A configuração das famílias tem mudado ao longo dos anos, tanto no Brasil quanto em outros países. Uma dessas mudanças, cada vez mais comum, são os casais que decidem morar em casas separadas. O movimento tem até um nome: Living Apart Together(LAT), cuja tradução seria algo como “morando separados, porém juntos”.
Esse modelo de relacionamento não é novo. Há estudos de mais de 20, 30 anos sobre o tema. Segundo a psicóloga Marina Simas de Lima, terapeuta de casal, família e cofundadora do Instituto do Casal, viver em casas separadas é um fenômeno relacionado às mudanças da sociedade. “É um movimento de pessoas que querem ter relacionamentos afetivos íntimos e de longo prazo, mas que rejeitam por vários motivos o modelo tradicional, preferindo manter seu espaço, privacidade ou independência”.
Razões práticas
Em países como Estados Unidos, Canadá e em alguns países da Europa, é muito comum encontrar casais que optam por morar em casas separadas. Segundo um estudo sobre o tema, a maioria dos casais que escolhe este modelo de relacionamento, o faz por razões práticas. “Entre os mais jovens, os motivos estão mais ligados aos estudos ou ao trabalho, por exemplo. Outra explicação, de acordo com a pesquisa, é que os mais jovens usam como uma espécie de experiência inicial para depois decidir se irão ou não morar juntos”, comenta Marina.
Já para os casais mais velhos, as razões são diferentes. “Entre os divorciados e viúvos, os motivos estão mais relacionados aos filhos dos relacionamentos anteriores, ao desejo de manter a independência ou ainda ao medo de passar por novas decepções amorosas. Há ainda aqueles que querem morar separados para resistir às normas tradicionais do casamento e viver uma relação mais aberta e liberal”, ressalta a psicóloga.
Será que funciona?
Para a psicóloga Denise Miranda de Figueiredo, terapeuta de casal, família e cofundadora do Instituto do Casal, o modelo de viver em casas separadas pode funcionar bem para alguns casais. “Cada casal tem seu próprio jeito de estabelecer como esse modelo irá funcionar. É possível ter projetos e objetivos em comum, mesmo vivendo em casas diferentes. Não é o espaço físico que estabelece a identidade conjugal e sim como o casal constrói sua dinâmica, seu funcionamento, além claro da qualidade do vínculo afetivo”.
Longe dos olhos, mas dentro do coração
Denise e Marina comentam que uma das principais vantagens de viver em casas separadas é deixar espaço para sentir saudades e não vivenciar a rotina, que para alguns casais pode ser algo visto como um complicador dentro de uma relação afetiva.
“Sem dúvidas, quem vive em casas separadas tem alguns benefícios em comparação com os casais que vivem juntos. Em geral, como o tempo a dois é reduzido, esses casais tendem a aproveitá-lo de uma forma mais intensa do que aqueles que moram juntos. Outro ponto é que o funcionamento deste tipo de relação pode lembrar um namoro, com mais tempo dedicado ao casal e menos distrações ou problemas cotidianos”, comenta Marina.
Desafios e desvantagens
“Por outro lado, esse modelo traz alguns desafios. Um deles é a criação e educação dos filhos, que pode ser mais complicada ou desafiadora. Inclusive, pode até ser que esse casal enfrente conflitos em relação a ter ou não filhos, justamente por viver desta forma. Um outro conflito que pode surgir é o ciúme”, cita Denise.
Outra desvantagem é a questão financeira. “O casal terá custos em dobro para viver em casas separadas. Assim, é mais comum que esse modelo de casamento seja uma opção para pessoas com mais estabilidade financeira, que já foram casadas ou ainda para aquelas que simplesmente preferem ter seu próprio espaço, por diferentes razões e que possuem condições financeiras para viver desta forma”, ressaltam as especialistas.
Um novo modelo de amor?
“A sociedade vive um processo intenso de transformações no que diz respeito à família e ao casamento. Estamos num momento de transição, ou seja, as pessoas estão procurando novas maneiras de viver a dois. Isso é um fato. Viver em casas separadas é um modelo que pode funcionar dentro deste novo contexto social”, diz Marina.
“Para que qualquer relacionamento afetivo dê certo são necessários alguns ingredientes. Morando junto ou cada um na sua casa, é preciso deixar claro quais são os combinados e o que cada membro do casal espera do outro. O mais importante é viver o amor em sua plenitude e ter satisfação dentro deste relacionamento”, concluem as terapeutas.