O desemprego está em queda globalmente, mas as condições de trabalho não melhoraram, disse as Nações Unidas ontem (13), alertando que alguns negócios impulsionados por novas tecnologias “ameaçam minar” conquistas sociais das últimas décadas. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), mais de 3,3 bilhões de pessoas empregadas no mundo em 2018 não tinham níveis adequados de segurança econômica, bem-estar material ou oportunidades para avançar. No total, 172 milhões de pessoas não tinham emprego no ano passado — em cada 20 indivíduos em idade produtiva —, de acordo com o relatório “Tendências do Emprego Global 2019”, da OIT.
Essa taxa de desemprego, que apenas retornou a níveis vistos antes da crise financeira de 2008-2009, não deve mudar este ano ou no próximo, presumindo condições econômicas globais estáveis. A atual incerteza “já está tendo efeito negativo no mercado de trabalho” nos países de alta e média renda, disse o documento.
O relatório ressalvou que “ser um empregado assalariado nem sempre garante padrões de vida decentes”, segundo Damian Grimshaw, diretor de pesquisas da OIT. “Mais de 700 milhões de pessoas estão vivendo na extrema ou moderada pobreza apesar de terem emprego”, declarou.
O relatório da OIT mostrou ainda que a pobreza entre trabalhadores caiu nos países de média renda nas últimas três décadas, apesar de as nações mais pobres poderem ver um aumento do número de trabalhadores nessa condição.
Isso ocorre porque o ritmo da redução da pobreza não deve acompanhar o crescimento do emprego nessas economias emergentes, apesar da importante contribuição da China na redução da pobreza entre trabalhadores como resultado do forte crescimento econômico desde 1993. Os dados da OIT também mostraram que 360 milhões de pessoas trabalhavam em 2018 em empresas familiares, e 1,1 bilhão por conta própria — frequentemente em atividades de subsistência, na ausência de oportunidades de emprego no setor final ou falta de sistemas de proteção social.
Sobre o desafio de reduzir o desemprego, o relatório da ONU identificou falta de oportunidades para aqueles que desejam trabalhar. Isso inclui aqueles que gostariam de mudar de empregos de meia jornada para jornada completa e para empregos de longo prazo, mas ficaram tão desencorajados que desistiram de procurar (desalento).
Juntos, condições ruins de trabalho, desemprego e desigualdade de gênero contribuíram para desacelerar mais do que o previsto o progresso para atingir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de trabalho decente para todos, como previsto na Agenda 2030.
Menos de 48% das mulheres trabalham; frente a 75% dos homens
Entre as principais questões trabalhistas apontadas no relatório está a contínua falta de progresso na redução das desigualdades de gênero no trabalho, com menos de 50% das mulheres na força de trabalho em 2018, comparadas a três quartos dos homens. Este problema é universal, disse a OIT, apesar de as desigualdades de gênero serem mais fortes nos Estados Árabes, no norte da África e no Sudeste da Ásia.
Outro desafio é o tamanho do setor informal — com 2 bilhões de trabalhadores, ou 61% da força de trabalho global. “O emprego formal é a realidade para a maioria dos trabalhadores do mundo”, disse a OIT. Outra fonte de preocupação é o fato de uma em cada cinco pessoas com menos de 25 anos não estar empregada, não estudar ou estar sob treinamento.
Notando como o nível de desenvolvimento de um país está ligado à disponibilidade de trabalho razoavelmente bem pago ou proteções sociais adequadas para aqueles que precisam, o relatório lembrou que estas e outras conquistas ainda estão longe do alcance de muitos. “Garantir esses ganhos é, portanto, um importante desafio que os formuladores de políticas públicas precisam enfrentar”, disse o relatório, notando que as novas tecnologias “ameaçam minar” essas conquistas trabalhistas e outras, como seguro-desemprego, negociação coletiva e adequação aos padrões e direitos do trabalho.