Eleita Miss Brasil Transex em 2017, a representante de Canoas na disputa, Desire Oliveira, carrega consigo uma determinação diferente da maioria das pessoas. Transexual, desde pequena sofre as consequências do preconceito. Mesmo que já tenha sido espancada, humilhada e alvo de deboche, ela usa essas situações como combustível para lutar contra a transfobia.
“Nunca me vi como menino, meu sonho, quando criança, era ter uma festa de 15 anos. Nesta condição, as pessoas debochavam de mim na rua, me chamavam, por exemplo, de aberração, mas isso nunca me atingiu. Pelo contrário, me deu forças para lutar”, conta. Para viver como se via, na condição feminina, Desire sabia que precisava conquistar a independência. “Estudar e trabalhar sempre foram metas da minha vida. Ao lidar com o preconceito, tive que amadurecer muito rápido e buscar o meu caminho”.
Junto do trabalho formal veio o respeito e admiração de toda a família e das pessoas mais próximas. “Mostrei para todo mundo que eu teria meu trabalho digno, que me respeito e tenho respeito por eles. Vejo que o caminho para nós, travestis e transexuais, é este: conquistar nossos espaços aos pouquinhos, numa luta diária”. Nesse momento, ela também foi convidada para trabalhar como modelo numa agência nacional, sendo a primeira trans a assinar a contrato com uma empresa de moda. E, a partir daí, o mundo das passarelas se mostrou um novo ramo de trabalho e de inserção social para Desire. Hoje, ela se divide entre campanhas publicitárias, competições de beleza e o trabalho no salão.
Em 2015, Desire foi eleita como Miss Trans Diversidade de Canoas e, em 2017, conquistou o título de Miss Brasil Transex. Ela pretende aproveitar a visibilidade do título para defender a causa LGBT. “Quero ser uma porta-voz das pautas da comunidade. Vou usar a minha história para quebrar os preconceitos, essa é a função desta faixa que uso”, comenta. Com a força e a capacidade de transformar as adversidades da vida em vontade de vencer, ninguém duvida que Desire será protagonista nessa luta.