Se você chegou na praia e esqueceu do protetor solar, você pode até pensar que o guarda-sol vai te ajudar, ao fazer uma barreia de proteção que impede os raios solares de entrarem diretamente em contato com a sua pele. Mas um novo estudo diz que você está absolutamente errado (e que da próxima vez, é melhor voltar para casa e pegar o filtro ou comprar um no caminho). “Ir para a praia é como entrar em uma cama de bronzeamento gigante. A radiação não vem apenas na exposição direta ao sol, mas a areia e a água também refletem o UVA e UVB, além do seu corpo sentir o Infrared por meio do calor. E um recente estudo americano é enfático ao destacar que o guarda-sol oferece uma proteção solar quase nula. Todas essas radiações estão associadas ao envelhecimento precoce da pele e favorecem o aparecimento do câncer de pele”, afirma a Dra. Claudia Marçal, dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Academia Americana de Dermatologia. O estudo “Sun Protection by Umbrellas and Walls” foi publicado em outubro desse ano na revista Photochemical & Photobiological Sciences.
Além de descobrir que o guarda-sol não é eficiente, outro achado do estudo tem uma maior implicação: a falsa proteção pode aumentar o risco de queimaduras, já que quando alguém está descansando à sombra do guarda-sol, sente menos calor – mas isso não significa que a radiação não está lá. “Isso dá às pessoas uma falsa sensação de proteção que leva a uma exposição excessiva à radiação ultravioleta nociva”, afirma a médica.
De acordo com os pesquisadores, a quantidade de proteção FPS que você recebe depois de se refugiar sob um grande guarda-sol é de, no melhor dos casos, FPS 7. Apenas para registro, a Sociedade Brasileira de Dermatologia orienta pelo menos FPS 30. Perigoso, não? “Quando falamos em envelhecimento fotoadquirido, estamos falando da formação precoce de rugas, manchas, mudança na textura da pele, angiogênese (formação de novos vasos), atrofia com uma epiderme pergaminácea e flacidez, que tem grande relação com o UVA e o InfraRed. Outra preocupação para quem não usa o filtro solar adequado é que durante as estações mais quentes, existe uma queda do sistema imunológico da pele, já que a hiperexposição à radiação solar gera uma menor efetividade das células de Langerhans – os anticorpos da pele. E tudo isso favorece o dano celular que pode desencadear um processo de cancerização”, ressalta a especialista.
No estudo, vários fatores com relação à cobertura do guarda-sol foram avaliados: o tamanho, propriedades de transmissão UV (o que significa a quantidade de luz que o tecido realmente permite passar), tempo do dia e localização (os quais afetam o total de radiação UV total dispersa), posição das pessoas sob o guarda-sol, sua orientação e os ângulos de proteção. A quantidade de reflexão da areia também foi avaliada. “E nesse caso, a sombra do guarda-sol não garante proteção, pois a luz é refletida na areia. Além disso, o Infrared (infravermelho ou IV) é sentido através do calor ou mormaço. E essa é uma radiação que acomete num comprimento de onda suficiente para atingir a derme mais profunda – a derme reticular – onde estão as fibras de ancoragem e sustentação da pele. E isso provoca um dano muito importante, com menor elasticidade e uma piora no aspecto geral com a destruição do arquétipo da pele. Além de um maior potencial de cancerização”. A dermatologista explica que, para evitar a flacidez e rugas, é importante o uso do bloqueio físico solar e antioxidantes que diminuam o processo inflamatório causado pelo InfraRed”, afirma a Dra. Claudia.
A especialista ainda ressalta que a pesquisa serve como um reforço para o uso do filtro solar, aliado a chapéus ou bonés com FPS. “O protetor solar deve ir além dos ativos de proteção: ele deve ser multibenefícios com elementos de ação antioxidante para imediatamente reparar o processo inflamatório formado”, destaca. Esse protetor, lembra a médica, deve conter filtro químico e físico. “Os filtros físicos são ativos bloqueadores à base de dióxido de titânio, óxido de ferro e zinco”, sugere. “Os filtros físicos são como uma parede de tijolos onde a luz bate e volta. Não tem absorvência, tem refletância: e com isso há um impedimento de todos aqueles danos cumulativos dos filtros químicos, que são altamente instáveis”, diz a médica. A reaplicação do protetor também deve ser feita a cada duas horas em exposição direta ao sol.
Dra. Claudia Marçal é dermatologista da Clínica de Dermatologia Espaço Cariz, com especialização pela Associação Médica Brasileira (AMB), membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e membro da American Academy of Dermatology (AAD), CME (Continuing Medical Education) na Harvard Medical School.