É possível associar voluntariado a serviço público? Um exemplo de resposta a essa pergunta está no trabalho voluntário realizado no Núcleo de Apoio a Projetos Educacionais e Culturais (NAPEC), do Rio de Janeiro, vencedor da categoria Voluntariado no Setor Público do Prêmio Viva Voluntário de 2018.
Desde 2012, a instituição demonstra como o apoio da sociedade civil é fundamental para fortalecer iniciativas do serviço público. O NAPEC faz parte do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), vinculado ao Ministério da Saúde, e oferece anualmente cerca de 100 mil procedimentos ambulatoriais, 4 mil internações e 1 mil atendimentos domiciliares gratuitos.
São atendidos usuários da rede pública e privada de saúde, além de serviços filantrópicos, incluindo de outros municípios. A população-alvo são os pacientes de risco, com necessidades especiais, muitas vezes dependentes da tecnologia fundamentada e aprimorada continuamente por pesquisas.
O NAPEC conta com 129 voluntários que realizam atividades em ambulatórios e enfermarias. O perfil é diverso, incluindo pessoas de diferentes áreas, como Engenharia, Direito, Arquitetura, Medicina, Oftalmologia. Sua atuação tem início às 7h para dar oportunidade àqueles trabalham em horário comercial. No entanto, os aposentados compõem a maioria dos voluntários. O recrutamento costuma ser feito no “boca a boca” e, mesmo assim, a procura tende a ser maior do que a demanda de trabalho.
Desde agosto de 2018, projetos como este podem usar a plataforma Viva Voluntário, criada mediante parceria entre o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Casa Civil, para cadastrar vagas de voluntariado em qualquer lugar do Brasil e procurar interessados.
No NAPEC, os voluntários novatos passam por capacitação de três dias, durante a qual aprendem sobre a organização e as diversas atividades oferecidas. Na capacitação, os voluntários podem escolher onde querem atuar, de acordo com a disponibilidade de vagas e horários. Após a parte teórica, vem a prática, que é o acompanhamento do voluntário novato por outro mais experiente. Essa etapa dura mais ou menos um mês, até o voluntário compreender melhor as regras e como realizar o trabalho junto aos pacientes. Por vezes, as crianças atendidas têm alta vulnerabilidade e buscam atendimento e tratamento para doenças crônicas e raras.
Para reforçar o bem-estar dessas crianças, a Fundação Abrinq, o Citibank e os ministérios da Educação e da Saúde iniciaram, em 2000, atividades lúdicas e educativas dentro do instituto. O projeto passou por modificações até dar corpo ao atual NAPEC, que, desde 2012, atua com a população atendida pelo instituto por meio de diversas atividades de cultura e educação.
O trabalho voluntário organizado pelo NAPEC se dá de diferentes maneiras. A narração de histórias, por exemplo, tranquiliza tanto as crianças quanto as mães acompanhantes. Um parquinho funciona diariamente dentro do hospital. Ele foi reformado e, há quatro anos, oferece um ambiente mais lúdico assim que a criança chega ao hospital.
O voluntariado de acompanhantes também faz parte das atividades da instituição. Maria Magdalena, responsável pelo voluntariado do NAPEC, citou a importância da atuação desses voluntários. “Crianças internadas, quando ficam sozinhas, se sentem inseguras e com medo. Assim, quando a mãe precisa sair para tomar um banho ou realizar alguma atividade, o voluntário pode ajudar trazendo tranquilidade tanto para a mãe como para a criança”. Um dos principais projetos dentro do NAPEC é a Biblioteca Viva, que procura estimular o hábito da leitura, bem como o desenvolvimento afetivo e social, a criatividade e a organização do pensamento. Todas essas atividades procuram criar um tratamento mais humanizado e um ambiente mais agradável para os pacientes e seus acompanhantes.
A rede social Facebook é um instrumento importante no trabalho do NAPEC. A página Amigos do NAPEC é canal de comunicação, principalmente para os familiares, que muitas vezes moram longe. Por meio da página, esses familiares podem se sentir mais seguros ao saber que as crianças estão sendo bem tratadas em um ambiente acolhedor. Magdalena ressaltou que as diversas atividades trazem “como contribuição principal, para as crianças, adolescentes e mulheres, a semente da cultura e da educação por meio dos livros e das atividades educacionais e lúdicas, e para as famílias que não têm condições de irem para casa sem ajuda [especial], a possibilidade do filho/a ter a vivência na família, não ficar restrito/a ao hospital”. Ela destacou ainda que, com a oportunidade de as crianças irem para casa, para tratamento domiciliar, ou adaptação da casa, o hospital pode abrir portas para atender mais pacientes, dando oportunidades a outras crianças.