Como limpar o ar? Como desinfectar um ambiente? Como melhorar o tratamento da água e a qualidade do ar? Como fazer vinhos? Como melhorar a qualidade dos alimentos? Como gerar hidrogênio a partir de fontes limpas? Todas essas perguntas interessam à ciência e têm em comum uma solução: as tecnologias de oxidação avançada (ou dos processos avançados de oxidação). Esses temas também fazem parte das pesquisas e de tecnologias inovadoras realizadas na Universidade Federal de Santa Catarina, que será sede, em 2024, de um dos principais eventos internacionais da área.
De acordo com a professora Regina Peralta, do departamento de Engenharia Química e de Alimentos da UFSC, os processos de oxidação avançada são tecnologias ambientalmente amigáveis, que costumam compor o tratamento de materiais perigosos. Mas o fato de ser muito versátil faz com que outras aplicações sejam possíveis em diversos setores, como por exemplo a produção de combustíveis renováveis e vários outros. “Há benefícios para diversas áreas, desde a agricultura, até a produção de vinhos, conservação de alimentos, saúde e mesmo na produção de materiais usados na construção civil”, explica.
Do ponto de vista químico, a oxidação avançada consiste na geração de radicais livres – especialmente o radical hidroxil (∙OH) – que é altamente oxidante e pode reagir não seletivamente com inúmeros compostos, de forma mais eficiente. “Um dos exemplos que podemos ver dessas tecnologias no dia a dia envolve o uso de substâncias ativas sob luz que são incorporadas em pisos e azulejos e assim esses materiais desenvolvem propriedades bactericidas e são superfícies autolimpantes”, explica Regina, que é presidente do Comitê Organizador da VI Iberoamerican Conference on Advanced Oxidation Technologies (CIPOA), evento internacional sobre essa tecnologia que ocorrerá na UFSC, em outubro deste ano.
A professora explica que há um conjunto extenso e longo histórico de pesquisas na UFSC que se amparam nesta técnica para garantirem inovação. Algumas são orientadas por ela no Laboratório de Energia e Meio Ambiente, mas outras ocorrem em áreas do conhecimento completamente distintas, como a Odontologia, Aquicultura ou Engenharia de Alimentos. “Processos que utilizam o ozônio, radiação ultravioleta, energia solar, peróxido de hidrogênio, por exemplo, estão relacionados à oxidação avançada”, comenta.
Segundo Regina, o meio ambiente tende a se beneficiar da aplicação dessas tecnologias, já que permitem que determinados processos se tornem mais sustentáveis – como na indústria têxtil, por exemplo, que costuma trabalhar com muitos contaminantes da água. “São técnicas químicas ambientalmente amigáveis”, pontua. “Podem ser utilizadas desde a escala laboratorial até industrial, de forma isolada ou combinada ou com processos híbridos”, reforça.
A desinfecção e redução de poluentes em água, o combate a microrganismos patogênicos e o controle da germinação de sementes, a degradação e remoção de fármacos, a produção de materiais tecnológicos com funções autolimpantes e sanitizantes, a produção de hidrogênio verde e outros combustíveis renováveis são algumas das potencialidades dos processos, que também será aplicado em um reator piloto que será desenvolvido para a Petrobras em uma parceria recente firmada com a UFSC.
Evento será realizado em outubro
A VI Iberoamerican Conference on Advanced Oxidation Technologies (CIPOA) será realizada de 7 a 11 de outubro, mas sua organização começou ainda no ano passado. Regina, que é coordenadora geral, explica que pretende que esse evento seja um marco importante para a área. “Há assuntos muito atuais, como as aplicações ambientais, o novo marco regulatório do saneamento que deverá garantir que 99% da população tenha acesso à água potável e 90% com tratamento e coleta de esgoto até 2033, a transição energética e as iniciativas de descarbonização, que estão diretamente relacionadas a essas tecnologias”, argumenta. É justamente essa atualidade e a interdisciplinaridade que ela pretende usar como foco do evento.
“A química das reações envolvidas já é conhecida há bastante tempo e começou a ser pensada junto com os debates sobre escassez de água e transição energética, mas a versatilidade fez com que se expandisse nas suas aplicações”, comenta. Mesmo na pandemia de Covid-19, as tecnologias de oxidação avançada estiveram presentes – ela, por exemplo, buscou entender se era possível tornar as máscaras mais eficientes por meio desses processos.
“Nossa proposta é que não só químicos e engenheiros químicos ou ambientais se envolvam com essas discussões visto que o assunto é pesquisado em diferentes áreas do conhecimento”, complementa. Palestrantes de países como Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha, Espanha e França já estão confirmados. Universidades brasileiras como a Universidade de Campinas e Federal do Rio de Janeiro terão alguns de seus pesquisadores mais reconhecidos como convidados. A participação de setores importantes da indústria é muito bem-vinda, com algumas presenças já confirmadas. O evento também premiará os pesquisadores que se destacam na área.
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