Brasil lidera o ranking de países com maior percepção de declínio
O Brasil lidera o ranking de países com maior percepção de declínio. Sete em cada dez brasileiros (67%) concordam com essa concepção. O percentual é menor do que em 2016 (72%), quando o Brasil estava em terceiro lugar neste mesmo ranking, atrás de África do Sul (77%) e Itália (73%). Os números de 2018 do Brasil são muito maiores do que a média global (44%). Os dados são da pesquisa “Beyond Populism? Revisited – Global Advisor” da Ipsos, realizada em 24 países, incluindo o Brasil, com 17,2 mil entrevistados, entre os dias 26 de junho e 9 de julho. A margem de erro para o Brasil é de 3,5 pontos percentuais.
Além do Brasil, as percepções de declínio são mais fortes na África do Sul (64%), na Argentina (58%), Turquia (54%) e Hungria e Estados Unidos (ambos com 51%). Os países com índices menos negativos são o Chile (24%), a Alemanha (25%), o Canadá (30%), a Coréia do Sul e a Índia (ambos com 31%). “Tal percepção de declínio explica o forte sentimento antissistema captado nos últimos anos e reforçado nas eleições, que culminou com a vitória do candidato que fez o melhor uso dessa narrativa”, avalia Danilo Cersosimo, diretor da Ipsos Public Affairs. A maioria dos entrevistados (59%) acredita que os partidos e políticos tradicionais não se importam com a população. Em 2016, o resultado foi de 64%. No Brasil, o índice caiu de 69% em 2016 para 64% neste ano.
Pouco mais da metade dos entrevistados globalmente (52%) acredita que é necessário ter um líder forte disposto a quebrar regras, contra 49% em 2016. No Brasil, o percentual teve um leve aumento de 48%, em 2016, para 51% neste ano. O Peru (69%) é o país que mais acredita nesse tipo de líder.
Por outro lado, para dois em cada cinco (39%) existe um risco reconhecido na eleição de partidos com planos radicais que não estiveram no poder antes. Entre os países mais hesitantes estão Peru (57%), Brasil (54%) e Rússia (52%), enquanto Itália (24%), Suécia (27%) e Grã-Bretanha (28%) estão mais dispostos a abraçar partidos não testados.
No Brasil, 8 em cada 10 (81%) entrevistados não confiam nos partidos políticos. A média global é um pouco menor, de 79%. O Chile é o país onde a desconfiança é maior (89%) e a Malásia tem a menor (65%). A confiança no governo também está baixa: 81% dos brasileiros disseram que não confiam no governo. O resultado foi igual ao de 2016. A média global é de 66%. O apoio aos partidos estabelecidos é fraco, com apenas um em cada cinco (21%) dizendo que os países devem ficar com os partidos políticos e líderes que estiveram no poder antes. No Brasil, o percentual é um pouco maior: 26%.
“O enfraquecimento do papel dos partidos e a descrença nos políticos faz parte desse movimento antissistema que atingiu grandes democracias nos últimos anos. No Brasil, esse fenômeno teve impacto tanto na eleição presidencial quanto nas estaduais, bem como nos Legislativos federal e estadual”, complementa Cersosimo.
População média e ricos
Ainda existe um forte sentimento de que os responsáveis não se importam com a pessoa média e preferem os ricos e poderosos, embora ligeiramente menos de dois anos atrás. Dois em cada três (63%) acreditam que a economia de seu país está equipada para dar vantagem para os ricos e poderosos. O resultado é menor do que o registrado em 2016: 69%. No Brasil, essa percepção cresceu de 69% em 2016 para 71% em 2018. A confiança no sistema de justiça é baixo na América Latina. Peru (81%) e Argentina (76%) são os países que menos confiam. No Brasil, seis em cada dez (67%) não confiam na justiça. Para sete em cada dez brasileiros (77%), as autoridades não são rigorosas para controlar e punir crimes. No Peru, o percentual é ainda maior, com 86%. A média global é de 56%.