As doenças sexualmente transmissíveis como sífilis, gonorreia e AIDS, afetam homens e mulheres e, até 1983, eram denominadas de doenças venéreas. O termo “grupo de risco” está sendo substituído por comportamento de risco – menos discriminatório e se relaciona com a forma como homens e mulheres praticam ou não o sexo seguro.
Nessa entrevista, Dr. Oskar Kaufmann (CRM-SP 104.028), urologista, especialista em cirurgia robótica em urologia, graduado em Medicina pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo e com doutorado pela Divisão de Clínica Urológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), responde 10 questões fundamentais sobre esse tema e apresenta orientações sobre prevenção.
Qual o conceito de uma DST?
Desde 1983, adotou-se o nome doenças sexualmente transmitidas (DST) para as afecções de transmissão sexual, de caráter endêmico e múltipla expressão. Doença sexualmente transmissível é a designação pela qual é conhecida uma categoria de patologias antigamente conhecidas como doenças venéreas. São doenças infecciosas que podem ser disseminadas através do contato sexual. Algumas podem também ser transmitidas por vias não sexuais, porém as formas não-sexuais de transmissão são menos frequentes.
Quais são os números das DSTs no Brasil e no mundo?
A Organização Mundial de Saúde estima que ocorram, no mundo, cerca de 340 milhões de casos de DSTs por ano. Nessa estimativa, não estão incluídos os casos de herpes genital e o HPV. Os números são alarmantes. Uma pesquisa recente realizada pelo Ministério da Saúde sugere que mais de 10,3 milhões de brasileiros já tiveram algum sinal ou sintoma de uma doença sexualmente transmissível (DST). Desse total, cerca de 18% dos homens e 11,4% das mulheres não buscaram atendimento médico. Os problemas causados pelas DSTs podem aumentar em até 18 vezes as chances de contrair o vírus da Aids (HIV).
Quais as DST mais comuns?
As DST são tidas como um grave problema de saúde pública, por afetarem muitas pessoas. Além disso, os sinais e sintomas são de difícil identificação. Uma das principais preocupações relacionadas às DST é o fato de facilitarem a transmissão sexual do HIV. Um grande número de infecções é transmitida predominantemente ou exclusivamente por contato sexual. Vários estudos mostram que as doenças sexualmente transmitidas afetam pessoas de ambos os sexos, de todas as raças e de todos os níveis sociais. Muitos dos casos são epidêmicos, incluindo gonorreia (uretrite gonocóccica), infecção da uretra não causada pela gonorreia (uretrite não gonocóccica), herpes genital, condiloma, escabiose e infecções na uretra e na vagina causadas pela bactéria Chlamydia trachomatis, pelo protozoário Trichomas e pelo fungo monilia.
Além das doenças epidêmicas que foram citadas acima, podemos incluir a sífilis, o chato (pediculosis pubis), infecção vaginal e outras. AIDS e a hepatite B são transmitidas através do contato sexual, porém estas doenças podem também ser transmitidas de outras formas. Quanto à gravidade, doenças como AIDS, sem uma vacina ou cura até o momento, hepatite B, que pode se tornar uma doença crônica levando à insuficiência hepática, e a sífilis, que se não tratada pode apresentar um quadro neurológico grave, representam ainda nos dias de hoje grandes desafios.
Quais os sintomas de uma DST?
As doenças sexualmente transmissíveis (DST) são causadas por vários tipos de agentes. São transmitidas, principalmente, por contato sexual sem o uso consistente da camisinha, seja feminina, seja masculina, com uma pessoa que esteja infectada e, geralmente, se manifestam por meio de feridas, corrimentos, bolhas ou verrugas. Algumas DST são de fácil tratamento e rápida resolução. Outras têm tratamento mais difícil ou podem persistir ativas, apesar da sensação de melhora. Mulheres, em especial, devem ser bastante atenciosas, já que, em diversos casos de DST, não é fácil distinguir os sintomas das reações orgânicas comuns de seu organismo. Isso exige da mulher consultas periódicas ao médico. Algumas DST, quando não diagnosticadas e tratadas a tempo, podem evoluir para complicações graves, como a Hepatite B. Outras DST (Aids e sífilis) também podem ser transmitidas da mãe infectada para o bebê durante a gravidez, o parto ou a amamentação. O tratamento das DST melhora a qualidade de vida da pessoa acometida, interrompe a cadeia de transmissão destas doenças e também diminui o risco de transmissão do HIV/Aids, pois as feridas nos órgãos genitais favorecem a entrada do vírus.
Existe um grupo de risco para as DSTs?
Atualmente, podemos concluir que a multiplicação dos grupos de risco para aquisição de DST/AIDS fez com que praticamente toda a população sexualmente ativa possa se contagiar. Além disso, acredita-se que o termo “grupo de risco”, além de discriminatório, está desatualizado, e que as chances de infecção são relacionadas mais ao comportamento que à opção sexual. Desta forma, faz-se necessário substituir o “grupo de risco” para “comportamento de risco” ao se avaliar as chances de contaminação pelas DST.
Os sinais de uma DST podem aparecer em diferentes regiões do corpo?
Apesar das doenças venéreas se manifestarem na genitália externa, elas podem atingir a próstata, o útero, os testículos e outros órgãos internos. Algumas dessas infecções causam apenas uma irritação local, coceira e uma leve dor, porém a gonorréia e clamídia podem causar infertilidade em mulheres.
Quais delas causam profundas conseqüências no organismo da mulher ou do homem?
Assim como qualquer doença, as DSTs, quando não tratadas, podem levar a consequências trágicas. Por exemplo, um HPV pode originar uma câncer de pênis no homem e câncer de colo de útero na mulher. Algumas uretrites mais graves podem levar a uma estenose da uretra (canal por onde passa a urina), sífilis pode originar consequências neurológicas graves, assim como promover o aparecimento de lesões genitais, que podem levar a cicatrizes e deformidades no corpo do pênis.
Pais infectados podem transmitir a doença para seus filhos?
As DSTs, quando acometem gestantes, podem atingir o feto durante seu desenvolvimento, causando-lhe lesões. Podem, também, provocar uma interrupção espontânea da gravidez (aborto), determinar uma gravidez ectópica (fora do útero) ou, ainda, causar o nascimento de crianças com graves má-formações. Durante o parto, podem atingir o recém-nascido, causando doenças nos olhos, pulmões, entre outros problemas.
Quais são os tratamentos mais modernos para tratar os diferentes tipos de DSTs?
Apesar de os tratamentos para as DST’s, hoje em dia, serem baseados no antibiótico, devem-se adotar medidas que visem não só o tratamento da infecção clínica como a remoção das lesões em muitos pacientes. Nenhum dos tratamentos disponíveis é superior aos outros; e nenhum tratamento será o ideal para todos os pacientes nem para todas as lesões, ou seja, cada caso deverá ser avaliado para que se tenha a conduta mais adequada. Medidas adjuvantes são necessárias para se lograr um melhor resultado: ênfase na adequada higiene, geral e genital, tratamento de patologias associadas, em especial infecções genitais, investigação e tratamento das parcerias e parceiros sexuais e abstenção das relações sexuais durante o período de tratamento. O uso regular de preservativos nas relações sexuais é uma recomendação fundamental a todos os portadores ou não de DST.
Em sua avaliação, hoje o comportamento masculino mudou com relação aos cuidados e proteção que devem ser tomados durante suas relações sexuais?
Usar preservativos em todas as relações sexuais é o método mais eficaz para a redução do risco de transmissão das DSTs, em especial do vírus HIV. Entretanto, ainda nos dias de hoje, temos muitos homens que acreditam que o preservativo leva à diminuição da masculinidade, menor sensibilidade peniana, entre outros relacionados mitos ligados ao uso de preservativos e o ato sexual. Por isso, ainda não aderiram totalmente à prática do sexo seguro. Esses homens e suas parceiras estão muito mais expostos aos riscos de DSTs se comparados a um população que pratica o sexo seguro. Este grupo de homens que, por alguma razão, não utiliza o preservativo, apesar de não representar a maioria, ainda engloba uma parcela significativa da população.