Dengue na gravidez aumenta risco de problemas neurológicos no bebê
Toda vez que se fala em má formação em bebês devido ao Aedes aegypti logo se imagina a microcefalia, causada pelo vírus da zika. Mas a novidade científica é que a dengue, transmitida pelo mesmo vetor e velha conhecida dos brasileiros, pode aumentar em 50% as chances de a criança nascer com problemas neurológicos. Estas conclusões fazem parte das investigações de pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fiocruz Bahia, do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da London School of Hygiene and Tropical Medicine (LSHTM).
Observando os registros de 16 milhões de nascidos vivos, entre 2006 e 2012, os pesquisadores encontraram uma taxa de 6 crianças com má formação congênita a cada 100 mil nascidos. Contudo, quando a mãe apresentou quadro de dengue durante a gestação as chances de a criança apresentar má-formação neurológica foi 50% maior do que aquelas mães que não tiveram dengue. O achado foi divulgado no artigo Symptomatic Dengue during Pregnancy and Congenital Neurologic Malformations, publicado na edição de setembro da revista Emerging Infectious Diseases, do Center for Diseases Controls and Prevention (CDC).
A epidemiologista Enny Paixão, que lidera a investigação, frisa que as anomalias neurológicas durante a gestação são consideradas raras, ocorrendo em apenas 0.08% dos nascimentos da amostra. E é justamente por serem eventos bastante raros, que esses desfechos somente puderam ser observados agora, com estudos de grande volume de dados. O estudo observou que má-formações da medula espinhal e do cérebro foram quatro vezes mais frequentes em mulheres com dengue durante a gestação. Entretanto, não foi observado associação com microcefalia.
Estudos anteriores
Este grupo de pesquisadores publicaram recentemente outros dois estudos sobre as consequências da dengue na gestação. Publicado na Scientific Reports, um dos achados mostra que a dengue pode aumentar em quatro vezes as chances de morte materna (mulheres que estão desde a gestação até a 42 dias após o parto). Os pesquisadores mostraram que em quadros com dengue hemorrágica as chances de morte chegam a ser 450 vezes maior.
No estudo anterior, o grupo identificou que a dengue durante a gestação quase dobra a probabilidade de um bebê nascer morto ou morrer durante o parto, enquanto a dengue severa aumentaria em cinco vezes as chances de um natimorto.