A pandemia trouxe consigo muitos momentos de reflexão e, em muitos casos, isso se refletiu numa cobrança exacerbada das tarefas diárias, bem como no aceleramento do ritmo de pequenas atitudes naturais do dia a dia, como escovar os dentes pensando no que comer no café da manhã e na reunião do final da tarde ao mesmo tempo, por exemplo.
Para o médico André Manoel, que atua com medicina de estilo de vida, esse não estar presente em ações simples, pode acabar repercutindo em problemas de saúde. E o estresse é um deles.
“O estresse, ele vem, justamente, por um excesso de estimulação, de algumas funções do nosso organismo”, destaca o médico.
Manoel faz um paralelo de quando o homem vivia na Pré-História. Ele explica que naquele período as preocupações eram em situações de como caçar, ter um abrigo e não ficar sem comida. E o estresse era em se adaptar a essas situações para conseguir sobreviver.
“E para isso era liberada uma quantidade grande de cortisol, que se reflete em aumento da frequência cardíaca e da capacidade respiratória, além de liberar mais açúcar no sangue, para que a pessoa consiga vencer essas situações de estresse”, destaca.
E no decorrer da evolução do homem em sociedade, é possível perceber que esse funcionamento se repete. Manoel enfatiza que hoje, os estímulos estressantes seguem repercutindo no dia a dia e trazem dificuldades de lidar com eles.
“Na antiguidade, era possível ter momentos tranquilos na caverna, ao estar seguro e bem alimentado. Hoje, de um modo geral, não. Pois, vivemos um excesso de exposição em situações de estresse”, complementa o médico.
Estresse x faixa etária
O estresse está presente em qualquer faixa etária, no entanto, segundo o médico, ela pode ser observada com uma incidência maior na idade produtiva, que são em decorrência das demandas de trabalho e tudo mais.
E em cada faixa etária o estresse se manifesta diferente. Por exemplo, o estresse em uma criança pode surgir quando ela vê os pais brigando e isso pode impactar na dificuldade de segurar o xixi. Já na vida adulta, as manifestações e causas vão ser diferentes.
Tarefas diárias importantes para lidar com o estresse
O médico destaca que muita gente está esquecendo de prestar atenção em questões simples do cotidiano. Para ele, dormir e se alimentar direto, fazer atividades que tragam prazer, se desconectar da rotina de trabalho, além de ter uma rede de suporte, ou seja, pessoas com quem você pode contar, sejam amigos ou familiares são importantes.
“Outra questão importante é a espiritualidade. Ela vem sendo usada como uma boa estratégia para o manejo do estresse. Afinal, é preciso estar presente em todas as nossas atitudes”, orienta.
Manoel enfatiza ainda que o contato com a natureza, uma alimentação equilibrada, com menos alimentos processados, bem como o uso de alguns suplementos, pode ajudar a lidar com o estresse. O profissional destaca ainda que quem sofre de ansiedade ou depressão deve fazer o uso correto de medicamentos, conforme a orientação médica, pois ambos, muitas vezes, são consequências do estresse.
“Ainda existe uma tendência de achar que algumas pessoas estão fingindo ou inventando estar doentes em função do estresse. É importante que a gente não estigmatize essas pessoas. Muita gente vai ter sinais e sintomas físicos, advindo de situações estressantes. E essas pessoas não estão fingindo nada”, observa o médico.
E entre os tratamentos, podem ser usadas várias estratégias terapêuticas. Para o médico, a psicoterapia é considerada a grande protagonista nesse sentido. Além disso, os profissionais que trabalham com estilo de vida podem contribuir no auxílio do controle alimentar, da qualidade do sono e nas atividades físicas.
Como identificar o estresse?
O estresse pode ser identificado em sinais físicos e emocionais. Dentre eles, uma contratura muscular, dores pelo corpo, queda de cabelo, alterações digestivas, cansaço, dificuldade para dormir, irritabilidade, pouca concentração e baixa produtividade.
Uma dica importante que o médico dá, é observar o seu estilo de vida: sua alimentação, os exercícios físicos, o sono, os relacionamentos e a exposição a toxinas. Provavelmente eles vão identificar várias alterações.
“Ao procurar quais são os fatores que causam o estresse, a gente vai se deparar com situações que não foram totalmente solucionadas e que levam meses, às vezes, até anos para resolvermos. Por isso, a gente precisa aprender a se colocar em prioridade e entender que a forma que estamos vivendo se reflete no nosso dia a dia”, completa o médico.