Diante de um diagnóstico de câncer inúmeras preocupações podem surgir, como a infertilidade, efeito colateral comum no tratamento da doença. Quando falamos sobre linfoma de Hodgkin, câncer de sangue que atinge principalmente jovens em idade reprodutiva – entre 15 e 35 anos -, quando muitos sonham em ser pais, esse medo é ainda maior.
A doença atinge pequenos órgãos linfonodos, que pertencem ao sistema linfático, responsável por reproduzir e transportar as células encarregadas pela imunidade do organismo. No caso do linfoma de Hodgkin, esses linfonodos incham em partes do corpo como na virilha, pescoço e axilas, prejudicando as funções do sistema linfático. Entre os principais sintomas estão febre, cansaço, coceira pelo corpo, suor à noite e perda de peso.
Dr. Guilherme Perini, hematologista do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que a quimioterapia e a radioterapia, tratamentos da doença, podem afetar as células dos órgãos reprodutores, como os ovários e os testículos, tornando os pacientes inférteis. Entretanto, essa condição nem sempre é permanente e pode ser evitada. “No caso do linfoma de Hodgkin, as taxas de infertilidade em primeira linha de tratamento são muito baixas, já que as drogas utilizadas atualmente não têm tanto impacto, comparado com as usadas para outras doenças. Porém, quando partimos para outras linhas de tratamento, com transplante, seja autólogo ou alogênico, e radioterapia, esses números aumentam”, explica.
Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa sobre o Câncer de Londres, entre os anos 1960 e 2004, demonstrou que dependendo do tipo de tratamento, o risco das mulheres desenvolverem menopausa precoce aos 40 anos foi de até 70%. A menopausa faz com que o corpo interrompa a produção de hormônios femininos e, com isso, causa a infertilidade. “Porém, é importante alertar que esse índice pode variar de acordo com a medicação, a dose utilizada e a idade da mulher”, ressalta o médico.
Para evitar riscos de nunca poder ter filhos, existem diversas estratégias para preservar a fertilidade antes mesmo do tratamento. Para os homens, utiliza-se a técnica de congelamento de sêmen. Já para as mulheres, existem quatro alternativas: o congelamento de óvulos e embriões, que são coletados e armazenados em condições especiais; o congelamento do tecido ovariano, feita com cirurgia por videolaparoscopia para retirar parte do ovário e realizar uma preparação e congelamento do tecido; e por fim a supressão ovariana, na qual a paciente toma um remédio que bloqueia a produção hormonal para induzir uma menopausa temporária, tornando os folículos menos sensíveis ao tratamento. “Como tratamos de um câncer com altíssimas chances de cura – cerca de 70 a 90% ainda na primeira linha de tratamento -, temos que nos preparar para atender aos futuros planos do paciente, entre elas a preservação da fertilidade. Por isso, é importante que o médico discuta com o paciente o impacto da doença na saúde reprodutiva de forma clara antes do início do tratamento”, recomenda Dr. Perini.
O paciente, por sua vez, tem a opção de consultar um especialista em fertilidade, profissional em técnicas de reprodução assistida, para preservar sua fertilidade. O Dr. Guilherme aconselha esperar de um a dois anos depois do tratamento do câncer para engravidar, dessa forma é possível acompanhar o período de remissão sem riscos. “Contudo, a decisão precisa ser discutida caso a caso”, finaliza o especialista.