Netflix – Filme Dumplin ensina sobre autoestima, amor-próprio e autoimagem
A ficção pode ensinar muito sobre as nossas angústias cotidianas. Recentemente, estreou na Netflix “Dumplin”, filme que conta a história de uma adolescente e seus conflitos familiares. A jovem protagonista, que está acima do peso, resolve se inscrever num concurso de beleza, que é organizado pela sua própria mãe. Temas como autoestima, amor-próprio e autoimagem são recorrentes em Dumplin. Heloísa Capelas, especialista em inteligência emocional e diretora do Centro Hoffman, fala sobre algumas lições que podemos aprender com o longa.
A história
O filme é baseado num livro de mesmo nome que conta a história de uma adolescente e seus conflitos com a mãe. A jovem enfrenta o luto após a morte da tia, alguém que lhe servia de referência; por sua vez, a mãe resiste a entrar em contato com a dor causada pela perda da irmã.
No entanto, Dumplin não é um filme sobre lutos ou perdas e, sim, sobre autoestima, amor-próprio e autoimagem. Isso porque, num ato de rebeldia, a jovem adolescente decide se inscrever num concurso de beleza que tem, à frente, nada menos que sua mãe (ex-vencedora do mesmo concurso). E, então, o que seria uma situação de confronto familiar iminente acaba se transformando numa chance de aprendizado para ambas.
A Síndrome do Amor negativo
O que mais chama a atenção em “Dumplin” é a sua abordagem sutil e, ao mesmo tempo, pragmática quanto à construção da autoestima, do amor-próprio e da autoimagem. A começar pela mãe, uma ex-miss que se dedica a organizar o concurso no qual se sobressaiu por diversas vezes, além de receber, treinar e avaliar cada uma das jovens participantes inscritas. Tão comprometida que está com essa função, a personagem vai além e impõe, a si mesma, as estritas regras comuns ao universo da beleza -principalmente a magreza.
A filha, por sua vez, enfrenta os dilemas da adolescência e se acredita inferior por estar acima do peso. A autoimagem problemática acaba reforçada pelo entorno. “A maneira como esse conflito se estabelece, por si só, já faz o filme valer a pena, porque retrata muito bem um traço comum da dinâmica familiar: muitos filhos rejeitam os valores e crenças dos pais apenas porque, inconscientemente, estão em busca de seu amor, como bem explica a Síndrome do Amor Negativo (teoria que dá base ao Processo Hoffman)”, diz Heloísa.
De acordo com a metodologia Hoffman, todos nós estamos suscetíveis a esta dinâmica. A síndrome afirma que nós aprendemos na infância os comportamentos que nos são comuns até hoje. Ao observar como eram e como agiam nossos pais ou substitutos, passamos a reproduzi-los simplesmente porque acreditávamos que aquela ‘forma de ser’ era o único caminho possível para dar e receber amor. Esse aprendizado ficou incutido em nosso inconsciente, introjetado em nossa memória emocional. “Podemos adotar ou rejeitar por completo o que ensinaram nossos pais e, ainda assim, estaremos honrando suas existências e lições. E o fazemos desde a infância simplesmente porque queríamos obter, deles amor,”, explica Heloísa.
É o que acontece na dinâmica familiar de “Dumplin”: enquanto a mãe é absolutamente devota aos rígidos padrões estéticos impostos pelo universo da beleza, a filha rejeita, crítica e até satiriza este mesmo universo. No entanto, ao menosprezar com tanta veemência os valores e crenças de sua mãe, ela apenas reforça, para si mesma e de maneira inconsciente, o quanto é indigna de receber amor – afinal, em sua crença infantil, o amor de sua mãe é condicionado a que se atenda a esses padrões estéticos, principalmente o da magreza.
Como melhorar a autoestima, o amor-próprio e a autoimagem
Há uma imposição estética arraigada no inconsciente coletivo que nos faz diferenciar o “feio” do “bonito”, o “gordo” do “magro”, o “novo” do “velho”, e assim por diante. Mas não é só isso. Para além desta já sofrível referência, temos determinado, para nós mesmos, padrões quase sempre impossíveis de serem atendidos. Queremos ser magros, jovens, esbeltos, fortes, saudáveis, e queremos manter todo este vigor para sempre; queremos ser perfeitos, sem perceber que a perfeição simplesmente não existe. A única maneira de interromper esse círculo vicioso de autocrítica e de autopunição é a partir da autoconsciência que transforma a autoimagem, fortalece a autoestima e leva ao amor-próprio.
Em “Dumplin”, ambas as personagens passam por um lindo processo de autoapropriação. Mãe e filha se percebem com mais profundidade, reconhecem as nuances de suas próprias histórias e, enfim, dão passos largos em direção à autoaceitação ao assumir, para si mesmas, que erros e acertos fazem e farão parte de suas trajetórias. O mesmo deve acontecer na vida real se quisermos alcançar esse novo lugar, onde há mais plenitude, paz de espírito e bem-estar.
Para a especialista, a melhor autoimagem é aquela que faz com que você se sinta bem a seu próprio respeito, independentemente das características que gostaria de mudar (e que trabalha para mudar) a seu próprio respeito. “A grande autoestima é aquela que está referenciada internamente, em quem você já foi e em quem você tem se tornado graças ao seu próprio esforço, sem comparações com nada que lhe é externo. O verdadeiro amor-próprio é aquele que perdoa os próprios erros e comemora as próprias conquistas”, diz.