Um novo estudo identificou mecanismo de resistência do carrapato bovino à ação de ivermectina, pesticida mais usado no combate às infestações do parasita. A investigação foi feita por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF), da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação, e do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociência da Universidade de São Paulo (USP). O trabalho foi publicado na Scientific Reports e teve apoio do CNPq e da Fapesp.
A importância desse estudo está relacionada ao destaque que a carne bovina tem na economia brasileira. O Brasil é o maior exportador mundial dessa carne, mas poderia contar com vendas ainda mais expressivas se não fosse a perda anual causada por parasitas. As perdas com mortalidade, queda de peso, redução na fertilidade e perda de produtividade provocadas por parasitas equivalem a mais do que o dobro de tudo o que é exportado.
O controle do carrapato bovino é feito por meio da aplicação de pesticidas, o que conduz, invariavelmente, a seleção de linhagens resistentes. Hoje no Brasil, o carrapato bovino apresenta resistência em maior ou menor grau a todos os pesticidas comerciais empregados no controle da praga.
De acordo com um dos pesquisadores envolvidos no estudo, Guilherme Klafke, é importante entender como a resistência ocorre. Segundo ele, a resistência aos pesticidas, incluindo os carrapaticidas e inseticidas, nada mais é que uma resposta evolutiva do agente que se quer controlar – carrapatos ou insetos – contra sua eliminação. “O tratamento com o pesticida elimina aqueles indivíduos da população que são suscetíveis, favorecendo a manutenção daqueles que são resistentes. Quanto maior o número de aplicações de determinado produto, mais indivíduos resistentes são selecionados até que finalmente o produto não funciona mais, levando a falhas de controle”, explicou.
Guilherme aponta, ainda, que o manejo da resistência aos carrapaticidas depende de um diagnóstico da situação, ou seja, é preciso saber quais são os produtos que os carrapatos já desenvolveram resistência, assim evitar o seu uso. No Brasil existem seis classes de carrapaticidas disponíveis comercialmente para o controle do carrapato bovino (Rhipicephalus microplus). São eles: piretróides, organofosforados, amitraz, fipronil, fluazuron e lactonas macrocíclicas (onde está incluída a ivermectina).
O especialista explica que, para diagnosticar a resistência, o produtor conta com exames laboratoriais, conhecidos popularmente como “biocarrapaticidogramas” que são realizados por alguns laboratórios de referência no Brasil, incluindo o próprio IPVDF. “Uma vez que se sabe quais são os produtos mais eficazes, se monta a estratégia de controle para minimizar o uso de aplicações de produtos, favorecendo uma seleção mais lenta da resistência”, afirmou.
Ações para controle
A Secretaria da Agricultura instituiu o Plano Estadual de Controle do Carrapato Bovino justamente como uma forma de combater estes parasitas, que transmitem a Tristeza Parasitária Bovina (TPB). Conforme estimativas, a doença é responsável pela perda de 100 mil animais por ano no Rio Grande do Sul. Em junho deste ano, a secretaria lançou um vídeo informativo sobre o Plano Estadual, explicando como proceder à coleta e remessa de amostras para realização do exame de biocarrapaticidograma.