50 anos da inauguração do Gigante da Beira-Rio
Finalmente, no domingo de páscoa do dia 6 de abril de 1969, o Beira-Rio foi inaugurado. Exatamente 50 anos atrás. À época, era o mais bonito e luxuoso do Brasil. Todos os pensamentos na capital dos gaúchos convergiam para o Gigante, enquanto a cidade, literalmente, se pintava de vermelho. De todas as formas, fosse com bandeiras ou retalhos de tecidos vermelhos, pelos carros, estádios, pedestres.
A direção do Clube pediu que os torcedores colorados estourassem foguetes durante o amanhecer, o que ficou conhecido como “Alvorada Colorada” ou “Despertar Vermelho”. Previstos para às 7h, os primeiros foguetes puderam ser ouvidos ainda antes das 6h. Também pudera, a ansiedade da torcida era enorme após 13 anos de espera, desde a aprovação do projeto da nova casa dos colorados até o dia da inauguração. Mas valeu cada segundo, foi um espetáculo lindo de se ver!
“Parecia que havia uma cerração em Porto Alegre, a coisa mais bonita que vi na minha vida. Foi uma coisa incrível, que nunca mais acontecerá no mundo”, descreveu Eraldo Herrmann, integrante da comissão de obras e presidente no primeiro título brasileiro, em 1975.
Uma multidão de aproximadamente 100 mil pessoas foi ao estádio ver o festival de apresentações. Estádio algum no Rio Grande do Sul já havia recebido tamanho público. No mesmo lugar em que celebrara o lançamento da pedra fundamental em 1963, o Bispo Edmundo Kunz benzeu o Estádio. No gramado, por volta das 13h30, a Banda Militar do 19º Regimento de Infantaria de São Leopoldo, acompanhando o então o Governador Walter Peracchi de Barcelos, executou o hino nacional.
Na sequência, as autoridades acompanharam o engenheiro Ruy Tedesco, presidente da comissão de obras, até o centro do campo, onde, cercado por seus companheiros, cortou a simbólica fita de inauguração do estádio. Ali, naquele momento, era oficialmente concretizado um sonho que, no seu princípio, dez anos atrás, soara quase impossível.
Às 14h, surgiram os componentes da Banda Marcial do Corpo de Fuzileiros Navais, ostentando os seus vistosos uniformes vermelhos. Ao mesmo tempo, o placar eletrônico do Gigante era ligado, saudando a torcida que já lotava o Gigante. A Banda realizou suas evoluções até que, em colunas, fizeram surgir a frase “PARABÉNS COLORADO”.
Ainda no evento, houve uma corrida de mini-fórmulas Casari, uma espécie de kart, na pista atlética do Beira-Rio. Foi a primeira das três corridas realizada em Porto Alegre. Pilotados por garotos de 8 a 14 anos, a atração fez o público vibrar, em uma prévia de rapidez no estádio que posteriormente presenciaria o arranque e velocidade de jogadores como Valdomiro, Lula, Fabiano e Nilmar.
Destacava-se o novo gramado, inédito para o Brasil, por envolver não o assentamento, mas sim plantio das mudas. Além disso, a utilização do tipo de grama “Bermuda Green” foi inédita para o futebol daquele tempo. O gramado foi plantado com grande antecedência, no Country Club de Porto Alegre.
Chegava a hora do jogo de abertura. Bicampeão europeu e cinco vezes finalista de Champions na década, atual campeão português, time que contava com um dos maiores jogadores de todos os tempos – Eusébio – o Benfica enfrentou o Clube do Povo na partida inaugural. Foi um jogo duro para o jovem time colorado, recheado de jogadores oriundos do Celeiro de Ases. Apesar da dificuldade, o Inter tratou de mostrar quem mandava no Gigante – jamais deixaria passar pelo vexame de ser derrotado na partida inaugural do seu próprio estádio.
Além disso, havia um amuleto da sorte e tanto. No momento em que as equipes subiram ao gramado, Bodinho, histórico atacante do Rolinho, quando formou memorável dupla junto a Larry; entrou atrás do elenco vermelho, vestindo a sua camisa 8.
O Inter tomou a iniciativa, empurrado pela massa ensandecida. Empolgado, aos 24 minutos Valdomiro se lançou pela ponta direita e cruzou. Gilson Porto, na esquerda da área do Benfica, emendou de primeira de volta para a área. Ali estava Claudiomiro, com apenas 19 anos, bem posicionado entre os zagueiros, para desferir uma cabeçada certeira. O Clube do Povo abria 1 a 0 e o estádio pulsava!
No segundo tempo, Eusébio empatou aos 23min em um equívoco da arbitragem, que validou cobrança de falta previamente orientada em dois toques, mas que fora convertida em somente um. Mas ele mal pôde comemorar, pois menos de cinco minutos depois, Gilson Porto, também em uma bola parada, bateu o goleiro José Henrique de forma magistral, dando números finais à partida. O Beira-Rio já surgia mostrando que ocuparia lugar de protagonista na história do futebol brasileiro.
Internacional (2): Gainete; Laurício, Scala, Bibiano Pontes e Sadi; Tovar e Dorinho; Valdomiro (Urruzmendi), Bráulio (Sérgio), Claudiomiro e Gilson Porto. Técnico Daltro Menezes.
Benfica (1): José Henrique; Adolfo Messias, Humberto Fernandes, Zeca e Cruz; Toni e José Augusto (Nenê); Praia (Victor Martins), Torres, Eusébio e Simões.Técnico: Otto Glória.