Tanto a pesquisa quanto o trabalho desenvolvido no Estúdio Requena, o arquiteto trabalha em projetos que possam utilizar tecnologias para aproximar as pessoas. Em um dos seus projetos, “Empatias mapeadas”, Guto propõe, por exemplo, um banco em um ponto de ônibus que, quando as pessoas sentam, colocam o dedo num sensor capaz de transformar batimentos cardíacos em áudio, com luzes piscando no ritmo dos batimentos. Então, quando mais de uma pessoa se senta, e várias podem se sentar ao mesmo tempo, eles escutam um o coração do outro. “Estou investigando como adicionar novas tecnologias digitais interativas na superfície da cidade, no mobiliário urbano, para poder adicionar novas camadas de poesia nas cidades. Para mim, é isso que as tecnologias podem fazer e é isso eu busco.” O MicBR conversou o designer sobre os projetos que buscam estimular a empatia e tornar as relações humanas mais próximas na arquitetura e no design. Leia, abaixo, a íntegra da nossa conversa:
No MicBR, você aborda o tema Arquitetura e Tecnologia para Cidades Fraternas. Qual é exatamente o conceito de cidades fraternas?
Guto Requena – O conceito de cidades fraternas, para mim, têm a ver com cidades que estimulam a empatia. Ou seja, como eu, arquiteto e designer, posso criar situações na rua, na cidade, para unir as pessoas, estimular o coletivo, para que as pessoas possam se olhar. E, acredito, para despertar a empatia que, na minha avaliação, é o que mais precisamos hoje nas nossas cidades.
Em seus trabalhos realizados no estúdio você busca trabalhar a tecnologia de um modo emocional. Como isso é possível?
Guto Requena – No meu entendimento, a tecnologia não é algo que afasta as pessoas, que esfria [relações]. Ao contrário, estou convencido de que precisamos experimentar e investigar essas tecnologias para nos aproximar. Tenho feito isso de várias maneiras ao trabalhar com várias escalas de design, desde vestíveis – dispositivos inteligentes que o usuário literalmente veste e usa como se fosse um acessório-, produtos, espaços, arquitetura e cidades. Um bom exemplo é o projeto Love Project, uma pesquisa que desenvolvo há três anos. A ideia é convidar pessoas a narrarem uma grande história de amor. Eu plugo sensores de diferentes tipos no corpo da pessoa, e a medida que ela narra a história de amor, detecto as emoções. Esses dados são utilizados para modelar objetos, que depois são impressos em 3D. A ideia é que você consiga tornar tangível o intangível. Nesse trabalho conseguimos captar os sentimentos da pessoa e, modelar objetos, a partir desses sentimentos.
Há uma ideia generalizada de que os avanços da tecnologia nos tornassem mais automatizados ou cada vez mais robotizados. Existe a possibilidade de vivermos um futuro no qual a tecnologia seja vivida de um modo mais orgânico, mais natural e humano?
Guto Requena – Temos um grande desafio pela frente, que é justamente descobrir como iremos utilizar essas tecnologias. Estamos observando hoje, durante nas eleições de 2018, como o uso das tecnologias pode ser prejudicial para as sociedades, por meio de fake news, manipulação de dados, portanto, manipulação da população. Esse é um exemplo ruim. Não tenho respostas, mas o que posso fazer é experimentar e pesquisar isso como arquiteto. No entanto, acredito que o grande desafio é usar as tecnologias disponíveis a nosso favor, para criar sistemas mais democráticos, mais transparentes, mais horizontais, mais diálogos entre a população, entre a população e os governantes. É preciso criar mais diálogos entre as pessoas e a arte, a cultura. São esses benefícios que a boa tecnologia, quando bem utilizada, podem trazer.
Na vida cotidiana, como as pessoas podem tornar a interação tecnológica mais humanizada, por exemplo.
Guto Requena – A questão não é tornar a tecnologia mais humanizada. Mas, sim, fazer com que cada um em suas áreas investigar, utilizar e se questionar se tem, por exemplo, alguma tecnologia que está nos afastando. Se houver alguma tecnologia que nos afasta precisamos identificá-la e deixar de usá-la. Há a necessidade de utilizarmos recursos de criação para que possamos nos aproximar. Desenvolvi um projeto chamado Empatias Mapeadas, uma proposta de mobiliário urbano. Como, exemplo, um banco em um ponto de ônibus, que quando as pessoas sentam, colocam o dedo num sensor capaz de transformar batimentos cardíacos em áudio, com luzes piscando no ritmo dos batimentos. Então, quando mais de uma pessoa se senta, e várias podem se sentar ao mesmo tempo, eles escutam um o coração do outro. A minha ideia é que esse projeto pudesse de alguma maneira estimular a empatia. O que eu estou investigando é, por exemplo, como adicionar novas tecnologias digitais interativas na superfície da cidade, no mobiliário urbano, para poder adicionar novas camadas de poesia nas cidades. Para mim, é isso que as tecnologias podem fazer e é isso eu busco.