Câmara, que esteve presente em todos os momentos importantes da existência da Fundação. Ao longo desses 40 anos, tivemos que constantemente repensar nossos rumos, sempre olhando além. O que fica evidente no trabalho de Scheffel de preservação do patrimônio cultural, que resultou no tombamento de todo o sítio histórico em 2015”, pontuou.
Em nome da Mesa Diretora, proponente da solenidade, Felipe Kuhn Braun entregou um quadro de homenagem ao curador e à presidente da Fundação, Margot Schütz. Reinheimer destacou o trabalho realizado pela instituição na eternização do trabalho do artista que lhe dá nome e no fomento às práticas culturais no Município. “Muitas vezes se tem aquela ideia equivocada dos museus, como depósitos da história de uma comunidade. Nos museus de Hamburgo Velho, de tédio não padecemos. Nosso público, cada vez mais exigente, faz com que ampliemos e requalifiquemos nossos equipamentos. Inclusive fizemos este ano todos os encaminhamentos para a recuperação do imóvel, que não deixa de ser uma doação de Scheffel para a comunidade. Nosso museu, por incrível que pareça, hoje está pequeno para as atividades que desenvolve”, contou.
Fundação Scheffel
Nascido em 8 de outubro de 1927 no atual município de Campo Bom, Ernesto Frederico Scheffel mudou-se para Hamburgo Velho com sua família aos 8 anos de idade. Após estudar em Porto Alegre e no Rio de Janeiro, conquistou um prêmio que o levou à Europa. Lá, conheceu Florença, a cidade com a qual tanto sonhara e onde fixaria seu ateliê por décadas. Ainda assim, mesclou temporadas no Brasil, cultivando suas raízes com Novo Hamburgo.
Em 1974, durante as comemorações do sesquicentenário da imigração alemã no Rio Grande do Sul, o então prefeito Miguel Schmitz ofereceu a Scheffel um espaço a sua escolha para a instalação de um museu de arte. O prédio escolhido, construído em 1890 pelo agrimensor Adão Adolfo Schmitt, era um antigo encanto do artista plástico desde sua infância em Hamburgo Velho. Recuperada pelo arquiteto Nelson Souza, a Fundação Ernesto Frederico Scheffel foi inaugurada em 5 de novembro de 1978. Hoje, o espaço, localizado na avenida General Daltro Filho, 911, abriga mais de 400 obras do artista, entre pinturas, desenhos e esculturas. Scheffel faleceu em julho de 2015, aos 87 anos.