Como anda a saúde mental dos brasileiros
O mês de janeiro foi escolhido para falar sobre a importância de cuidar da saúde mental. O movimento Janeiro Branco, criado há seis anos, acontece em todo o país e chama a atenção para a temática. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2020, ou seja, no próximo ano, a depressão será a primeira causa de afastamento do trabalho, ultrapassando as doenças musculoesqueléticas.
Apesar da enorme quantidade de informações disponíveis sobre a importância de adotar estratégias de promoção da saúde mental, o fato é que no Brasil as dificuldades de acesso aos especialistas e aos medicamentos são os principais entraves para que as pessoas busquem ajuda.
Isso foi o que revelou a pesquisa “Como anda a saúde mental dos brasileiros”, realizada pela psicóloga e neuropsicóloga Thaís Quaranta, entre os meses de dezembro de 2018 e início de janeiro de 2019.
Quebra de paradigma
A pesquisa foi relevante, pois mostrou que a maior parte dos entrevistados, 66%, já recebeu um diagnóstico de um transtorno mental. Porém, 36% dos participantes consideram os valores da psicoterapia incompatíveis com a renda da população brasileira. Cerca de 30% da amostra não tem plano de saúde e considera difícil pagar por estes serviços.
“Quem usa o SUS, relata a mesma dificuldade no acesso. Esses dados da nossa pesquisa derrubam as hipóteses do estigma e do preconceito em relação aos cuidados com a saúde mental. Ficou claro que a questão é a dificuldade de acesso e não estes outros motivos”, reflete Thaís.
Isolamento, compulsão alimentar e sono em excesso
Outra revelação importante da pesquisa foi o levantamento das estratégias usadas para lidar com as emoções fora de controle. “Foi impressionante perceber que 60% dos entrevistados preferem se isolar quando estão com problemas ou dificuldades. Sabemos que o isolamento pode não ser a melhor solução para quem está em sofrimento. Ao contrário, nestes momentos é fundamental procurar ajuda”, afirma Thaís.
Comer e dormir demais, usar a internet e as redes sociais ocuparam as primeiras cinco posições no ranking das válvulas de escape, logo depois do isolamento. Para Thais, sem perceber, quem faz isso pode piorar a situação e criar outros problemas.
“Comer demais pode levar ao aumento do peso. Isolar-se impede que pessoa fale e procure um conselho ou algo que possa ajudá-la a solucionar a questão. Sobre a internet e as redes sociais há inúmeros estudos que mostram que o uso demasiado da tecnologia aumenta os níveis de estresse, depressão, ansiedade e solidão”, comenta a psicóloga.
Apenas 18% dos brasileiros se consideram felizes
Quando o assunto é felicidade e satisfação com a vida, aspectos fundamentais para a saúde mental, os resultados chocaram novamente. Claro que é normal e saudável desejar melhorar alguns aspectos da vida. Mas, isso não deveria ser motivo de infelicidade.
“Como já esperávamos, 60% dos entrevistados citaram a vida financeira e 50% o trabalho como as principais causas para insatisfação ou infelicidade. Em seguida, os motivos da infelicidade citados foram a aparência física, a vida amorosa e a saúde mental. Este último dado nos surpreendeu positivamente, pois mostra que as pessoas querem melhorar ou cuidar da saúde mental ou das emoções”, afirma Thaís.
9 em cada 10 brasileiros faria psicoterapia
Cerca de 43% dos brasileiros se sentem infelizes ou insatisfeitos com a saúde mental e 91% deles iriam espontaneamente a um psicólogo para resolver suas questões emocionais. Este dado é muito importante.
“Isso porque ele revela que ao contrário do que se pensa, os entraves para buscar ajuda não são mais o estigma ou os tabus que envolviam a saúde mental até alguns anos atrás. A pesquisa deixou claro que para a população brasileira o acesso, seja pelo SUS, plano de saúde ou particular, é o que realmente impede de buscar ajuda e tratamento para os problemas emocionais”, reforça Thaís.
55% dos brasileiros admitem que não cuidam da saúde mental
A maioria dos entrevistados reconheceu que não cuida da saúde mental como deveria. Como o acesso é um impedimento para frequentar uma psicoterapia e outros serviços, pode ser difícil a pessoa encontrar ou até saber o que ela poderia fazer para cuidar preventivamente da saúde mental.
“Por outro lado, foi surpreendente perceber que as estratégias usadas por aqueles que cuidam da saúde mental são positivas, na maioria dos casos. Entre as mais citadas estão dedicar um tempo para si, ter uma vida social ativa e praticar o autoconhecimento, aspectos fundamentais para ter um bom equilíbrio emocional”, comenta a psicóloga.
Apenas 15% dos entrevistados fazem psicoterapia
Na lista dos recursos disponíveis, apenas 16% dos entrevistados fazem psicoterapia de forma preventiva e 15% fazem terapia porque receberam um diagnóstico. “Portanto, podemos concluir que se 66% desta amostra recebeu um diagnóstico de um transtorno mental, apenas uma pequena parte tem acesso à psicoterapia”, cita Thaís.
Melhorar o acesso é fundamental
Infelizmente, a minoria da população brasileira pode pagar por serviços como psicoterapia, consultas particulares e medicamentos psiquiátricos. Porém, há alguns recursos desconhecidos que podem ajudar quem precisa ou quer cuidar da saúde mental. Veja alguns deles.
- Clínicas gratuitas: Muitas faculdades que oferecem cursos de Psicologia promovem atendimentos gratuitos. Há também algumas organizações não governamentais (ONGS) que possuem esses serviços ou que podem facilitar o acesso.
- Farmácia do SUS: Alguns medicamentos podem ser retirados nas farmácias do SUS, desde que estejam na lista de medicamentos que são distribuídos pela Secretaria de Saúde de cada estado ou município.
- CAPS: Existem em algumas cidades, como São Paulo, os CAPS – Centros de Atenção Psicossocial. São especializados no tratamento e acompanhamento de pacientes com transtornos mentais, com psiquiatras, psicólogos, oficinas, entre outros tratamentos.
- Reembolso: Para quem tem plano de saúde, vale conferir o valor do reembolso. Desde que haja um relatório do médico psiquiatra prescrevendo as sessões de psicoterapia, é possível solicitar o reembolso. O valor pode cobrir uma parte ou até mesmo o valor total das sessões.