Uso excessivo de smartphones faz mal às articulações
Segundo dados do IBGE de 2018, cerca de 138 milhões de pessoas fazem uso do celular somente no Brasil, sendo em sua maioria o público jovem entre 25 e 34 anos, com quase 90%). Já a população acima dos 60 anos atinge 60%. Ou seja, sofremos uma mudança de hábito de comunicação e informações muito intensa e rápida.
O uso do celular para leitura de informações, ou mesmo como forma de escrita, implica em duas situações agravantes. A primeira delas envolve o movimento da coluna cervical no sentido de inclinação para frente (flexão do pescoço), para a visualização da tela do celular. A segunda envolve a digitação de textos, o que implica no uso coordenado do polegar para acionar as letras na tela do celular. Para o ortopedista e cirurgião das mãos do HCor, Dr. Marcelo Rosa de Rezende, está comprovado que os movimentos repetitivos utilizados para digitar mensagens no teclado dos smartphones podem provocar tendinite, bursite, rizartrose (atinge a articulação da base do polegar), entre outros tipos de lesões ou disfunções articulares que afetam não só as mãos, mas também os braços, ombros e até os músculos presentes nesta região do corpo. “Isso ocorre porque grande parte dos usuários ainda costuma passar horas com estes aparelhos entre os dedos, sem se dar conta do desgaste físico que estão sofrendo. Contudo, há meios de lidar com a situação. Medidas como alongamentos e pausas em períodos longos de uso ajudam a prevenir o problema. Porém, o melhor ainda é recorrer ao celular apenas em casos de real necessidade e, principalmente, procurar manter a postura corporal correta ao utilizá-lo”, afirma Dr. Rezende.
Cuidado com a postura!
Em relação a coluna cervical observamos que a postura, em flexão da coluna cervical, leva a um desequilíbrio da musculatura estabilizadora da região, o que induz aos vícios posturais a longo prazo, bem como de quadros de cervicalgia (dor no pescoço, com eventual irradiação para região posterior das costas e ombro). “Já o movimento de digitação utilizando os polegares, leva a uma sobrecarga decorrente do uso repetitivo da musculatura do polegar, o que causa o surgimento das tendinites nessa região”, esclarece.
Uso do celular entre os jovens: um estudo sueco avaliou jovens que usam o celular para a escrita de textos durante anotações em sala de aula, e constatou que as pessoas que desenvolveram o quadro doloroso mais importante foram aqueles que eram mais habilidosos e, portanto, mais rápidos para a escrita no celular. “Ou seja, a destreza pode ser considerada uma vantagem. No entanto acarreta a um potencial maior para o desenvolvimento de tendinites no entorno do polegar”, explica o ortopedista.
Uso do celular entre os idosos: se considerarmos que as pessoas mais idosas usam o celular de uma forma crescente, devemos estar atento para um grande risco representado pela queda. “Com a idade perdemos muito de nossas funções fisiológicas como às relacionadas ao aparelho músculo esquelético, visual, além das funções proprioceptivas (equilíbrio das articulações). Portanto, com o avanço da idade estamos naturalmente mais sujeitos as quedas – que associado ao eventual uso de celulares pode ser um dado agravante no aumento do número de pacientes que caem, podendo levar a fraturas em especial no membro superior”, diz.
O Dr. Rezende ensina que, quando for digitar, é importante manter a postura corporal correta. Para isso, é preciso alinhar os braços e procurar apoia-los em uma mesa. “Tente deixar o aparelho afastado de si. A tendência é que os braços fiquem melhor acomodados e você não precise flexionar tanto o pescoço para baixo, na hora de verificar a tela. Embora essa seja a maneira mais segura de digitar, ela não precisa ser adotada de maneira rígida. O que cada usuário precisa fazer é tentar encontrar uma forma de manter os braços bem apoiados, o celular afastado e o pescoço o mais reto possível, para diminuir o risco de problemas causados por esforço repetitivo”, orienta o ortopedista do HCor.
Evite a qualquer custo!
Não é só escrevendo mensagens, sem as devidas precauções, que podemos colocar a saúde das nossas articulações em risco. Segundo o Dr. Rezende, existem hábitos na hora de falar ao telefone que também podem fazer muito mal, e precisam ser evitados a qualquer custo. Um deles é o de segurar o celular entre um dos ombros e a cabeça, enquanto as mãos estão ocupadas. “Por mais rápida que seja a conversa, o melhor é interromper o que está fazendo, desocupar as mãos e levar o aparelho ao ouvido usando uma delas. Isso evita que o contorcionismo necessário nesse tipo de manobra prejudique o pescoço, os ombros e o maxilar”, alerta. “Com estes cuidados, é possível utilizar os smartphones de maneira mais segura e saudável”, enfatiza o ortopedista do HCor.
Para orientar os usuários sobre como utilizar os seus smartphones de maneira mais anatômica e menos danosa às articulações, o Marcelo Rezende tem algumas dicas. “Dores e incômodos provocados pelo uso continuo de celulares podem ser evitados ou mesmo reduzidos por meio de medidas relativamente simples”, afirma:
- Procure usar o celular para leitura, na linha dos olhos, para evitar, assim, a flexão do pescoço
- Utilize o celular apenas para realizar textos curtos, e sempre com os antebraços apoiados
- No caso do uso do polegar na digitação, é importante procurar utilizar ambos os polegares, e não somente um, e busque digitar numa velocidade menor
- Nunca desça escadas ou ande nas ruas e calçadas usando o celular. Pois o risco de queda é muito grande. Esta orientação vale para todos, em especial aos idosos.