Caracterizada pela ingestão exagerada de alimentos, em curtos espaços de tempo, a compulsão alimentar vem se tornando cada vez mais comum devido à pandemia causada pelo novo coronavírus. Nestes dias de isolamento, muitas pessoas têm usado a comida como válvula de escape para o estresse, a ansiedade e o medo.
Retratado pela primeira vez em 1959 e incluso no Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais (DSM) em 1994, esse transtorno alimentar atinge cerca de 2,6% da população mundial, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, 4,7% da população, o dobro da porcentagem mundial, sofre de transtorno alimentar — mais recorrente entre jovens de 14 a 18 anos.
De acordo com o médico da Medicina Integrativa Dr. Lucas Costa Felicíssimo, a compulsão alimentar tem causa multifatorial, mas também costuma surgir a partir de aspectos e sentimentos negativos. “Dessa forma, o indivíduo recorre ao alimento, já que durante a ingestão, há liberação dos hormônios que proporcionam bem-estar e prazer. Porém, depois de se alimentar, a pessoa tende a se sentir culpada pela atitude, o que não a impede de continuar nesse ciclo vicioso”, explica.
Transtornos
Apesar de não serem todos os pacientes que expõem a compulsão como uma maneira de aliviar o estresse e a ansiedade, há evidências de que a compulsão alimentar está relacionada com transtornos psicológicos e de humor.
Dentre os comportamentos comuns que podem denunciar a presença do transtorno segundo o DSM estão: comer rapidamente, comer até se sentir cheio, ingerir grandes quantidades de comida mesmo quando não há fome, preferir comer sozinho por se constranger com a quantidade de comida presente no prato e sentir repulsa de si mesmo, depressão ou culpa após a comer tanto.
“A partir do momento que a pessoa sofre de compulsão alimentar, ela tende a perder o controle da linha entre fome e saciedade e por isso é tão difícil de resistir aos impulsos quando eles surgem”, explana o médico, que aponta que para o diagnóstico da doença, o paciente deve apresentar, pelo menos, um episódio por semana.
Além de ser um problema que afeta a mente e a autoestima, as pessoas que sofrem com compulsão podem ter maior tendência à obesidade, já que o transtorno favorece o ganho de peso, afirma o médico Dr. Lucas Costa Felicíssimo. “O risco de desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes, problemas de sono, infertilidade e dificuldade na hora de interagir com outras pessoas também é maior”, alerta.
Dessa forma, o tratamento é feito à base de medicamentos e também do acompanhamento conjunto entre nutricionista, psiquiatra e psicólogo. “Apoio de amigos e familiares é importante, mas o paciente não deve deixar de procurar ajuda profissional. É uma mudança intensa de hábito que requer um trabalho interdisciplinar para que funcione”, explica Lucas.