Com as medidas de restrição devido ao Covid-19, a deterioração das contas públicas e a instabilidade da moeda, o mercado segue pessimista com relação ao futuro da economia brasileira. Dando sequência à queda histórica de 4,1% do PIB em 2020, a projeção do Boletim Focus para este ano não indica a tão esperada retomada em “V”: semana a semana, o indicador piora. Quais as consequências disso no bolso do investidor?
Na avaliação do gestor de investimentos internacionais da Stratton Capital, Marcelo Cabral, além das circunstâncias da pandemia, há elementos estruturais que comprometem as expectativas para ativos brasileiros, como a paralisação da agenda de reformas e o aumento da incerteza jurídica. É o efeito do risco-país. “O patrimônio não deve estar 100% exposto à volatilidade e às incertezas da conjuntura brasileira. Se houver uma recessão ou piora sistêmica, todas as aplicações perdem valor ao mesmo tempo. Essa concentração excessiva de riscos é perigosa e desnecessária”, alerta o gaúcho radicado nos Estados Unidos há mais de 30 anos.
Durante décadas, lembra Marcelo, as taxas de juros foram elevadíssimas no Brasil. “Os rendimentos em renda fixa eram muito bons e o brasileiro médio colocava seu dinheiro em ‘piloto automático’, sem precisar buscar alternativas”. Isso mudou com os sucessivos cortes no principal instrumento de controle da inflação, a Selic — que, mesmo com a recente alta, ainda está em patamares historicamente baixos.
Com a queda da taxa básica de juros, muitos investidores migraram para a Bolsa de Valores. No entanto, entre aplicações em renda fixa, que nem sequer tem superado a inflação, e a corrida para investimentos altamente voláteis na Bolsa, o especialista reforça as vantagens da diversificação internacional. “Investir em moeda forte melhora a rentabilidade e diminui o risco”, argumenta. “As oportunidades ao redor do mundo são atrativas demais para serem ignoradas: apesar de ser uma das maiores economias do mundo, o mercado financeiro do Brasil representa menos de 2% do mercado global”, pondera o executivo.
Mudança cultural
Marcelo destaca o rápido movimento de “globalização” dos investimentos no Brasil. Investir no exterior era praticamente proibido pelo governo, mas isso mudou: nos últimos anos, o capital de investidores pessoa física no exterior saltou 507%, segundo o Banco Central. O montante passou de US$ 31,75 bilhões em 2007 para US$ 192,7 bilhões em 2019. Segundo Marcelo, esse movimento demonstra o início de uma mudança cultural importante e um processo de evolução natural do mercado. “Ainda há muito espaço para evoluir, mas a diversificação internacional já se tornou um novo paradigma na maneira do brasileiro investir”, afirma.
O investidor brasileiro está mais sofisticado e atento as oportunidades globais, mas ainda existem dificuldades. Na avaliação do especialista, as ofertas dos bancos e corretoras tradicionais no Brasil ainda são reduzidas. “Muitas pessoas têm interesse em lucrar com oportunidades globais que não estão disponíveis no mercado local, mas não sabem como. Apesar da demanda, a maioria dos profissionais e assessores no Brasil ainda oferece exclusivamente produtos domésticos, limitando as opções do investidor.”
Sobre a Stratton Capital
A Stratton Capital é uma assessoria de investimentos nos Estados Unidos. Associada à Charles Schwab, a segunda maior corretora do mundo, permite que brasileiros possam abrir uma conta no exterior e investir em moeda forte. A empresa é comandada por Marcelo Cabral, gestor de investimentos com 32 anos de experiência no mercado internacional.
Cabral dirigiu mesas de investimento em Nova Iorque, Londres, Luxemburgo, Hong Kong e São Paulo e foi executivo do J. P. Morgan, Morgan Stanley e Credit Suisse. Antes de fundar a Stratton, era presidente do Bradesco Europa e da Bradesco Securities, em Nova Iorque. Gaúcho com dupla cidadania, vive em Stratton, Vermont, EUA. É ainda co-fundador da Open Vista Investment Management, uma asset no Brasil que oferece fundos para investir no exterior.