Ninguém os dispensa, nem mesmo durante os concertos, para fotografar, filmar, enviar mensagens de texto, consultar o e-mail, compartilhar o momento nas redes sociais, navegar na Internet ou simplesmente telefonar. Os celulares tornaram-se uma parte integrante da paisagem de qualquer espetáculo neste milênio e o fenômeno que é por demais evidente quando os artistas interpretam o tema pelo qual a assistência suspirou durante todo o concerto, transformando subitamente o recinto num infindável mar de pontinhos luminosos.
Se os circuitos pop e rock são aqueles onde é mais evidente esta tendência, já nem a música clássica escapa aos seus efeitos. Há poucas semanas, o contratenor Rupert Entiknap, interrompeu uma atuação em Londres por causa de um espectador que insistia em não largar o smartfone.
Mas o que começou por ser um sinal de desagrado dos artistas perante o alheamento do público ou a obsessão em registar o momento, tornou-se, nos últimos tempos, num autêntico movimento contra o peso excessivo dos celulares. A proibição total do seu uso durante os concertos foi o passo seguinte.
E a divulgação da música?
Apesar de ser “uma solução demasiado radical, que sugere uma certa infantilização dos espectadores”, como a define a cantora portuguesa Ana Deus, há um número crescente de artistas ou grupos a adotá-la, em nome do regresso a um espírito de fruição do momento.
Apesar de tudo, nem todos os artistas são contra o uso de smartfone, porque o compartilhamento de uma imagem ou de um vídeo pode ser importante para divulgar a música, contudo, existe uma diferença clara entre quem “tira uma fotografia e quem filma o espetáculo na totalidade”.
“É proibido proibir”?
Temos que reconhecer “os comportamentos abusivos” de quem não larga o celular nos concertos, desrespeitando tanto os músicos como os espectadores vizinhos. Ainda assim, a medida radical de proibir a utilização nos eventos, por “entrar na esfera individual”, e pode se um ato de censura, porque o artista obrigaria o espectador a ter determinado comportamento e isto pode ferir os direitos do espectador.
Se a história recente prova que os EUA são precursores em movimentos que rapidamente se alastram pelo Mundo (como as medidas antitabagismo), neste caso em concreto as dúvidas são bem maiores. Até do ponto de vista cultural. Exemplo nos países do sul da Europa, em que os avisos para desligar os celulares antes dos espetáculos são ignorados e o controle torna-se muito difícil, ao contrário do que acontece nas nações nórdicas. Nos EUA, à mínima infração confiscam o aparelho e ponto final.