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Cerca de 6,5 milhões de pessoas fazem trabalho voluntário no país

Quatro em cada dez pessoas realizaram algum trabalho voluntário, em 2016, no país. Em números absolutos foram 6,5 milhões de pessoas, o que representa 3,9% da população de mais de 14 anos. A informação foi revelada pelo módulo Outras Formas de Trabalho, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), que mostrou também que a proporção é um pouco maior entre mulheres (4,6%) que homens (3,1%) e maior nas regiões Norte (5,6%) e Sul (5,0%), enquanto Nordeste (3%) apresentou a menor taxa.

A pesquisa considera trabalho voluntário aquele não compulsório, sem que se receba nenhuma remuneração em dinheiro ou benefícios, realizado por pelo menos uma hora por semana. Além disso, é necessário que esse tipo de trabalho produza bens ou serviços para terceiros, isto é, pessoas que não moram na mesma casa que o voluntário e não sejam parentes. Segundo a pesquisadora do IBGE Alessandra Brito, como se trata de um tema novo, a tendência é que a captação desse número cresça nas próximas pesquisas. “Agora que a gente começou a divulgar o que é, para PNAD Contínua, trabalho voluntário, as pessoas começaram a se perceber fazendo: que não é só ONG, mas por exemplo, aquele que sempre ajuda o vizinho, seja trocando uma lâmpada, ou com outros serviços”, explicou.

A pesquisa revelou que a grande maioria entre os que responderam ser voluntários o fez por meio de Organizações Não Governamentais ou empresas (91,5%). O restante o fazia individualmente. Quanto aos locais de realização, 81,5% era em congregações religiosas, condomínios, sindicatos, partidos, escolas, hospitais ou asilos. Apesar de as ONGs serem bem conhecidas por ofertar esse tipo de trabalho, foram citadas junto a outras associações e grupos como local de trabalho por apenas 12,8% dos voluntários.

Alessandra conta que o IBGE seguiu o acordado na 19ª Conferência Internacional de Estatísticas do Trabalho (CIET) ao incluir essas novas formas de trabalho na pesquisa, bem como as definições de trabalho voluntário pela Organização Internacional do trabalho (OIT). “O IBGE está sendo pioneiro em incorporar essa avaliação em pesquisas domiciliares”, afirma.

Viva e Deixe Viver está presente em oito estados

Regina Porto, 66 anos, foi trabalhar em São Paulo quando, junto com outros colegas de empresa, optou por iniciar um projeto voluntário usando o livro, a leitura e a contação de histórias para crianças e adolescentes em hospitais. Eles iniciaram há 20 anos a Associação Viva e Deixe Viver, que hoje já conta com mais de 1.400 voluntários em 8 estados: Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Ceará.

Para ela, a melhor recompensa do trabalho voluntário é a doação do seu tempo para o encontro com o outro, uma doação de igual para igual, sem ser movida por pena. “Porque você não pode fazer nenhum trabalho voluntário, nenhum trabalho de doação, se você começar com um olhar de pena do outro. O nosso projeto se chama Viva e Deixe Viver, isso é um ditado budista, que é: viva a sua vida, e deixe o outro viver a vida dele, independente se a vida dele está num bom momento ou não. Você não pode interferir. Você nunca vai sentir a dor do outro. O que você pode fazer é minimizar esse sofrimento do outro através de um olhar positivo”, explicou.

Depois de aposentada, em 2005, Regina voltou para sua cidade natal, no Rio, criando o Instituto Rio de Histórias, que atua em 24 hospitais na região metropolitana. Sobre a baixa porcentagem do voluntariado no Brasil, Regina comenta que, no início, era um trabalho árduo conseguir captar voluntários, pois apesar de acharem o trabalho bonito, as pessoas não aderiam com a justificativa do medo de entrar em hospitais. Segundo ela, esse medo é desconstruído durante uma capacitação inicial. Hoje, graças principalmente ao boca-a boca, já há uma grande procura e anualmente se inscrevem muitas pessoas no projeto: “Mas embora a gente tenha um treinamento longo, nos primeiros três meses de trabalho dos voluntários há 30% de perda”, contou.

A taxa de realização de trabalho voluntário é maior entre as mulheres e pessoas ocupadas, segundo a PNAD, fato também observado em todas as Grandes Regiões. Na Associação Viva e Deixe Viver, as mulheres no mercado de trabalho também são a maioria. Segundo Regina, nesse perfil “elas arranjam o tempo, têm essa consciência que quando você trabalha, você acaba tendo: esse olhar de que, para a roda girar, você precisa fazer alguma coisa além do trabalho formal”.

Uma dica que a fundadora do Instituto dá para quem quer iniciar um voluntariado é seguir seu gosto pessoal e fazer o que dá prazer. “Trabalhar, a gente trabalha onde dá, onde a gente consegue, muitas vezes não é o que a gente quer fazer, mas a gente precisa sobreviver. Mas quando você tem a oportunidade de optar por se doar ou doar seu tempo, você tem que escolher alguma coisa que realmente o faça feliz”.

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