Negócios

29º Congresso Movergs abordou momento das indústrias e do País

Mais de 400 pessoas prestigiaram o evento, que contou com cinco palestras relevantes para empresários e profissionais ligados ao setor moveleiro

As transformações econômicas, políticas e sociais do Brasil nos últimos anos e o que ainda estão por vir foram apresentadas nesta terça-feira, 06 de agosto, durante o 29º Congresso Movergs, realizado em Bento Gonçalves (RS) para mais de 400 participantes. Por meio do mote “E agora? Como enfrentar os desafios do mercado atual” foi possível trazer reflexões sobre o que pode ser feito para alavancar o setor moveleiro e, consequentemente, as indústrias do Rio Grande do Sul e do País. O evento contou com o patrocínio da Sayerlack e Exclusive Smart Capital e o apoio da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs).

Ao abrir o 29º Congresso, o presidente interino da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs), Rogério Francio, pontuou que o segundo semestre de 2019 é cercado de muitas expectativas, seja no âmbito econômico e político, visto que alguns fatos, como a aprovação da Reforma da Previdência, são motivadores para acreditar em uma agenda positiva. “Ainda temos uma extensa pauta a ser debatida, como a redução da carga tributária, a desoneração da folha de pagamento, obras de infraestrutura e logística. A crise nos trouxe alguns ensinamentos sobre fazermos a lição de casa, sobre investirmos em tecnologias, sobre negociarmos com fornecedores e sobre buscarmos novos mercados”.

Móveis em números

Ciente de que há um enorme mercado tanto interno quanto externo a ser explorado, Marcelo Prado, sócio-diretor IEMI- Inteligência de Mercado, apresentou um panorama do mercado de móveis e os desafios frente ao cenário atual. O economista apontou a segmentação como uma opção importante para agregar valor aos negócios, assim como a busca por novos canais de venda para construir o crescimento. “Estamos vivendo há alguns anos um período de competição, portanto, é preciso ser gestor de design, de inovação e ter organização para competir com crise ou sem crise. Não é fácil, nos tira do conforto”.

Prado enfatizou que o legado que a crise dos últimos cinco anos deixou é de que ser um dublê de produto, fazer mais do mesmo e barato, sem inovação, sem diferenciais, não remunera o negócio, e na crise esse tipo de empresa é punida pelo mercado. Atualmente, são 53 mil pontos de venda no segmento móveis e colchões, sendo que em 2016, 7,7 mil lojas especializadas fecharam e nos últimos dois anos foram abertas 3,5 mil novas lojas. De 2013 a 2018 o varejo de móveis caiu 17%.

Apenas em 2018, segundo Prado, os brasileiros consumiram R$ 4,5 trilhões em bens de consumo, sendo R$ 84 bilhões em móveis e colchões, o quinto maior mercado do País, em um universo de 208 milhões de habitantes e de 69 milhões de domicílios, o que totalizou R$ 404 em gasto habitante/ano. Desse total, R$ 81,1 bilhões foram vendidos no varejo físico (96,1%), e R$ 3,3 bilhões B2C (3,9%). Apesar da grande diferença de percentuais entre os dois segmentos, em 2018, no varejo físico a taxa de crescimento foi de 1,7%, enquanto que no e-commerce saltou para 33%.

Em se tratando de projeções, para os próximos cinco anos, Prado aponta que há estimativa de expansão de 13,9% na produção de móveis e colhões no Brasil (2,6% ao ano). Entretanto, nesse ritmo, em 2023 o setor ainda não terá recuperado seus níveis de produção, registrados antes da crise (em 2013). “Estamos começando a reinvestir na nossa indústria, os empresários estão colocando dinheiro nos seus negócios, o que é muito positivo”.

Economia

O economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), André Nunes de Nunes, mostrou que a desaceleração global, a guerra comercial e problemas estruturais tem dificultado a estabilização econômica da China, cujo PIB passou de 10,6% em 2010, caiu para 6,6% em 2018; e a previsão é de 5,5% em 2024. “A economia brasileira sofre consequências diretas e indiretas dessa “guerra” entre EUA e China com a menor demanda global, maior concorrência no mercado interno e externo com produtos chineses, impactos cambiais no sentido de desvalorização, impactos na atração de investimentos.

Para Nunes, a crise entre China e EUA trará oportunidades para alguns segmentos, apesar de no contexto geral não ser positivo para o Brasil e para o mundo. Internamente, a sugestão do economista é prosseguir com agenda de reformas. “A situação fiscal é muito grave, torna-se a fonte de incerteza e limita os gastos não obrigatórios. Em 10 anos, a receita reduziu em 0,9 p.p do PIB (R$ 188 bi) enquanto que a despesa se elevou em 3,6 p.p (R$ 476 bi). Em muitos estados, a situação fiscal é ainda pior, mais da metade dos estados estouraram o limite”, alerta.

Nunes destacou que o início de 2019 reverbera os choques de 2018, como a crise da Argentina que impactou duramente as exportações de manufaturados, a greve dos caminhoneiros que desabasteceu setores e elevou os custos de transporte, a polarização durante as eleições gerou incerteza e impactou juros e câmbio adiando decisões de investimentos, a queda da barragem de Brumadinho influenciou sobre a economia durante todo o ano, os ruídos na articulação da reforma da Previdência deixam investidores em compasso de espera.

As expectativas para o segundo semestre de 2019 e o ano de 2020 se sustentam na recuperação cíclica da confiança elevada, da ociosidade na indústria com possibilidade de ampliação de trabalho, da inflação controlada e juros baixos, da queda sistemática do endividamento das famílias e estoques ajustados. Quanto aos impactos imediatos da Reforma da Previdência, o economista destacou espaço para novas quedas na Taxa Selic, a redução do empoçamento de crédito, o incentivo à tomada de decisão de investimentos, o maior espaço para o progresso de agenda da competitividade. “Existem vários elementos de crescimento lento e gradual da nossa economia”.

Varejo

Fundada em Franca, há 62 anos, a Magazine Luiza abocanha 14% do mercado nacional e, de acordo com Julio Cesar Trajano Rodrigues, diretor executivo, hoje são 50 milhões de acessos nas plataformas e a categoria de móveis é o carro-chefe. No primeiro trimestre de 2019, a marca atingiu R$ 5,7 bilhões de faturamento, graças aos 18 milhões clientes ativos, 959 lojas físicas. Com o foco em pessoas e inovação, o e-commerce participa com 41% das vendas da marca, sendo 33 milhões de downloads no aplicativo. “Sofremos muito com a crise, 2015 foi difícil. As ações bateram R$ 1,00. Mas o nosso propósito sempre foi muito claro, foco em pessoas e inovação”. No primeiro trimestre de 2019, o e-commerce da Magalu cresceu 50%, contra 8% de alta nas lojas físicas, totalizando R$ 138 milhões de lucro líquido.

Do final de 2015 até o momento, a marca passou pelo desafio de transformar uma empresa tradicional em uma plataforma digital, sempre com muito calor humano. Outro propósito foi garantir a inclusão digital. “Não existe inclusão social sem inclusão digital. Hoje a rede social é muito poderosa. 70% dos clientes que vão nas lojas físicas já pesquisaram no virtual”. Apesar de toda a ousadia, Trajano reforçou que é preciso tomar decisões baseados em dados.

Política e motivação

O jornalista Alexandre Garcia abordou o tema ‘Conjuntura política nacional’. Com sua experiência de quase meia década de atividades na imprensa brasileira, sendo boa parte vivenciada em Brasília, Garcia fez apontamentos sobre o atual cenário político do País. Garcia começou dizendo que cresceu ouvindo dizer que o Brasil é o país do futuro, no entanto, até o momento isso não aconteceu. Para ele, o brasileiro precisa ser mais otimista, acreditar que as ações em andamento darão certo e colocarão o Brasil novamente no rumo certo. O jornalista concluiu sua participação no Congresso instigando os presentes com a seguinte reflexão: “E se toda a população brasileira fosse morar no Japão e o japoneses viessem morar no Brasil? Eu tenho certeza de que em 10 anos o Brasil seria um país de primeiro mundo”.

Para fechar o ciclo de palestras, o radialista, apresentador e colunista, Marcos Piangers, abordou ‘Criatividade & Inovação: uma espiada no futuro’. De forma muita descontraída, Piangers destacou que ainda olhamos para a tecnologia com medo. “Se você acha que perdeu a ‘onda’, está enganado. São 5 bilhões de pessoas que ainda entrarão na internet nos próximos anos”, alertou. Piangers também enfatizou que atualmente se uma determinada marca não entrega quando e como o cliente quer, esse mesmo cliente irá atrás de outra marca que o faça. “Empresas que entregam propósito, com uma comunicação mais moderna, são mais tocantes e inspiradoras”.

Homenagem Aldo Cini

Durante o 29º Congresso Movergs, a entidade prestou uma justa homenagem ao empresário Aldo Cini, fundador da Madesa SA, localizada na cidade de Bom Princípio (RS). Cini foi o primeiro presidente da Movergs, na gestão 1987-1990. Rogério Francio, atual presidente interino da entidade, fez a entrega de uma placa como gratidão pela contribuição, bravura e empreendedorismo em prol do setor moveleiro. Sem dúvida, uma história de vida a ser eternizada como inspiração para as futuras gerações.

Botão Voltar ao topo