Saúde

As perguntas que o paciente deve fazer ao médico

Por Antônio Augusto Dall’Agnol Modesto*

Médicas e médicos de família e comunidade costumam se preocupar com a qualidade da comunicação e da relação com seus pacientes, tendo no método clínico centrado na pessoa uma de suas habilidades mais importantes. A literatura e o contato com as pessoas nos ensinam a valorizar a expressão livre, sem interrupções; a acolher dúvidas, ideias e resistências; e a esclarecer antecipadamente riscos e benefícios das intervenções consideradas.

A comunicação, no entanto, é essencialmente relacional, dependendo também da pessoa que consulta. Porém, a diferença de poder entre os dois atores da consulta ou outras características do encontro (como sua duração) podem criar situações em que o diálogo não seja favorecido, e a pessoa deixe a consulta com dúvidas ou tome decisões sobre sua saúde com menos informações do que deveria.

Baseado na iniciativa “Choosing Wisely” (que, em geral, sugere cinco perguntas) e em minhas experiências enquanto médico e paciente, sugiro seis perguntas que as pessoas deveriam fazer a seus (suas) médicos(as) em uma consulta. Elas visam promover o empoderamento dos sujeitos quanto à própria saúde, e podem também ajudar profissionais de saúde em geral (não só médicos/as das diversas especialidades) em busca de uma prática eticamente justificável e atenta às questões das pessoas.

1 –  O que acontece se eu não fizer esse exame ou tratamento?
Médicos(as) podem indicar exames ou tratamentos por diferentes motivos: melhorar sintomas, afastar doenças raras, diminuir complicações, aumentar a expectativa de vida e, infelizmente, por influência da indústria farmacêutica. Assim, convém não tomar a indicação médica como verdade absoluta e perguntar sobre a possibilidade de não fazer nada.

2 – Quais são os riscos desse exame ou tratamento?
Todos os medicamentos ou exames têm riscos de efeitos colaterais: um anti-inflamatório pode dar alergia, um hemograma pode levar a uma infeção de pele, uma vacina pode levar a uma paralisia dos membros. As decisões em saúde devem pautar-se pelo primum non nocere, “antes de tudo, não prejudicar”.

3 – Existem alternativas mais simples e seguras?
Médicos indicam intervenções conforme suas experiências: médicos que atenderam muitas pessoas com doenças muito graves tendem a ser mais invasivos (pedirem mais exames, prescreverem mais tratamentos), o que nem sempre corresponde à preocupação ou à necessidade daquela pessoa em específico. Alternativas mais simples podem ser tentadas em muitas situações, como não prescrever um antibiótico na primeira avaliação – o bom e velho “tome uma dipirona e vamos observar”.

 4 – Que despesas terei, e por quanto tempo?
É desnecessário dizer como tratamentos podem ser caros, e é importante que os(as) profissionais entendam os limites das pessoas que atendem, e o quanto pretendem investir. Mesmo que o acompanhamento seja feito em serviços públicos de saúde, pode ser necessário, por exemplo,  comprar um remédio que esteja em falta.

5 – Que efeitos colaterais posso esperar com esse tratamento ou exame?
Terei algum tipo de limitação ou precisarei de algum tipo de ajuda? Como dissemos acima, exames e tratamentos podem ter efeitos indesejáveis. Muitos(as) médicos(as) têm receio de que, orientando as pessoas previamente sobre efeitos colaterais mais comuns, elas desistam de usar uma medicação ou fiquem tão preocupados que “acabem sentindo aquilo mesmo”. No entanto, cada pessoa tem direito a escolher que efeitos colaterais prefere enfrentar ou não. Sonolência, por exemplo, pode não ser um problema para uma dona-de-casa jovem, mas certamente será para um motorista de ônibus; por outro lado, esse talvez possa tolerar algum ganho de peso com um tratamento, enquanto a outra, não.

 6 – O que devo fazer se tiver alguma dúvida?
Pode ser que sua médica ou médico não lhe dê seu número de telefone, mas você precisa pelo menos saber a quem procurar se tiver algum problema: um profissional disponível na mesma clínica, um pronto-socorro, uma equipe de acolhimento, o telefone da recepção etc.

*Médico de Família, membro da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) e doutor em Medicina Preventiva pela Faculdade de Medicina da USP 

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