O tabagismo é uma das principais causas evitáveis de mortes em todo mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde. A cada ano, aproximadamente, cinco milhões de pessoas morrem por doenças relacionadas ao uso de tabaco. No Brasil, dados do Inca revelam que a mortalidade atinge cerca de 160 mil pessoas por ano, o equivalente a quase 430 mortes por dia.
Para conscientizar a população sobre os riscos do tabagismo para o desenvolvimento de doenças e mortalidade prematura, foi instituído o Dia Mundial sem Tabaco em 31 de maio. “O tabagismo é visto como uma epidemia global, responsável por milhões de mortes por doenças cardiovasculares, respiratórias e câncer. Devemos aproveitar o Dia Mundial sem Tabaco para refletir sobre os efeitos danosos do tabaco, ressaltando que é a principal causa de câncer que podemos evitar”, alerta o oncologista Elias Cosmo de Araújo Júnior, do Instituto de Hematologia e Oncologia (IHOC)/Grupo Oncoclínicas. Cerca de 30% das mortes causadas pelos diversos tipos de câncer são associadas ao tabagismo, segundo o oncologista. Os fumantes têm até 20 vezes mais chances de ter câncer de pulmão do que os não fumantes. “Somente nos casos de câncer de pulmão, o tabagismo está relacionado a 85% dos diagnósticos”, revela. Outros órgãos também são afetados. “Quem fuma ainda tem dez vezes mais chances de ter câncer de laringe e de duas a cinco vezes mais chances de desenvolver câncer de esôfago. E são comuns também casos de câncer na boca, pâncreas, rim, bexiga, colo de útero, estômago e fígado em fumantes”, conta.
Isso acontece porque os produtos à base de tabaco possuem mais de 4.720 substâncias tóxicas ao organismo, sendo que 43 são cancerígenas, como o arsênio, níquel, benzopireno, cádmio, chumbo, resíduos de agrotóxicos e substâncias radioativas. “Essas substâncias causam danos irreversíveis ao DNA das células do organismo, alterações que levam ao crescimento descontrolado dessas células, formando tumores malignos que podem se espalhar para todas as regiões do corpo”, explica Cosmo de Araújo Júnior.
Tabagismo passivo
Os fumantes passivos também estão expostos aos riscos e, em curto prazo, podem desenvolver problemas respiratórios, irritação nos olhos e na garganta, tosse, dor de cabeça, vertigem e náusea. “Já em longo prazo, eles também têm o risco aumentado para desenvolver câncer de pulmão e infarto. De acordo com a OMS, o tabagismo passivo é a terceira maior causa de morte evitável no mundo”, relata o oncologista e acrescenta: “As crianças sofrem ainda mais com esses efeitos e correm o maior risco de se tornarem dependentes da nicotina e tabagistas ativos no futuro.” O oncologista ainda ressalta que não há limite seguro para o uso do tabaco. Fumar um cigarro causa tantos danos como fumar dez cigarros, assim como utilizar produtos derivados do tabaco. “Fumar ou mascar tabaco, absorvê-lo pela mucosa oral ou inalar, como no caso do narguilé, também aumenta o risco de desenvolver doenças crônicas. Fazer a troca pelo cigarro eletrônico também não resolve, pois não há comprovação científica de que ele seja menos danoso que o cigarro comum.”
Diagnóstico precoce e tratamento
Parar de fumar é a melhor forma de prevenção do câncer. Porém, se a pessoa já tem entre 55 e 74 anos, fumou por mais de 30 anos ou parou de fumar nos últimos 15 anos, é importante fazer um exame de prevenção secundária denominado Tomografia de Baixa Dose (TCBD). “Esse exame já demonstrou ser benéfico na redução de 20% na mortalidade por câncer de pulmão, visto que aumenta a chance de diagnosticar precocemente o tumor. Além disso, esses pacientes também devem ser acompanhados em centros especializados para uma melhor avaliação de indicação de biópsia de nódulos pulmonares suspeitos”, orienta Elias Cosmo de Araújo Júnior.
Caso o câncer já tenha se desenvolvido, o tratamento dependerá de múltiplos fatores, como o estágio da doença, as condições clínicas e outras doenças que o paciente já possui e os efeitos colaterais esperados. “Com essa primeira avaliação, indica-se cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou tratamentos mais recentes como as drogas alvos e imunoterapia. Mas, a sobrevida dependerá de cada caso e da resposta ao tratamento”, declara o oncologista.