As principais complicações relacionadas ao diabetes tipo 2 foram abordadas por especialistas médicos de todo o país nos últimos dias 17 e 18 de agosto em São Paulo, no AZ Talks, evento de atualização científica que discutiu os principais desafios e estratégias para o tratamento da doença e suas complicações associadas.
Para o Dr. Arnaldo Bordon, oftalmologista, o controle efetivo do diabetes vai muito além das metas glicêmicas. “Geriatras, oftalmologistas, cardiologistas, nefrologistas e endocrinologistas possuem um papel essencial para o controle da doença. O controle glicêmico é fundamental, mas não é esse fator isolado que fará o paciente ter total controle do diabetes” o especialista destaca ainda que complicações silenciosas, como a retinopatia diabética, podem causar cegueira se não diagnosticadas e tratadas corretamente.
A retinopatia diabética é causada por danos aos vasos sanguíneos no tecido da retina, e a glicemia mal controlada é um dos fatores de risco. A doença possui vários estágios, sendo que, em casos iniciais, não apresenta sintomas. Em alguns casos, os sintomas podem evoluir para borrões e áreas escuras na visão, além de dificuldade para distinguir cores. O Dr. Bordon explica como funciona o diagnóstico. “Por meio do exame de fundo de olho é possível detectar se a vascularização está normal, e pode identificar precocemente alguma alteração”.
Rins também merecem atenção
Os problemas renais também são outra complicação frequente do diabetes tipo 2. No entanto, a nefropatia diabética ainda não é conhecida por grande parte dos brasileiros. Apesar de essa ser a principal causa de insuficiência renal crônica terminal no mundo, apenas 58% dos brasileiros diabéticos sabem que o diabetes possui relação com problemas nos rins.
Entre os não diabéticos o conhecimento é ainda menor – somente 37% afirmaram conhecer a relação entre o diabetes e doença renal, de acordo com a pesquisa realizada pela Abril Inteligência com apoio da AstraZeneca e Curso Endodebate.
Os rins possuem a função de filtrar as substâncias que não têm mais utilidade e eliminá-las pela urina, e também manter os elementos importantes, como as proteínas. Na neuropatia diabética, o rim perde a capacidade de filtrar adequadamente as substâncias, o que pode causar um quadro grave de insuficiência renal.
Para o Dr. Roberto Pecoits, nefrologista e professor titular da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, a prevenção passa por um olhar atento dos especialistas aos exames clínicos dos pacientes.
“É fundamental fazer o rastreamento da doença renal por meio dos exames laboratoriais. Diante de exames simples, como de sangue e urina, é possível identificar como está a função renal e realizar a estratificação de risco do paciente diabético” explica.
Formigamento e dormência nos membros também são sinais de atenção
A realização insuficiente de exames é um fator preocupante para o desenvolvimento de complicações associadas ao diabetes. Ainda segundo dados da pesquisa, menos da metade das pessoas com diabetes relatou ter passado por exames cardiológicos e/ou renais no último ano e apenas 16% tiveram os pés examinados, o que é essencial na investigação de outra complicação comum: a neuropatia diabética.
Essa condição afeta principalmente os membros inferiores, causando sintomas como dor, dormência e formigamento nos pés. Em casos mais graves, os sintomas compreendem problemas de digestão, na bexiga e para controlar a frequência cardíaca.
Segundo o Dr. Denis Bichuetti, Professor Adjunto da Disciplina de Neurologia da UNIFESP e assistente do setor de neuroimunologia e doenças desmielinizantes da UNIFESP, cerca de 30% dos diabéticos desenvolvem algum tipo de neuropatia periférica ao longo da vida.
“Alguns exames clínicos básicos são importantes e podem identificar uma possível neuropatia. Observar calos, úlceras e examinar a sensibilidade dos membros inferiores dos pacientes são factíveis para qualquer especialista” destaca.
Para evitar as complicações associadas, os especialistas alertam que a mudança no estilo de vida, com adoção de hábitos saudáveis é essencial para prevenção e controle do diabetes e suas complicações.
Na prática, a pesquisa mostra que, apesar de 58% dos diabéticos afirmarem ter uma alimentação balanceada, apenas 23% afirmaram praticar atividade física de 3 a 4 vezes por semana, frequência considerada ideal pela comunidade médica.
“No caso da neuropatia, atividade física é essencial para fortalecer os músculos, e consequentemente, os nervos, controlando a neuropatia” finaliza o Dr. Bichuetti.