Pacarana é encontrada em reserva no Acre

Um gupo de Dinomys branickii – animal conhecido como “pacarana” ou “paca-de-rabo” – foi registrado em vídeo pela primeira vez na Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre. Esse é o principal resultado que um monitoramento inédito, conduzido pelo WWF-Brasil junto a vários parceiros no Acre desde o final do ano passado, que está monitorando a fauna da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, no município de Xapuri. Acesse o vídeo aqui
A pacarana é uma espécie com escassas informações científicas disponíveis sobre ela. Existem poucos registros dela na natureza e, segundo a lista da IUCN que mede o grau de risco de extinção de diversos animais, ela é classificada como “vulnerável”. A caça e a destruição de floresta são as maiores ameaças a este animal. No Brasil, ele já havia sido registrado antes no Acre, mas ele ocorre com mais frequência em outros países como Bolívia, Peru e Colômbia.
A pacarana é, atualmente, o único representante vivo da família de roedores conhecida por Dinomyidae. Esse grupo possuía grande diversidade de espécies e deu origem a alguns dos maiores roedores que já viveram na América do Sul. O parente mais famoso da pacarana é o animal pré-histórico Josephoartigasia monesi – que é considerado o maior roedor já registrado pela Ciência e que chegava a pesar mais de uma tonelada .


Regras e recursos

Para o biólogo e analista de conservação do WWF-Brasil Felipe Avino, o registro dessa espécie é um indicativo de que a exploração da floresta e a manutenção da fauna podem coexistir. O local onde foi feito o registro – a Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes – foi criada em 1990 e possui mais de 950 mil hectares. Ela se espalha por nove cidades do Acre e possui cerca de 10 mil pessoas morando em seu interior.

Armadilhas fotográficas

O registro em vídeo da família de pacarana só foi possível por conta de um novo projeto que o WWF-Brasil tem conduzido nas florestas acrianas. No final do ano passado, um conjunto de armadilhas fotográficas foi instalado no interior da Resex Chico Mendes. Elas servem para monitorar a fauna daquela unidade de conservação e ajudar a qualificar a exploração madeireira feita pelos extrativistas da reserva: para continuar extraindo e comercializando madeira, os comunitários precisam provar que esta atividade econômica não provoca impacto na vida dos animais daquele local. As câmeras ajudam a monitorar esse impacto.
Estão espalhadas no interior da Resex 8 armadilhas fotográficas que fizeram, desde dezembro de 2017, 120 registros. Cada armadilha está a um quilômetro de distância da outra. Mais de vinte espécies diferentes de animais foram flagradas pelas câmeras. Além da família de pacarana, outros bichos fotografados ou filmados foram tatus (Dasypus sp), veados (Mazama sp.), macacos-guariba (Alouatta seniculus), macacos-prego (Cebus apela), jaguatiricas (Leopardus pardalis), gambás (Didelphis albiventris), jacamim-de-costas-cinzentas (Psophia crepitans) e cutias (Dasyprocta agouti).
A instalação das 8 armadilhas ocorreu no início de dezembro, em oficinas que reuniram cerca de 20 extrativistas e treinaram 4 deles para serem os “operadores locais” dos equipamentos. Para ampliar o monitoramento, ao longo de 2018, outras 12 câmeras serão instaladas. A previsão é de que a instalação dos novos equipamentos ocorra no final de abril.

Parcerias

Este trabalho não seria viável, no entanto, sem apoio local. Uma das entidades parceiras nesta iniciativa é a Cooperativa dos Produtores Florestais Comunitários (Cooperfloresta), que atua na exploração sustentável de madeira na Resex Chico Mendes. Engenheiro florestal da Cooperfloresta, Jardel Freitas contou que os comunitários estão bem entusiasmados com o monitoramento da fauna. A Associação dos Moradores e Produtores da Resex Chico Mendes em Xapuri (Amoprex) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) são outras duas instituições parceiras deste trabalho.

Como funciona?

O uso de armadilhas fotográficas tem sido, em anos recentes, uma das maiores ferramentas de monitoramento de biodiversidade, sendo utilizadas por pesquisadores do mundo inteiro. A Rede WWF desenvolve uma série de iniciativas ligadas a essas armadilhas fotográficas. As armadilhas fotográficas nada mais são que câmeras normais equipadas com pequenas melhorias tecnológicas, apropriadas para o ambiente selvagem. Elas ficam escondidas e amarradas em árvores, funcionando como sensores de luz – toda vez que um animal passa pela frente do equipamento, a câmera tira uma foto ou inicia uma gravação audiovisual.
Essas câmeras filmam em infravermelho, ou seja, gravam bem à noite sem necessitar de luz adicional, e não espantam ou agridem os animais. Por isso, elas vêm sendo cada vez mais adotadas por conservacionistas ao redor do globo.
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