A dor tem muitos fatores e envolve aspectos biológicos, psicológicos e sociais. De acordo com a medicina, é uma sensação desagradável, uma espécie de sentimento e uma forma de reagir, portanto, um comportamento. É a maneira de o corpo dizer que algo está errado. Tem como função avisar que problemas estão ocorrendo e, sob súbita perda de consciência, pode ser um poderoso estimulo para a recuperação da mesma. “Quando alguém fala que tem dor, pode estar falando de várias coisas, referindo-se a conceitos diferentes que foram estabelecidos por John Loeser (1994), que são: nocicepção, mecanismo ou outro estímulo que age nos receptores da dor para dar atividade às fibras nervosas; percepção da sensação; sofrimento ou emoção sem prazer gerada nos centros nervosos superiores; comportamento de dor, todas as ações que temos para entender e comunicar a dor; e contexto social, onde o comportamento de dor ocorre”, explica a psicóloga Dirce Maria Navas Perissinotti, diretora administrativa da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED).
“Todos esses conceitos ocorrem simultaneamente”, continua a especialista. “As vias nociceptivas, o sistema biológico, precisam estar íntegras para que a percepção da dor esteja a contento. O sofrimento também deve ser considerado, já que interfere na maneira como o sistema biológico irá funcionar. E o mesmo ocorre com respeito ao contexto social. Alguém que sofre intenso estresse social não tem as mesmas condições de responder aos apelos biológicos da mesma maneira se não estivesse nessas condições.”
A cronificação da dor depende, portanto, de inúmeros fatores, e existem tratamentos para ela que dependem do maior problema apresentado, se relacionado ao sistema biológico, ou se à percepção da dor ou ao contexto psicológico. No entanto, todos os elementos andam juntos, não há como separá-los. “Na dor crônica, salientam-se os fatores relacionados à frustração e ao sentimento de impotência, o que acaba por induzir mais facilmente a tendência à depressão e à ansiedade, muito comuns em pacientes com dor crônica e pouco tratados”, esclarece Dirce Perissinotti. “Sim, a dor crônica pode ser psicológica e isso não quer dizer que ela não exista. Não é coisa da cabeça! Não é simulação! Não é crise histérica! Não é vagabundice!”, ressalta.
A dor psicológica existe porque, uma vez o sistema biológico ativado, ele se habitua em responder do mesmo jeito porque foi condicionado. “A medicação, na maior parte das vezes, auxilia para que ocorra um certo apaziguamento do sistema de resposta da dor. Na maioria dos casos, sendo para dor aguda ou crônica, o sofrimento, a percepção da dor e o contexto social, se não alterados, irão retroalimentar o condicionamento e fixar cada vez mais a mesma resposta. Os tratamentos psicológicos ajudarão a modificar tais condicionamentos para que, com o auxílio da medicação, haja possibilidades de se aprender a modificar as respostas, criando outras mais eficazes”, ensina a psicóloga. “Assim, não se trata a dor, particularmente a crônica, de uma única maneira. Seu tratamento é multidisciplinar porque a dor é multifatorial.”