Laqueadura no parto
Mãe de duas crianças, Bianca da Cruz, conseguiu fazer a laqueadura há dois meses, na mesma cirurgia de nascimento de seu terceiro bebê, por intervenção da defensoria. “O [filho] mais velho eu tive com 18 anos, o outro, com 22 anos, o terceiro, nasceu agora, no dia do meu aniversário, quando fiz 25 anos e eles me operaram. Mas o médico não queria, disse que eu era nova, que poderia ter outro casamento, outro filho, mas eu estava firme e queria a laqueadura”, disse. A cirurgia de Bianca só foi possível porque a Defensoria Pública também tem solicitado autorização para que a esterilização seja feita durante o parto por cesariana, em alguns casos, o que é proibido por lei – uma tentativa de evitar decisões precoces, procedimentos arriscados ou contra a vontade das mães. Porém, na avaliação de Alessandra, para muitas mulheres não haverá outra oportunidade de se submeter a outra cirurgia e se afastar de suas funções cotidianas.
“Fazer com que uma mulher que já têm filhos, por exemplo, bebês, que já têm de enfrentar toda essa situação, que está se recuperando de um parto, esperar mais 60 dias para fazer a laqueadura é muito difícil”, disse a defensora. “Depois, quando ela estiver bem, voltando a para suas atividades, voltando ao trabalho, irá novamente para o hospital?”, questionou.
De acordo com a Defensoria Pública , a mulher corre menos riscos quando é tudo feito de uma só vez e custo passa a ser menor para o serviço de saúde, por aproveitar a equipe medica no momento do parto cesárea, a internação e a ocupação de um leito, por exemplo.
Política de planejamento familiar
No entanto, a médica Jurema Werneck, diretora da Anistia Internacional, especialista em temas relacionados à raça, gênero, alerta que as laqueaduras não podem ser oferecidas no lugar de métodos contraceptivos gratuitos, o que também é direito da mulher. “A laqueadura não é um método é uma cirurgia de esterilização irreversível e não protege de doenças sexualmente transmissíveis como HIV/Aids, gonorreia e sífilis, que agora está voltando”, afirmou. Até a década de 1990, lembra, a técnica foi usada “de forma perversa” contra mulheres pobres, negras e indígenas, como forma de controle da natalidade forçado. Hoje, acaba sendo uma saída para mulheres que não conseguem negociar a relação sexual com seus parceiros, reflexo do sexismo, avaliou.
Segundo a médica, a laqueadura, por seu uma cirurgia e envolver riscos, além de efeitos colaterais, deve ser a última escolha. “Essa opção pode ser lida tanto pela chave da impotência [da mulher], quando o serviço [de saúde] não oferece métodos contraceptivos nem para ela nem para o parceiro, da misoginia e do sexismo, fazendo com que o parceiro recuse o uso, mas também pode ser uma tentativa legítima da mulher garantir uma autonomia”, disse.
De acordo com o Ministério da Saúde, a cirurgia deve ser oferecida em qualquer unidade que atenda ginecologia, obstetrícia ou maternidade. As mulheres podem fazer a solicitação já no pré-natal e devem receber informações sobre riscos, efeitos colaterais, além de esclarecimentos sobre outros métodos contraceptivos eficazes e reversíveis como o DIU. O dispositivo teve a distribuição aumentada e é oferecido nos postos de saúde e maternidades. Nas contas preliminares da pasta, em 2017, foram feitas pelo SUS mais de 60 mil cirurgias de laqueadura, sendo 30,4 mil junto com as cesarianas.