Para muitos brasileiros, uma das formas de mostrar a paixão pelo futebol é colocar nos filhos os nomes de craques que brilharam em copas do mundo. Pelo aplicativo Nomes no Brasil, que utiliza as informações coletadas no Censo Demográfico 2010, é possível relacionar o aumento do registro de crianças com nomes de jogadores nos períodos em que eles atingiram pontos altos na carreira.
Ainda é cedo para identificar a popularização do nome Neymar, um dos destaques da seleção brasileira na Copa do Mundo da Rússia. Até 2010, foram 454 Neymares registrados, número que será atualizado pelo Censo Demográfico 2020, e que poderá aumentar, se repetir o comportamento de outros craques, principalmente se o Brasil conquistar o título do mundial deste ano.
O ex-camisa 11 Romário é um exemplo. Na década de 1970, foram pouco mais de dois mil Romários nascidos. A revelação do jogador e sua transferência para a Europa nos anos 1980 e a consagração com o título mundial de 1994 pela seleção brasileira, contribuíram para a popularização do nome: entre 1990 e 2000, foram 39,7 mil nascimentos.
O cientista social Romário Nelvo, 23, conta que, mesmo antes de seus pais saberem seu sexo, a conquista do tetra marcaria para sempre sua vida. “Meu pai e meu tio fizeram uma aposta: se eu nascesse menino, me chamaria Romário, caso o Brasil ganhasse a copa. O Brasil ganhou e eu carrego esse nome”, contou. Outro exemplo é o administrador Romário Marques Ribeiro, 28, filho de um fã do “baixinho”: “as pessoas costumam brincar com meu nome, perguntar a origem dele, mas eu sou tranquilo. Sempre querem saber se é uma homenagem”.
Fanático por futebol, o fisioterapeuta Guilherme Cherene, 39, é pai do Arthur, seis anos, e do Raí, três meses. Ele contou que, apesar de acompanhar o esporte desde novo e de frequentar os estádios para ver o Flamengo, o nome dos filhos não é uma referência aos craques: “só depois eu fiz a relação com o nome dos jogadores. O Zico (Arthur) e o Raí são dois ídolos de alto valor e alto caráter. As pessoas sempre perguntam se foi por causa dos jogadores. Eu falo que não, mas fico muito feliz quando fazem essa relação”.
Pelé X Maradona
Como se não bastasse a polêmica sobre quem foi melhor, Pelé (Edson) ou Maradona (Diego), o resultado surpreende diante do registro civil dos brasileiros: até 2010, viviam no país 112 Pelés, contra 165 Maradonas. Apesar da vitória argentina no aplicativo Nomes no Brasil, há mais Edsons que Diegos no país, 431,5 mil frente a 424,4 mil. O aumento no nascimento de Edsons ocorreu próximo aos títulos mundiais do Brasil em 1962 e 1970. Nos anos 1960, foram 90,1 mil, o equivalente a 46,6 mil a mais que na década anterior, e chegando ao ápice entre 1970 e 1980, com 111,5 mil nascimentos registrados.
Além do craque argentino, outros nomes estrangeiros também recebem homenagens da população brasileira. Nascido na década de 1990, o estudante de Contabilidade Klinsmann Ferreira de Barros, 21, ostenta o nome do jogador alemão Jürgen Klinsmann, um dos principais atacantes da Alemanha na conquista da copa de 1990.
O Klinsmann brasileiro não viu a fonte de inspiração de seu nome jogar: “se eu chegar para um avô ou pai de um amigo meu, geralmente eles vão conhecer a referência, me chamam de alemão, fazem referência aos 7 a 1, brincando comigo. Agora, as pessoas mais novas, são poucas, uma ou outra que conhece”, disse. Os Klinsmanns registrados no Brasil só apareceram nos anos 1990, com o auge do craque alemão. Das 157 pessoas que levam o nome, 131 foram registradas na década de 1990.