De acordo com o MME (Ministério de Minas e Energia), o que se pretende é a implementação de uma política pública que traga previsibilidade ao mercado de biocombustíveis, em coexistência harmônica com os combustíveis fósseis, por meio de um estímulo à constante inovação. Porém, o decreto não traz qual o percentual esperado de aumento na produção. Uma das principais novidades é a criação do CBIO (Crédito de Descarbonização por Biocombustíveis), que valerá para precificar a contribuição individual de cada agente produtor e transformar a troca de combustíveis fósseis por limpos em créditos no mercado de carbono.
Os transportadores reconhecem o potencial estratégico do RenovaBio, mas alertam que é imprescindível respeitar os interesses dos consumidores, mitigando possíveis impactos negativos em suas atividades. “Já há análises que indicam a possibilidade de aumento dos preços dos combustíveis fósseis com a implementação do programa, o que pode ocasionar consideráveis prejuízos financeiros para os transportadores – sobretudo aos caminhoneiros autônomos – e, até mesmo, inviabilizar a sua atuação no mercado”, informa o presidente da CNT (Confederação Nacional do Transporte), Clésio Andrade.
Em nota explicativa divulgada pelo MME, consta que “os impactos ao consumidor serão decorrentes – em maior ou menor grau – em função da intensidade de carbono pretendida ao final do horizonte temporal da meta a ser imposta”. A referida nota relata que os distribuidores de combustíveis deverão comprar CBIOs no mercado financeiro, obrigação que, possivelmente, ocasionará custos adicionais a esses agentes. Assim, acredita-se que o CBIO possa vir a ser um custo operacional das distribuidoras que, por sua vez, poderão aumentar o preço do combustível fóssil na bomba para o consumidor final.
O presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Antonio Megale, por sua vez, afirma que a indústria automobilística apoia o RenovaBio pela importância de se planejar a matriz energética brasileira e fortalecer os biocombustíveis, mas não deixa claro se o setor está preparado para encampar essa nova agenda. “Entendemos que essa é uma medida que está em linha com a tendência de redução das emissões dos gases de efeito estufa e também com o desenvolvimento da nossa indústria de etanol e do biodiesel.”
O programa
Para tal, serão fixadas metas nacionais de redução de emissões, definidas para um período de dez anos. Elas serão desdobradas em metas individuais e anuais, compulsórias para todos os distribuidores, conforme a participação no mercado. Também haverá certificação da produção com notas diferentes para cada produtor, inversamente proporcional à intensidade de carbono do biocombustível produzido. Os produtores passarão a ser certificados por firmas inspetoras credenciadas pelo MME.
Setor aéreo
Nesse sentido, o presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), Eduardo Sanovicz, explica que, como parte dos esforços para viabilizar o bioquerosene, a aviação comercial acompanha o desenvolvimento do RenovaBio. “O setor propõe ajustes no programa que garantam as atuais bases de custo da indústria aérea e criem instrumentos para fomentar a consolidação de bioquerosene de aviação em todo o território nacional”, diz.