A catarata, problema na opacidade do cristalino que dificulta a realização de atividades comum no dia a dia, como ler, por exemplo, é uma doença milenar que acomete, principalmente, os idosos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a catarata é responsável por 51% dos casos de cegueira no mundo, o que representa cerca de 20 milhões de pessoas.
Apesar deste cenário parecer desalentador, os avanços nos tratamentos de doenças oculares e no estado da arte da cirurgia oftalmológica continuam crescentes. A Dra. Renata Attanasio de Rezende Bisol (CRM-SP 52 66927-0), membro da Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa (ABCCR-BRASCRS) e diretora de Cursos e Publicações (Seção Catarata) do XVIII Congresso Internacional de Catarata e Cirurgia Refrativa*, destaca alguns pontos importantes sobre os novos tratamentos para catarata que serão apresentados e debatidos durante o evento científico que reunirá importantes nomes da oftalmologia nacional e internacional. Confira.
1. Quais os principais avanços no tratamento da catarata?
Por enquanto não há terapia clínica para a catarata. A partir do momento que o oftalmologista faz o diagnóstico e que existe repercussão clínica, o único tratamento eficaz é o cirúrgico onde se substitui o cristalino opaco por uma lente intraocular transparente. Pesquisas e estudos experimentais têm sido realizados em animais com o uso de colírios contendo substâncias como a N-acetil-carnosina, antioxidante que parece prevenir e até mesmo dissolver complexos proteicos causadores de certas opacidades cristalinianas. Os avanços no tratamento cirúrgico da catarata nos últimos anos foram diversos e pode-se destacar:
– A redução gradual do tamanho das incisões, viabilizada por conta das modificações nas ponteiras dos aparelhos de facoemulsificação e disponibilidade de cartuchos mais finos permitindo o implante da lente intraocular (LIO) por incisão cada vez menor;
– A introdução do LASER de femtosegundo que possibilitou uma maior precisão e reprodutibilidade na arquitetura das incisões, no tamanho da capsulorrexe, além de auxiliar nas fraturas da catarata reduzindo assim o gasto de poder de facoemulsificação diminuindo, desta forma, o trauma cirúrgico;
– Disponibilidade de viscoelásticos que oferecem maior proteção das estruturas intraoculares como íris, endotélio e cápsula do cristalino;
– Facoemulsificadores com melhor controle de fluídica, permitindo melhor controle da profundidade da câmara anterior e redução do efeito surge associado a menor poder de faco com mecanismos de movimentação torcional da ponteira com alta eficácia e baixa energia, gerando menos trauma aos tecidos e reduzindo complicações, como roturas da cápsula posterior;
– Desenvolvimento de aparelhos que realizam medidas pré-operatórias do grau da lente intraocular a ser implantada (biometria) mais precisas e introdução de fórmulas biométricas com melhores resultados refracionais até mesmo em olhos cuja anatomia fogem do padrão usual (muito longos, curtos ou submetidos a cirurgias refrativas prévias);
– Desenvolvimento de técnicas mais precisas de medidas de eixo para implante de LIOs tóricas, sendo disponível inclusive sistema cuja visualização do eixo aparece na imagem do microscópio cirúrgico;
– Desenvolvimento de lentes intraoculares que visam correção das diversas ametropias prévias com enfoque do tratamento da presbiopia cujas lentes de foco estendido e as trifocais vêm mostrando resultados promissores quando comparadas às de geração anterior.
2. Sabe-se que a cirurgia é o tratamento padrão ouro para este problema. Existe alguma nova técnica cirúrgica?
Além das inovações descritas acima pode-se destacar a introdução de recursos que vieram melhorar os resultados e reduzir complicações cirúrgicas em casos desafiadores, como anéis dilatadores de pupila, diferentes modelos de segmentos de anel capsulares e anéis de tensão capsular com e sem fixação. Desenvolvimento de diversas técnicas de fixação de lentes intraoculares com e sem sutura que permitem implantes de LIOs sem suporte capsular e centralização destas em caso de subluxação.
3. Em relação aos medicamentos, existe algum que pode amenizar/reduzir a catarata? Em caso positivo, como o ativo age impedindo a progressão da catarata?
Por enquanto não há nenhum tratamento medicamentoso que comprovadamente previna ou reduza o desenvolvimento de catarata em olhos humanos. Sabe-se que o estresse oxidativo é cataratogênico. Consequentemente, os antioxidantes agiriam na prevenção do desenvolvimento e/ou da progressão da catarata. Desta forma medidas como a redução da ingesta de bebidas alcoólicas, do tabagismo da exposição aos raios UVB e uma dieta rica em vitaminas A,C e E e betacaroteno foram consideradas protetoras para o desenvolvimento de catarata por alguns autores. A carnosina é um antioxidante natural produzido por diversos tecidos de mamíferos e encontrada em quantidade reduzida em cataratas senis. Na tentativa de aumentar a biodisponibilidade da carnosina, foi sintetizada a N-acetilcarnosina (conhecida como Can-CTM) que vem sendo administrada como colírio 2x ao dia em animais para a prevenção da catarata.
4. Quais os principais fatores de influencia no desenvolvimento da catarata e como eles podem ser evitados?
O principal fator de risco para a catarata é a idade, ou seja, o envelhecimento. Outros fatores importantes para o desenvolvimento da catarata são tabagismo, Diabetes Mellitus, exposição à radiação ultravioleta (UV), principalmente raios UVB, uso de corticoide oral e tópico. Condições como alta miopia, redução de estrogênio pós-menopausa, genética, estado nutricional e relação entre índice de massa corporal o consumo de gordura e o desenvolvimento e a progressão de catarata, especialmente a do tipo sub capsular posterior. Parece haver um efeito citotóxico das gorduras insaturadas nas células epiteliais do cristalino moderado pelo aumento de albumina do humor aquoso que ocorre com o envelhecimento.
5. Existe uma nova tendência no tratamento da catarata?
Existe uma tendência que o tratamento cirúrgico da catarata seja mais precoce que antigamente diante dos excelentes resultados, benefícios refracionais associados e menor risco de complicações quando a catarata não está avançada.
6. Quais os principais aspectos para o tratamento da catarata que serão apresentados no Congresso?
No congresso serão apresentadas técnicas cirúrgicas do básico ao avançado. Serão oferecidos cursos teóricos e práticos com treinamento em dry lab (simulador Kitaro) e wet lab de capsulorrexe, facoemulsificação, implantes de lentes tóricas, fixação de LIOs, transplantes lamelares. Simpósios com casos clinico-cirúrgicos de córnea, catarata e glaucoma, cursos teóricos e painéis que terão objetivo de melhorar resultados cirúrgicos, auxiliar na escolha da melhora lente intraocular para cada caso, reduzir complicações, e apresentar dicas de como abordar casos desafiadores de córnea e catarata, e como resolver complicações cirúrgicas.
Inovações tecnológicas serão apresentadas na área da propedêutica do pré-operatório e da cirurgia propriamente dita, com avanços dos aparelhos, modelos novos de lentes intraoculares, indicação e técnica de uso de crosslinking e implantes de anéis corneanos de novo desenho para tratamento de ceratocone, uso de cola biológica no tratamento do pterígio.
As diversas técnicas de cirurgia refrativa serão discutidas incluindo aquelas realizadas com LASER e as de implantes de lentes fácicas. Também serão apresentadas atualizações no diagnóstico e tratamento do olho seco e lentes de contato especiais para tratamento de córneas irregulares. Enfim o congresso irá abordar de forma interativa todos os assuntos mais importantes da área de catarata, córnea e refrativa.
7. Espaço para comentar outros pontos que não foram questionados acima.
Apesar de ser uma cirurgia muito segura e com excelentes resultados é fundamental que não haja banalização do procedimento por conta da população e da Sociedade médica, pois trata-se de cirurgia detalhada e etapa dependente. O bom cirurgião de catarata é submetido a treinamento longo e complexo que envolve o desenvolvimento e treinamento de múltiplas habilidades, como movimentos manuais finos com uso do microscópio cirúrgico e treinamento simultâneo do uso de pedais do microscópio e do facoemulsificador. Cada paciente deve ser avaliado detalhadamente pelo oftalmologista e a técnica cirúrgica utilizada e a lente intraocular deverão ser indicadas de forma personalizada.
Promovido pela Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa (ABCCR/BRASCRS), a programação científica do Congresso abordará temas, como tratamento e prevenção em cirurgia de catarata, cirurgia refrativa e córnea e controle da miopia. Incluem-se Patologias da Superfícies Ocular e Infecções, discussão das mais recentes novidades em transplante de córnea, Laser de Femtosegundo na Cirurgia da Córnea, Catarata e Cirurgia Refrativa, Novas Tecnologias na Cirurgia de Catarata, Córnea e Cirurgia Refrativa, avanços em Lentes intra-ocular Bifocais, Trifocais e Foco Estendido, Atualização na Avaliação e Tratamento do Olho Seco (Disfunção Glândulas Meibomius), e Opções Cirúrgicas Presbiopia. (*)
(*) Grade Científica completa: https://www.brascrs2018.com.br/evento/ciccr2018/programacao/aberta?grade=7
SERVIÇO
- XVIII Congresso Internacional de Catarata e Cirurgia Refrativa
- Data: 16 a 19 de maio de 2018
- Local: Transamérica Expo Center – São Paulo