O aumento da expectativa de vida tem garantido mais longevidade para a população mundial. No Brasil não é diferente e as pessoas estão vivendo, em média, 76 anos o que representa um aumento de 30 anos em relação à expectativa de vida prevista na década de 1940. Diante desse cenário, várias pesquisas buscam a manutenção da qualidade de vida da população idosa. Na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), estudos se dedicam, por exemplo, a avaliar os riscos que a obesidade abdominal somada às perdas de massa e de força muscular podem oferecer aos idosos.
A sarcopenia (perda de massa muscular) e a dinapenia (perda de força muscular) são quadros que podem ocorrer durante o processo de envelhecimento e que demandam atenção no contexto de saúde dos idosos, principalmente quando associados à obesidade abdominal. Dois trabalhos realizados pelo professor Tiago da Silva Alexandre, do Departamento de Gerontologia (DGero) da UFSCar, com parceiros canadenses e ingleses, apresentaram resultados importantes que colocam a obesidade dinapênica – gordura abdominal mais perda de força muscular – como um importante fator de risco para a saúde do idoso e até para a mortalidade dessa população.
Projeto Sabe
O primeiro estudo foi realizado utilizando dados do projeto Saúde, Bem-estar e Envelhecimento (Sabe) que, desde 2000, é realizado com apoio da Organização Mundial da Saúde, Ministério da Saúde e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O projeto acompanha idosos da capital paulista a cada cinco anos e reúne dados epidemiológicos dessa população. A partir desses dados, o trabalho na UFSCar constatou que a obesidade abdominal, somada à perda de força muscular, estão associadas a distúrbios de lipídeos e carboidratos no metabolismo, síndrome metabólica e doenças cardíacas.
O pesquisador explica que o fundamental em relação à saúde dos idosos é manter a funcionalidade, ou seja, permitir que eles possam realizar as atividades diárias, tenham autonomia e, portanto, mais qualidade de vida. Ele afirma que à medida que a pessoa envelhece, a massa muscular perdida é substituída por gordura que se distribui para todo o corpo. A concentração dessa gordura na região abdominal é mais prejudicial e contribui para a perda de força. A partir dos resultados levantados no primeiro estudo, o docente da UFSCar, durante seu pós-doutorado na University College London, na Inglaterra, iniciou uma segunda pesquisa com dados do próprio Sabe e do English Longitudinal Study of Ageing(Elsa), que faz levantamentos epidemiológicos com idosos ingleses. O trabalho, apoiado pela Fapesp, reuniu as duas bases para levantar informações comparativas e pesquisar a obesidade dinapênica como fator de risco também para a mortalidade. Foram analisados idosos acompanhados durante 10 anos pelo Sabe (entre 2000 e 2010) e pelo Elsa (entre 2002 e 2012).
Para realizar essa segunda pesquisa foram isolados outros fatores que também poderiam aumentar o risco de mortalidade entre os idosos pesquisados, como o tabagismo, doenças cardíacas, situação socioeconômica, dentre outras.
Outra constatação importante foi que o Índice de Massa Corporal (IMC) não é o melhor indicador para avaliação clínica de pacientes, idosos ou não. Outro fator é que o idoso que tem circunferência abdominal alta (maior que 102 cm para homens e 88 cm para mulheres) e pouca força é um paciente de risco.
Tiago Alexandre afirma que os resultados são muito semelhantes entre os idosos brasileiros e ingleses. Nos dois estudos foram acompanhados mais de sete mil idosos.
De acordo com o professor, os resultados podem ser aplicados na rede de atenção básica de saúde, já que a medição da força e da circunferência abdominal é fácil e rápida de se executar e podem ajudar agentes de saúde e médicos na triagem dos pacientes e na conduta terapêutica. Alexandre acredita também que essas informações podem ser usadas dentro dos consultórios para que os médicos compreendam a evolução do quadro dos seus pacientes e definam condutas adequadas para o tratamento.
Recentemente, dois artigos sobre os estudos realizados pelo docente da UFSCar e parceiros estrangeiros foram publicados em revistas internacionalmente reconhecidas na área de Nutrição – Journal Clinical Nutrition e The Journal of Nutrition Health anda Aging.
Junto a essas parcerias, o professor acrescenta que foi estabelecido um convênio entre a UFSCar e a University College London, que prevê o intercâmbio de pós-graduandos para o desenvolvimento de pesquisas nas duas instituições.