Saúde

Atriz Marcia Cross revela câncer causado por HPV

A atriz Marcia Cross, que interpretou a personagem Bree Van De Kamp na série ‘Desperate Housewives’, revelou que enfrentou um câncer no canal anal descoberto em 2018. Segundo ela, a doença surgiu provavelmente como consequência do HPV (um vírus sexualmente transmissível).

Casos como o da atriz levantam um alerta para o aumento de casos da doença, o que preocupa especialistas ao redor do mundo. A incidência de casos de câncer decorrentes do HPV, inclusive, foi um dos assuntos discutidos na edição 2019 do Encontro da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), o maior evento de oncologia do mundo, ocorrido em Chicago entre 31 de maio e 4 de junho.

Na ocasião foram apresentados estudos que reforçam a importância da vacinação contra o HPV como ferramenta essencial para frear os índices de surgimento de tumores de canal anal e de colo uterino entre a população mundial. No entanto, apesar desta recomendação, no Brasil, estima-se que apenas 48,7% das meninas com idades entre 9 a 14 anos – população-alvo recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – foram imunizadas.

“Sabemos que a vacinação do HPV está incluída no calendário da saúde do País, mas temos percebido uma diminuição na procura pela imunização. Isso não pode acontecer de jeito nenhum. Se conseguirmos vacinar todas as meninas e meninos abaixo de 13 anos, a diminuição dessas doenças será muito efetiva”, diz o oncologista Roberto Gil, do Grupo Oncoclínicas do Rio de Janeiro.

De acordo com ele, tanto o câncer de canal anal quanto de colo uterino são preveníveis pela vacinação do HPV. “Na Austrália, por exemplo, 90% das pessoas são vacinadas e lá a curva de incidência da doença tem diminuído muito”, reforça o Dr. Roberto. Para o oncologista, a vacinação deve ser em larga escala.

HPV é responsável por índices aumentados de câncer de colo de útero no Brasil

De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de colo de útero atinge 16 mil mulheres no Brasil por ano, o que já faz dele o terceiro tipo de câncer mais prevalente entre a população feminina. A doença é silenciosa e, por isso, em cerca de 35% dos casos acaba levando à morte. A preocupação acerca dos crescentes índices da doença aumenta quando analisado o principal causador da condição: o contágio pelo HPV (Papilomavirus Humano).

Mais comum tipo de infecção sexualmente transmissível em todo o mundo, o HPV atinge de forma massiva a população feminina no Brasil – 75% das mulheres sexualmente ativas do país entrarão em contato com o vírus ao longo da vida, sendo que o ápice da transmissão do vírus se dá na faixa dos 25 anos.

“A geração de jovens e adultos com menos de 30 anos preza e valoriza muito a liberdade sexual. Trata-se de um grupo que nasceu após o boom do HIV e, apesar de bem informada e consciente dos riscos envolvendo doenças sexualmente transmissíveis, apresenta índices elevados de contágio pelo chamado papilomavírus humano. Após o contágio, ao menos 5% dessas brasileiras irão desenvolver câncer de colo do útero em um prazo de dois a dez anos, uma taxa alarmante”, diz Andrey Soares, oncologista do Grupo Oncoclínicas em São Paulo

O câncer anal ocorre no canal e nas bordas externas do ânus. Esse tipo de tumor representa de 1% a 2% de todos os tumores colorretais e de 2 a 4% de todos os tipos de câncer que acometem o intestino grosso, mas sua incidência tem aumentado principalmente em decorrência da infecção pelo HPV e outras doenças sexualmente transmissíveis.

Por isso, duas das principais ferramentas para redução dos riscos são o uso de preservativo (camisinha) e a vacinação contra o HPV, o que evita o contágio com vírus e bactérias transmitidos por contato sexual e que estão diretamente relacionados com o desenvolvimento desse tipo de câncer

“O câncer de colo do útero já é considerado um problema de saúde pública no nosso país e faz parte do Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT), o que inclui a vacinação contra o HPV para meninos e meninas com idades entre 9 e 26 anos. Por isso, é essencial reforçar a informação sobre a importância da vacinação. Ela pode salvar muitas vidas”, frisa o médico

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