O número de diagnósticos de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), tanto na fase infantil quanto na adulta, tem aumentado significantemente. Hoje, a cada 10 pessoas, uma recebe o diagnóstico. No entanto, de acordo com pesquisas, os dados reais são uma a cada 20, pois o transtorno tem sido confundido com outros sintomas como, por exemplo, a desatenção.
Segundo a neuropsicóloga Marcella Bianca, é bastante comum pacientes com queixas de que não conseguem se concentrar, a não ser que estejam sozinhos ou em casa totalmente desconectados do mundo digital. “Profissionais diagnosticam esses pacientes com TDAH, mas quem apresenta o transtorno não consegue se concentrar em nenhum contexto. Não importa se é somente quando se está sozinho. A partir do momento que ele consegue se concentrar, não tem TDAH”, alerta a especialista.
Marcella explica que existem outros fatores que levam a diagnósticos errôneos como a tecnologia. O Spotify, famoso serviço de streaming, identificou que 25% das pessoas pulam a música antes dos 5 segundos e 50% não ouvem a música até o final. De acordo com a neuropsicóloga, é preciso distinguir o que é uma impulsividade patológica e o que é uma impulsividade comum. “Não estão levando em consideração que nós já somos impulsivos de modo geral por causa da tecnologia, do quanto ela está sendo rápida e fácil. Não podemos falar que é um transtorno de atenção ou até mesmo uma desatenção se os sintomas de ansiedade são altos”, explana.
Outro fator que não se pode ignorar é a exaustão do cérebro. “É bastante comum as pessoas aumentarem a carga horária de estudos para passar em concursos e vestibulares, chegam a ficar 10 horas estudando, sem pausa, e se esquecem de que o ser humano não consegue absorver tanto conteúdo e se manter focado por tanto tempo assim. Há muitas pessoas com a queixa de que não consegue aprender, prediagnosticando algum problema de atenção, mas não é! É a sobrecarga que está depositada em cima do cérebro sem as pausas adequadas”, analisa Marcella.
A especialista conta que, atualmente, há mais diagnósticos de TDAH do que realmente se tem.
“Chega a queixa de desatenção e o profissional, às vezes, só investiga o fator de desatenção. Ele não investiga memória, linguagem, o cérebro e as emoções, principalmente. Não vê depressão ou ansiedade, que levam a alteração na atenção, mas não se tratam de um problema atencional, não é o TDAH”, conclui a neuropsicóloga.
Marcella Bianca, neuropsicóloga e professora de pós-graduação em Neuropsicologia, mestra em Gerontologia e membro da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia – SBNP.