O HCor em parceria com o Departamento de Imunologia da USP firmaram parceria para testar uma vacina para combater o câncer cerebral. A nova terapia, à base de vacina celular, já foi testada em estudos pré-clínicos por diversos pesquisadores em centros de excelência internacionais, o que comprova, de fato, a imunoterapia ser a nova esperança mundial contra o câncer. Esta estratégia justificou o prêmio Nobel de Medicina desse ano aos pesquisadores Tasuku Honjo e James P. Allison, pelo desenvolvimento de anticorpos que despertam o sistema imunológico de pacientes com câncer, para combater a doença eficazmente.
No Brasil, pesquisadores e médicos trabalham no desenvolvimento de estratégias semelhantes. O neurocirurgião do HCor, Prof. Dr. Guilherme Lepski e o imunologista da USP, Prof. Dr. Alexandre Barbuto, estão testando novas terapias para tumores malignos cerebrais, em especial o glioblastoma, tipo de tumor maligno cerebral primário que nasce das células da “glia”. A doença é altamente maligna e a medicina ainda não tem meios adequados para tratá-la. Então existe muito interesse na pesquisa para deter esse tumor”, explica o Dr. Lepski.
Recentemente, alguns autores reportaram o retrocesso do glioblastoma ao usar injeções de glóbulos brancos (linfócitosT), geneticamente modificados, diretamente no cérebro dos pacientes. Com base nesta experiência, os pesquisadores brasileiros desenvolveram uma vacina celular semelhante, aprimorada em células dendríticas (células do sangue que apresentam os marcadores tumorais para o sistema imunológico).
Segundo o neurocirurgião do HCor, são células inteligentes que processam o tecido tumoral e apresentam ao corpo tudo o que não é próprio dele, ou seja, pertencente ao tumor. “O grande avanço consiste no fato desta nova vacina não precisar ser injetada diretamente no cérebro, como na experiência americana, e sim na pele, como por exemplo uma vacina BCG (contra tuberculose), aquela que recebemos quando criança. Desse modo, o tratamento é bastante seguro”, esclarece Dr. Lepski.
Recrutamento de pacientes: a estratégia dos pesquisadores brasileiros é diferente dos demais centros. “Desenvolvemos uma vacina que ativa as células de defesa do corpo contra várias partes do tumor, e não só contra uma proteína específica. “A ideia da imunoterapia mais eficaz é fazer o paciente com um tumor ativar o sistema de defesa de forma personalizada (para o seu tumor específico) e múltipla (contra várias proteínas do tumor ao mesmo tempo). Para cada paciente, é preciso coletar amostras do tumor (por meio de biópsia ou a “céu aberto”) e das células sanguíneas (por meio de punção venosa). No paralelo, seguimos com o tratamento convencional e estamos recrutando pacientes que deverão atender a critérios específicos”, pontua.
O tratamento padrão: é realizado uma cirurgia para retirada do tumor, seguida de quimioterapia oral (com temozolomida) e aproximadamente 30 sessões de radioterapia. Quando efetivo, o tratamento consegue adiar o desenvolvimento da doença, que, na maioria das vezes, acaba recorrendo.
A vacina contra o glioblastoma: a vacina é aplicada intradérmica de duas a quatro doses a cada dois meses dentro do próprio consultório. “É um projeto experimental e três pacientes já receberam as doses e seguem em tratamento. Para completar o grupo de pacientes do estudo precisamos recrutar mais 17 voluntários para testarmos a efetividade da vacina”, esclarece o neurocirurgião do HCor. A imunoterapia representa uma nova e promissora esperança para pacientes com câncer. Não se trata de uma vacina preventiva, mas terapêutica. A proposta é que essa terapia estimule os sistemas de defesa do corpo do paciente e o “ensine” a combater a doença por si só para diminuir, então, a progressão da enfermidade bem como a promoção da cura”, diz Dr. Lepski.
O glioblastoma: consiste em um tumor maligno cerebral primário que nasce das células da “glia”. A doença não é rara. A incidência alcança 3,2 novos casos por ano a cada 100.000 habitantes, totalizando 2% de todos os cânceres que acometem a população adulta. E cerca de 27% de todos os tumores intracranianos e 80% dos tumores malignos intracranianos. “As manifestações clínicas incluem dor de cabeça, convulsões, náuseas, vômitos, fraqueza motora de um lado do corpo, transtorno de memória, atenção, linguagem ou ainda transtorno de personalidade”, diz.
O diagnóstico pode ser realizado por meio de exames de imagem, como ressonância magnética. A análise definitiva só é possível através de uma biópsia ou ressecção do tumor. “E o tratamento desta neoplasia envolve o alívio dos sintomas, com melhoraria das funções neurológicas do paciente, além de priorizar a sobrevida e também a melhora da qualidade de vida”, finaliza Dr. Lepski.