Desde o ano 2000, o número de crianças migrantes e refugiadas que estão em idade escolar cresceu 26% no mundo. Os dados são do Relatório de Monitoramento Global da Educação 2019, promovido pela Organização das Nações Unidas, e que tem como tema “Migração, Deslocamento e Educação: Construir Pontes, não Muros”.
Nos Estados Unidos, a intensa política de imigração adotada pelo presidente Donald Trump aumentou significativamente a abstenção de alunos em escolas americanas. O relatório aponta ainda que as medidas de imigração implementadas pelo governo “São prejudiciais à educação daqueles com status indocumentado”, por prejudicar a vida escolar dos estudantes. Um artigo da NBC News observa que a ausência da sala de aula se deve ao medo da deportação, e que esse temor se torna ainda maior quando a instituição escolar permite que os agentes do Departamento de Imigração e Alfândega revistem os prédios e/ou acessem os documentos que apontam a situação de legalidade dos pais e do aluno em questão.
Para Marcio Dornellas, especialista brasileiro em educação que tem experiência de mais de 20 anos na área, este afastamento físico da escola pode aumentar a incidência do homeschooling, o ensino domiciliar. Nos EUA, esta modalidade de aprendizado é legalizada em todos os 50 estados americanos e atende cerca de 3,4% estudantes. “Entre os pontos recorrentes que levam os pais a optarem por este tipo de ensino em casa, estão desde motivos religiosos até a preocupação com ambiente escolar – motivo esse que é o que mais se sobressai com a realidade imigratória”, aponta Dornellas.
A prática que antes era considerada inovadora ou alternativa, tem conquistado mais espaço nos EUA e se tornado comum até mesmo em grandes cidades americanas. De acordo com o National Home Education Research Institute, existem hoje aproximadamente 2,3 milhões de pessoas que foram educadas em casa nos Estados Unidos. Outra estimativa, verificou que haviam até 2010, em torno de 2 milhões de crianças entre 5 e 18 anos que receberam educação domiciliar (Ray, 2011). Aparentemente, a quantidade de crianças que recebem educação domiciliar cresce continuamente entre 2 a 8% ao ano.
O educador, especialista também em tecnologia no segmento educacional, garante que com o ensino em casa, o potencial dos educandos não é prejudicado e pode ser até melhor explorado. “Estudos já comprovaram, inclusive, que os alunos educados em casa tem maiores chances de se sobressaírem em provas e testes com notas mais altas que as de estudantes de escolas convencionais. As ferramentas tecnológicas que temos atualmente podem potencializar este processo de educação, trazendo diferentes realidades para o convívio do estudante. O que não pode acontecer é de esses alunos ficarem sem estudar”, enfatiza.
O ensino domiciliar cresce também à olhos vistos por todo o mundo, em países como Austrália, Canadá, França, Hungria, Japão, Kenia, Rússia, México, Coreia do Sul, Tailândia e no Reino Unido.
Márcio Dornellas
Formado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) em licenciatura matemática, Márcio Dornellas, 40 anos, acumula experiência de mais de duas décadas na área educacional. Desenvolveu projetos, lecionou aulas, dirigiu e coordenou instituições. Atuou no desenvolvimento de iniciativas pioneiras que unem tecnologia e educação. Com ampla expertise, atualmente é empresário e trabalha em projetos voltados ao segmento educacional.