Dados preliminares mostram que os casos de sarampo no mundo tiveram aumento de 300% no primeiro trimestre de 2019, em comparação com o mesmo período do ano passado, afirmou ontem (15) a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o organismo da ONU, todas as regiões do planeta têm registrado um crescimento prolongado no número de episódios da doença, que avançou mesmo em países com elevada cobertura de vacinação, como os EUA.
Entre as nações que registram surtos atualmente, estão a República Democrática do Congo, Etiópia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Madagascar, Mianmar, Filipinas, Sudão, Tailândia e Ucrânia. A propagação da enfermidade tem causado várias mortes, principalmente entre crianças pequenas.
O sarampo é uma das doenças mais contagiosas do mundo e pode se tornar extremamente grave. Em 2017, ano mais recente para o qual há estimativas disponíveis, a patologia foi responsável por quase 110 mil mortes. Mesmo em países de renda alta, as complicações resultam em internações em até 25% dos casos e podem levar à incapacidade permanente — desde danos cerebrais e cegueira até perda auditiva.
Nos últimos meses, também ocorreram picos no número de casos em países com elevada cobertura geral de vacinação, incluindo os Estados Unidos, Israel, Tailândia e Tunísia. O fenômeno é explicado pelo fato de que a doença se espalhou rapidamente entre grupos de pessoas não vacinadas.
Até o final de março de 2019, 170 países haviam notificado 112.163 casos de sarampo à OMS. No mesmo período do ano passado, foram 28.124 ocorrências da doença em 163 nações. Em nível mundial, isso significa um aumento de quase 300%. O aumento é registrado após altas consecutivas registradas nos últimos dois anos. Na África, o crescimento entre 2018 e 2019 foi de 700%. Nas Américas, 60%. Na Europa, 300%. No Mediterrâneo Oriental, 100%. No Sudeste Asiático e no Pacífico Ocidental, 40%.
A OMS lembra que o sarampo é quase totalmente evitável por meio de duas doses de uma vacina segura e eficaz. Mas durante vários anos, a cobertura global da imunização ficou estagnada em 85%, porcentagem menor do que os 95% necessários para evitar surtos. A lacuna deixa muitas pessoas em risco. A cobertura com a segunda dose da vacina é ainda menor — 67%.
A organização internacional, governos e instituições parceiras, como a Iniciativa contra o Sarampo e Rubéola, a Aliança de Vacinas, e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), têm implementado programas para responder aos surtos nos países. Conheça algumas dessas ações:
- Depois de conduzir campanhas de vacinação de emergência visando 7 milhões de crianças de seis meses a nove anos de idade, Madagascar agora está observando quedas gerais nos casos de sarampo e mortes relacionadas;
- Nas Filipinas, mais de 3,8 milhões de doses da vacina contra o sarampo e a rubéola foram administradas em crianças com menos de cinco anos;
- A República Democrática do Congo está se preparando para lançar uma resposta combinada com a vacina contra a poliomielite;
- Em colaboração com as autoridades locais de saúde, a OMS e o UNICEF conduziram uma campanha nacional de vacinação contra o sarampo e a rubéola no Iêmen, alcançando mais de 11,6 milhões (90%) de crianças de seis meses a 16 anos em todo o país.
A OMS ressalta a necessidade de garantir que os serviços de imunização sejam de qualidade e acessíveis para toda a população, em especial para as crianças e para os grupos que sofrem discriminação sistemática. O organismo pede ainda estratégias de comunicação e engajamento do público, que precisa ser conscientizado sobre a importância da vacinação e sobre os perigos das doenças que as vacinas conseguem evitar.
A cobertura da segunda dose de vacina também precisa aumentar no mundo. Hoje, 25 países ainda precisam transformar essa etapa da imunização contra o sarampo em uma parte do seu programa essencial de vacinação.
Entendendo os números
O número oficial de casos de sarampo, notificado pelos Estados-membros da OMS, só fica disponível em julho do ano seguinte. A agência da ONU explica que os dados mensais de vigilância são provisórios e incompletos, uma vez que muitos países – em particular os que atravessam grandes surtos – ainda estão registrando estatísticas. Devido a atrasos nos relatórios, também pode haver discrepâncias entre o que é apresentado nesses documentos e o que é relatado diretamente pelos países.
O número real de casos – capturados em estimativas globais – também será consideravelmente maior do que os notificados. A OMS estima que menos de um em cada dez casos é reportado no mundo, com variações por região.