Autolesões inspiram cuidados imediatos pois são condições de risco para suicídio

E-book gratuito ensina a lidar com jovens que sofrem com autolesão

As autolesões inspiram cuidados imediatos pois são condições de risco para suicídio. O alerta é das especialistas em Enfermagem Psiquiátrica da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, Kelly Graziani Giacchero Vedana e Aline Conceição da Silva, que acabam de publicar o e-book gratuito Autolesão Não Suicida: Assistência e Promoção de Saúde Mental.

O material foi desenvolvido durante o doutorado de Aline, sob orientação da professora Kelly, para melhor informar aos profissionais de saúde e à população sobre o que é e como ajudar as pessoas que sofrem com as autolesões. O e-book traz de forma clara e didática dicas e recomendações para os pais de adolescentes que se encontram nessa situação.

As autolesões não suicidas (ALNS) são comportamentos autoinfligidos, repetitivos, sem intencionalidade suicida, não explicados por outro diagnóstico psiquiátrico. O problema é bastante comum entre os adolescentes, que provocam dano superficial a seus corpos, como cortes, por exemplo. As ações, contam as pesquisadoras, são tentativas de transformar uma dor emocional em física.

Apesar de não ter a intenção de tirar a própria vida, o jovem precisa da atenção das redes de apoio e dos profissionais de saúde, pois a ALNS “prejudica de maneira severa diversos aspectos da vida do indivíduo e pode, inclusive, ser precursora de tentativas de suicídio”, afirma a professora Kelly.

A preocupação das pesquisadoras se justifica também pela alta incidência; pode chegar a 60% dos adolescentes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e é minimizada pela população em geral que não vê na autolesão não suicida uma grande preocupação.

A esses fatos, Aline acrescenta ainda o sofrimento dos pais, que “não sabem como lidar com a situação e não conseguem ajudar o jovem por conta própria”, e o despreparo de alguns psicólogos que desconhecem a questão. E adverte, “se não tratados, os adolescentes podem usar a autolesão como recurso por muitos anos”.

Aline afirma que percebeu a falta de conhecimento amplo em relação à autolesão não suicida antes mesmo de iniciar o doutorado. Durante seus estudos, chegou a “identificar universitários que a praticam”, diz, adiantando que, para amenizar o problema, “deve-se procurar ajuda profissional o quanto antes”. É que, se não tratados, esses indivíduos “podem usar a autolesão como um recurso por muitos anos”, completa.

Aline Conceição da Silva e Kelly Graziani Vedana – Foto: Reprodução/Lattes

Sobre o lançamento do e-book, Aline diz que busca oferecer “ao público e profissionais da saúde todo conhecimento possível sobre a ALNS e mostrar como é um problema sério. Com tantos adolescentes e jovens adultos sofrendo, precisamos de pessoal capacitado para identificar, acolher e ajudá-los”. E, com mais conhecimento circulando, a pesquisadora acredita que as pessoas poderão dialogar melhor sobre a questão e tratá-la de maneira mais eficiente e imediata.

O material também teve a participação de José Carlos Pereira dos Santos, especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria e professor da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, em Portugal.

Fonte
Jornal da USP
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